segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Zumbis atacam no Multiplex

Planeta Terror relembra velhos filmes de horror – e a experiência de vê-los num cinema ruim

Isabela Boscov

Mortos nos anos 80, primeiro pelo videocassete e depois pelos multiplex, os grindhouses, aqueles velhos cinemas pulguentos de centro da cidade que exibiam filmes sem parar (ótimos para se esconder da chuva, fazer hora ou ver o sexo e o sangue que os estúdios então não mostravam), deixaram pelo menos dois órfãos – Quentin Tarantino e Robert Rodriguez. Desde o início da carreira, quando se tornaram amigos, os diretores vêm tentando recriar em seus filmes as emoções lúbricas que, em garotos, viviam quando se refugiavam nessas salas decrépitas para ver produções baratíssimas sobre gangues de kung fu, ataques de zumbis, assassinos de garotas ou perseguições de carros. Há pouco mais de um ano, eles decidiram que o que faltava às recriações era o seu dado mais básico: a experiência do pulgueiro. O resultado foi Grindhouse, um conjunto de dois filmes, um a cargo de cada diretor, mais trailers de títulos fictícios (como o de Mulheres Lobisomem da S.S.) e um bocado de manipulação da película – que já vem riscada, mastigada e até com rolos faltando, substituídos por um acanhado "aviso da gerência". Lançado nos Estados Unidos como programa duplo, Grindhouse passou longe do sucesso que se esperava. Desde então, a dobradinha foi desmembrada (termo mais do que apropriado, considerando-se o conteúdo dos filmes). Planeta Terror (Planet Terror, Estados Unidos, 2007), o filme de Rodriguez, estréia nesta sexta-feira no país, precedido de só um dos trailers falsos. Prova de Morte, de Tarantino, deve chegar aqui apenas em março.

Planeta Terror é uma clássica fita de quinta categoria sobre zumbis. Um gás letal escapa de uma instalação militar, cobrindo todos nas imediações com pústulas borbulhantes e dando-lhes um insaciável apetite canibal. Convidados especiais como Bruce Willis, Naveen Andrews (o Sayid de Lost) e Michael Biehn (do primeiro Exterminador do Futuro) comparecem com as atuações mais pétreas de que são capazes. Os verdadeiros heróis são interpretados por Freddy Rodríguez, como um sujeito de pontaria infalível, e pela muito interessante Rose McGowan, como uma go-go dancer que, ao ter a perna arrancada por um zumbi, trata de substituí-la por uma metralhadora. Perneteando para lá e para cá e atirando no inimigo com seu cotoco, ela vai encarnar uma personagem atávica do gênero: a da "última garota", a quem caberá não apenas purgar o horror, como reiniciar a humanidade. Por limitações reais e fictícias de orçamento, o planeta do título é a Terra mesmo. Ou melhor, uma porção insignificante dela, em algum cafundó do Texas. Prova de Morte segue a mesma linha: Kurt Russell faz um dublê que usa um carro com motor V-8 para perseguir garotas indefesas. Ou isso pelo menos é o que ele pensa.

Com filmes como Pulp Fiction e a série Spy Kids, Tarantino e Rodriguez fizeram quase que sozinhos a fortuna dos irmãos Harvey e Bob Weinstein, quando estes comandavam a produtora Miramax e sua divisão B, a Dimension. Desde que romperam com sua empresa-mãe, a Disney, os irmãos ainda não conseguiram emplacar nenhuma produção que se comparasse em renda ou em prestígio com as suas investidas anteriores. Grindhouse era sua melhor aposta para este ano. Novamente, não é o caso de julgar o filme pela bilheteria. Pela primeira parte do programa, pode-se imaginar quanto se divertiram os sortudos que o viram na íntegra.

O que, afinal, é grindhouse

Esse é o apelido que se dava às salas de baixa categoria (como drive-ins e pulgueiros) que exibiam filmes sem parar

Por extensão, grindhouse designa também as produções baratíssimas exibidas nesses locais

Um grindhouse legítimo pertence ao gênero exploitation. Ou seja, tem de explorar de forma exagerada temas como sexo, horror, escatologia, zumbis, ninjas ou fetiches variados

As pornochanchadas brasileiras dos anos 70 são um ótimo exemplo de grindhouse, pelo tema e também pela técnica tosca

DE DAR SUSTOS TAMBÉM EM QUEM FAZ

Gênero que mais se recicla, por ser barato e ter público certo nos adolescentes, o terror é também o mais volúvel dos segmentos. Às vezes, parece ter morrido de vez; logo desponta de novo como favorito. O desafio é adivinhar qual dos seus subgêneros estará em voga na próxima maré cheia. Até alguns dias atrás, dava-se como esgotado o filão do sangue e vísceras. O Albergue fora um imenso sucesso. Sua continuação, lançada em junho, morreu na praia. Os apostadores do setor já haviam recolhido suas fichas quando, na segunda-feira, amanheceram com uma notícia inesperada. Jogos Mortais 4, da série que é a grande rival em mau gosto de O Albergue, fez quase 32 milhões de dólares na estréia. Em três anos, a franquia já acumulou 464 milhões, contra um total de 30 milhões gastos na sua confecção. Ou seja, ainda não é hora de aposentar os instrumentos cortantes.

Três coisas podem complicar a carreira de um filme de terror. Planeta Terror ilustra uma delas. Em vez de abraçar sua natureza, o filme trilha uma linha sutil entre a paródia e a homenagem – e a platéia moderna abomina a sutileza. As outras duas falhas estão exemplificadas por 1408, em cartaz no país. Estrelado por John Cusack, o filme junta terror psicológico, fantasmas e mutilações, para ninguém se sentir deixado de fora. Ou seja, não informa ao aficionado de cada corrente se aquela história é para ele ou não. Com 100 milhões de dólares de renda, seria possível imaginar que 1408 não é um fiasco. Isso até que se olhe seu orçamento, de 25 milhões. É aí que ele trai o primeiro mandamento do gênero: na relação custo-benefício, que é um pavor.

Fonte: Revista Veja - http://www.veja.com.br/

Pane no sistema

Nova série da Rede Globo incentiva a improvisação e o absurdo das situações

FRANCISCO ALVES FILHO

SEM NADA O fonoaudiólogo vivido por Selton Mello fica sem cartão e CPF

O noites de sexta-feira da Rede Globo com O sistema, que estréia no dia 2. Desde o fim de Os normais, exibido entre 2001 e 2003, existiram várias tentativas de reabilitar o horário. Depois de Os aspones, Carga pesada, Minha nada mole vida e Antonia, a emissora faz agora mais uma tentativa com a série escrita pelo casal Alexandre Machado e Fernanda Young e estrelada por Selton Mello. O experimentalismo é a marca do programa, que chega com uma aura de inovação. Tanto assim que os atores nem sequer conseguem defini- lo. “Nunca fiz um trabalho tão difícil de explicar”, diz Mello. Ele interpreta o fonoaudiólogo Matias, que, após discutir com uma atendente de telemarketing, descobre não ter mais CPF, cartão de crédito, linha de celular ou direito a energia elétrica. Ou seja, está excluído do sistema do título, contra o qual passa a lutar.

O roteiro absurdo dá inédita liberdade aos atores, pois um terço do programa é improvisado. “Fica uma ‘sujeira’, uma certa espontaneidade, que seria mais difícil de alcançar se não tivesse em prática o jogo da improvisação”, avalia o diretor José Lavigne. O time de atores, completado por Graziella Moreto, Ney Latorraca, Betty Gofman e Maria Alice Vergueiro, que foi hit no You Tube com o vídeo Tapa na pantera, é fera nesse quesito. “O programa é de ação e comédia, tem suspense e também nonsense”, explica a roteirista Fernanda Young. “O humor é usado para falar de assuntos duros.”

Segundo o roteirista Alexandre Machado, a trama de O sistema mistura ficção científica e maluquice

O parceiro Alexandre Machado vai mais longe: “A temática mistura ficção científica com maluquice pura”. Alexandre reconhece que é uma ousadia fazer algo novo num veículo que exige altos índices de audiência. “Repetir o que sempre já foi feito, mudando apenas umas coisinhas é sempre menos arriscado”, diz. Cautelosa, a emissora preferiu testar primeiro os resultados de O sistema: a série será exibida numa temporada de seis episódios.

Fonte: Revista Isto é - http://www.istoe.com.br/

Entrevista: Juliette Lewis

Ela trocou Hollywood pelo rock

A famosa atriz revela por que prefere a música ao cinema e mostra no Brasil a força de sua banda
Por NATÁLIA RANGEL

Juliette Lewis, 34 anos, vem ao Brasil na próxima semana para mostrar o seu lado roqueiro. Ela e sua banda Juliette and the Licks se apresentarão no País depois de cinco anos de estrada. A americana Juliette, "nascida e criada em Los Angeles", é mais conhecida do público como atriz. Atuou em diversos filmes importantes nos quais trabalhou com prestigiados cineastas - ficou famosa, por exemplo, a cena em que, ainda adolescente, é seduzida por Robert De Niro no aterrorizante Cabo do medo, de Martin Scorsese. Ela também estrelou, ao lado de Brad Pitt, o thriller Assassinos por natureza, de Oliver Stone. Juliette, por sinal, teve um longo namoro com Brad, hoje marido de Angelina Jolie. A atriz não se arrepende do tempo dedicado ao cinema mas deixa claro que gosta mesmo é de música. E de rock. Acaba de lançar o álbum Four on for floor (gravadora ST2) que tem a participação do baterista Dave Grohl, líder do Foo Fighters e ex-Nirvana. De Los Angeles, durante uma folga em sua longa turnê, Juliette falou, por telefone, a
ISTOÉ:

ISTOÉ - Há quanto tempo está em turnê?
Juliette Lewis - Estamos na estrada há um ano e dois meses, viajamos pela Europa, pelos EUA e agora faremos alguns países da América Latina. Mas hoje (quarta-feira 17) estou de folga em Los Angeles, minha cidade. Nasci e me criei por aqui.

ISTOÉ - E foi por aí também que começou logo cedo no cinema?
Juliette - É verdade. Fiz testes e comecei fazendo uns seriados meio trash. Mas logo consegui bons papéis e me deslumbrei com o mundo do cinema. Antes eu já fazia música e sabia que voltaria a trabalhar com isso.

ISTOÉ - E como é trabalhar em Hollywood?
Juliette - Eu adoro cinema. Quando estou escrevendo música, cenas de grandes filmes me vêm à cabeça o tempo todo. Mas você fica um pouco refém da indústria cinematográfica quando trabalha como atriz. Não consegue mais organizar a sua própria agenda e fica encastelada em sets de filmagem. Eu adoro o contato com o público, me traz uma energia poderosa.

ISTOÉ - E como surgiu a banda?
Juliette - Eu tinha medo de montar a minha banda. Sabia que quando começasse a montá-la, isso me tomaria por completo. Desperdicei muito tempo fazendo bobagens antes de tomar a decisão.

ISTOÉ - Que tipo de bobagens?
Juliette - Exagerando no álcool, em drogas em geral, badalando muito. Mas sobrevivi. Acho que aprendi a colocar a minha energia nas coisas certas: a música que fazemos é urgente, perigosa e se propõe a divertir.

ISTOÉ - Foi difícil tomar a decisão de criar o grupo Juliette and the Licks?
Juliette - Eu fiquei muito intimidada no início. Não tinha ainda um ponto de vista do que eu queria. Não sou a guitarrista da banda e era minha responsabilidade achar os músicos, nos inspirarmos mutuamente para começar um trabalho juntos com uma identidade musical. E eu acho que quatro anos depois a gente chegou lá e eu gosto do resultado.

ISTOÉ - O que você acha da decisão do Radiohead de colocar o seu novo CD, In rainbows, diretamente à venda na internet na forma de download e dar a opção aos fãs de pagar o quanto quiserem?
Juliette - Eu estou muito ansiosa em saber como as pessoas vão reagir a isso. É uma experiência muito interessante e moderna. E que só pode ser feita por uma banda que já tem diversos discos lançados, dinheiro e muito sucesso. Eu não acho que uma banda iniciante possa fazer isso. Na verdade, não estou certa. Talvez funcione. Eu sou uma pessoa que compra CDs. Não gosto de ouvir músicas no computador.

ISTOÉ - Onde você guarda as suas músicas favoritas?
Juliette - Eu tenho um iPod, mas até hoje não passei as músicas para ele. Viajei toda a turnê com diversos cases cheios de CDs. A verdade é que computadores dão pau, uma ou outra vez isso acontece. E eu não quero correr o risco de perder todas as minhas músicas.

ISTOÉ - Você toca guitarra?
Juliette - Toco mal. A guitarra me assusta. Os dedos se prendem nas cordas, eu me enrolo toda. Sou muito impaciente. Eu toco piano desde criança e, nesse inverno, quando teremos um tempo livre, vou compor para o nosso próximo disco.

ISTOÉ - No seu novo disco você está pintada e vestida com trajes indígenas. Qual a idéia?
Juliette - Não é nada político, não estou engajada na defesa das populações indígenas. Na verdade, eu admiro a cultura dos bravos guerreiros indígenas e sou fisicamente tão pequena que gosto de me imaginar uma brava guerreira. E a cultura dos povos indígenas é marcada pelo espírito de liberdade, o que acho que me acompanha a vida inteira, especialmente nessa minha decisão de seguir a jornada musical.

"Brad Pitt já foi meu marido, trabalhamos juntos em Assassinos por natureza. Ele é um dos atores que apóiam meu lado musical"

ISTOÉ - E o público? Tem sido receptivo com o seu trabalho?
Juliette - Sinto que sim. Em Londres, há três anos, nós tocávamos para 100 pessoas em pequenos clubes, e hoje voltamos e reunimos 25 mil num estádio. É uma experiência poderosa. Escrever uma música, tocar e sentir pessoalmente isso tudo. É muito poderoso, sinto que achei o lugar certo para estar na vida.

ISTOÉ - Você sente que há algum preconceito pelo fato de você ter vindo do cinema?
Juliette - Entre os músicos não sinto tanto, recebi e ainda recebo a colaboração de muitas pessoas. Mas sei que há críticos que não darão o devido valor ao meu disco por esse motivo.

ISTOÉ - E quais artistas colaboraram na sua carreira musical?
Juliette - O Dave Grohl, do Foo Fighters, toca bateria em todas as faixas do meu novo CD. A P.J. Harvey me emprestou uma canção e eu fiz uma regravação dela (Hardly wait) no meu disco anterior. E sabe como eu aproximo o cinema da música? Eu já gravei trilhas sonoras de cinema. É o caso dessa música. Faz parte da trilha do filme Estranhos prazeres. Mas muitas pessoas colaboraram, inclusive pessoas do cinema, Martin Scorsese, Brad Pitt, muitas pessoas me deram apoio, já foram aos shows.

ISTOÉ - O que você imagina do futuro da música na era digital?
Juliette - Acho que com a internet e as gravadoras perdendo o poder que tinham, o caminho serão os shows. Eu acho que caminha para isso. Sair sempre em turnê e ter uma conexão maior com as pessoas. Muitas pessoas, talvez, não vão dar o valor que mereço por eu ter vindo do cinema, ser uma estranha aqui. Mas essa é a realidade.

ISTOÉ - O que você ouve e admira?
Juliette - Eu adoro os experimentalismos feitos por Nico e John Cage nas décadas de 60 e 70. Nico é inspiradora. Na cena atual, amo Björk, Queen of the Stone Age, Foo Fighters. Acho que são pessoas que estão criando outros sons, investigando e trazendo novidades para a cena musical. Amo tudo que emocione, crie uma imagem ou deixe a mente livre.

ISTOÉ - Musicalmente, o que você ouviu recentemente que mais a impressionou?
Juliette - Talvez uma jam session informal de John Frusciante, do Red Hot Chilli Peppers. Ele estava deitado enquanto fazia milhares de experimentalismos, produzindo sons barulhentos com guitarras. A ponto de deixar qualquer pessoa enlouquecida. E na seqüência, ele mandava outro som, realmente bonito. Quando você assiste ao show, percebe como essa alternância de sons e ritmos é poderosa.

ISTOÉ - Você está feliz?
Juliette - Eu tenho 34 anos, sou uma mulher de verdade agora. Às vezes não acredito que cresci.

ISTOÉ - Por quê?
Juliette - Comecei a trabalhar tão criança, era sempre a mais nova, precoce. E, de repente, virei protagonista. Minha geração já está sendo superada por outras que estão chegando por aí.

ISTOÉ - Você pensa em voltar ao cinema?
Juliette - Sei que farei um filme algum dia. Mas não sinto necessidade de fazer um filme só para fazer um filme. Quero trabalhar com pessoas que estejam tentando quebrar regras e fazendo algo novo em cinema. Gosto do Lars Von Trier, do Dogma (movimento cinematográfico que prega a desglamourização), de Quentin Tarantino.

ISTOÉ - Você é casada?
Juliette - Não. Fui casada até cinco anos atrás e hoje somos ótimos amigos. Eu quero alguém que me mantenha aquecida durante a noite. Mas não agora.
"Adoro as experiências musicais feitas por Nico nos anos 60 e 70. É nela que eu continuo me inspirando"

ISTOÉ - Vai passar muitos dias no Brasil?
Juliette - Não teremos tempo este ano. É uma pena porque seria incrível encontrar músicos brasileiros depois do show. Tocar instrumentos e cantar. É incrível como é possível aproximar as pessoas através da música. Não precisa do idioma, nada, porque já existe uma linguagem.

ISTOÉ - O que você mais gosta nesse disco?
Juliette - Eu adoro a mistura de estilos que ele faz. As canções são muito diferentes entre si. Adoro Inside the cage, é uma das minhas favoritas. Estou orgulhosa desse CD.

ISTOÉ - Como o cinema interfere na sua música e vice-versa?
Juliette - Quando estou compondo sempre me lembro de uma cena, de rostos e lugares onde fui para realizar as filmagens. E é muito bom poder trabalhar com ambas as artes, duas áreas criativas. Eu gosto de misturar linguagens estrangeiras. Também participei de videoclipes, como Come to my window, de Melissa Etheridge.

ISTOÉ - Conhece alguma coisa da cultura brasileira?
Juliette - O Carnaval. Sei que tem algumas partes do País em que há bastante misticismo e diversidade musical. E que tem muito sol. Já ouvi tanta gente dizer que o Brasil tem a melhor música do mundo que estou ansiosa para conhecer mais. Quero conhecer a Bahia, pesquisar sons e percussão.

ISTOÉ - O que espera do show por aqui?
Juliette - É lindo que eu esteja indo para aí nesse momento. Quando decidir formar a banda há quatro anos, logo quis sair em turnê. E o meu empresário, organizando a primeira agenda de shows nos EUA, ainda não tinha nem um disco, e ele me perguntou que cidades eu gostaria de incluir. Eu, para mostrar que tinha grandes planos para a banda e que queria ir realmente longe com ela, disse para ele, coloque aí o Brasil, não sei qual cidade, mas quero ir ao Brasil. O seu país veio à minha cabeça do nada, eu jamais o tinha visitado. Bom, demorou um pouco, mas na semana que vem estarei aí.

Ligeiramente virgens

Fonte: Revista Veja - 22/10/07

Judd Apatow e Seth Rogen, de Ligeiramente Grávidos, invertem os sinais da comédia adolescente em Superbad

Isabela Boscov

Três adolescentes, a duas semanas de terminar o 2º grau, compreensivelmente começam a se desesperar com a perspectiva de chegar invictos ao fim de seu último ano letivo. Dois deles têm em vista candidatas com as quais gostariam de inaugurar sua vida sexual; o terceiro acaba de fazer uma carteira de identidade falsa. Se ela passar pelo crivo dos balconistas de lojas de conveniência, eles terão acesso a vodca e cerveja. Tem-se então uma equação perfeita: se na festa daquela noite (a primeira, em toda a sua carreira escolar, para a qual foram convidados) eles conseguirem embebedar as meninas, é possível que, com a visão turvada pelo álcool, elas acabem na cama com eles. "Mulheres embriagadas erram. Nós podemos ser esse erro!", sonha o rechonchudo Seth (Jonah Hill), tentando persuadir seu melhor amigo, o certinho Evan (Michael Cera), a sonhar junto com ele. Seth, Evan e Fogell – que na carteira falsa aparece com o patético nome de McLovin – embarcam, então, naquela saga de tantas outras comédias estudantis americanas. Como nelas todas, o périplo dos personagens de Superbad – É Hoje (Superbad, Estados Unidos, 2007), desde sexta-feira em cartaz no país, começa em função do desespero, e de miragens de bebida e sexo. Mas termina no extremo oposto do habitual no gênero.

Todas as razões pelas quais Superbad é tão igual e tão diferente convergem nos seus realizadores – Judd Apatow e Seth Rogen, diretor e ator de Ligeiramente Grávidos, que aqui ocupam as funções de produtor e co-roteirista. (Rogen, além disso, interpreta um policial que só conseguiria esse posto em caso de extinção, por doença ou hecatombe, de todos os homens em idade de recrutamento.) De novo mesclando obscenidade e meiguice de maneiras improváveis, eles expõem em detalhes excruciantes o assanhamento de seus personagens. Seth, em especial, é incapaz de dizer uma única frase ou fazer um único gesto que não contenha uma baixaria – quase sempre são muitas ao mesmo tempo. Mas Apatow e Rogen são também homens o bastante para assumir sem nenhuma reserva que, se os hormônios ditam, os sentimentos é que inspiram. Nenhum dos três protagonistas recusaria um avanço de um espécime feminino qualquer. Mas trabalham, no limite de seus recursos, para que esse avanço venha das meninas em que fixaram sua atenção – as quais, além dos atrativos óbvios, têm outros mais intangíveis e decisivos. Por exemplo, vivacidade, generosidade e perspicácia para compreender que, embora Seth e Evan às vezes ajam como maníacos, não pode haver nada de tão errado assim com dois sujeitos que são amigos tão leais um para com o outro.

Esse, enfim, é o ponto a que Apatow e Rogen querem chegar. Na primeira cena do filme, Seth e Evan reviram os olhos e falam grosso para disfarçar seu constrangimento intenso quando alguém sugere que eles sentirão falta um do outro, por estarem indo para faculdades diferentes. Na cena final, eles se dão conta de que, sejam quais forem os ganhos da noite anterior, eles cobrarão uma perda: a de uma amizade indivisível e incondicional, como só na adolescência se experimenta. Qualquer pessoa do ramo sabe que não há negócio mais traiçoeiro do que o humor; de um dia para outro pode-se passar de rei da comédia a piada de mau gosto – e os irmãos Farrelly, que dominaram o território por anos depois de Quem Vai Ficar com Mary?, acabam de atestar essa máxima com o fiasco de Antes Só do que Mal Casado. Não é impossível que, daqui a dois ou três filmes, Apatow e sua trupe se vejam em situação semelhante de desfavor. Mas, neste momento, eles estão em completa sintonia com seu público. Porque são engraçados, sem dúvida. Mas mais ainda pela clareza e pelo desarme de sua visão.

As mulheres de Babenco

Fonte: Revista Isto é - 22/10/07

O cineasta Hector Babenco abandona a miséria e a violência urbana e aborda o universo feminino em O passado, uma de suas obras mais pessoais

IVAN CLAUDIO

MATRIARCADO Para Babenco, o argentino quer ter a mãe no poder político e gosta de santificá-la

O cineasta Hector Babenco não suporta mais a violência no País. Dia desses, a caminho da estréia da peça Salmo 91, baseada no mesmo livro de Drauzio Varella que deu origem ao filme Carandiru, ele teve um ataque de pânico e largou o carro no túnel do Anhangabaú, no centro de São Paulo. O diretor de Lúcio Flávio, o passageiro da agonia e Pixote, a lei do mais fraco não quer mais abordar assuntos desse gênero: “Estou há 20 anos mergulhado nesse universo, não consigo mais visitá-lo. É como alguém que teve intoxicação comendo um peixe podre e não consegue mais ver peixe na sua frente.” Seu mais recente filme, O passado, que estréia no Brasil no dia 26, volta as costas para a violência urbana. Fala, no entanto, de outra violência: a das relações amorosas.

Baseado no romance homônimo do argentino Alan Pauls, O passado acompanha a trajetória de Rimini (Gael García Bernal), um jovem tradutor que entra em crise depois de romances devastadores com três mulheres. Também pudera: as mulheres dos filmes de Babenco estão sempre alguns graus fora da normalidade. A primeira delas é Sofia (Analía Couceyro), com quem Rimini fica casado por 12 anos. Quando se separam, ela aceita civilizadamente a perda, mas continua presa ao ex-marido de forma obsessiva. A segunda é Vera (Moro Anghileri), uma modelo belíssima, mas ciumenta em igual medida. Numa das cenas, ao ver Rimini falar com uma menina, o agride imaginando o seu envolvimento em sedução e pedofilia.

A mais estável delas é Carmen (Ana Celentano), tradutora como Rimini, com quem ele tem um filho. A felicidade de Rimini dura pouco porque, à distância, Sofia não suporta ser esquecida. Vera acaba sendo atropelada e morre. Recuperado da perda, Rimini está agora com Carmen, mas Sofia, num surto psicótico, seqüestra o filho do casal, causando a separação. É um golpe fatal na frágil estrutura emocional do personagem. “Sofia não é louca, ela simplesmente enlouquece. É uma Medéia, o arquétipo máximo da mulher que é fiel ao seu amor até o fim”, diz Babenco, referindo-se à personagem da tragédia grega.

A tese de O passado é que as pessoas não se separam, se abandonam. E que o amor não acaba, ele continua reverberando na vida dos ex-amantes: “Fui casado três vezes, cada relação durou 15 anos. Esquecer uma mulher que te deu um filho é impossível. Só se você for um patife.” A princípio, o cineasta pensou em filmar essa história em São Paulo, mas chegou à conclusão de que não daria certo – não pelo clima de violência, mas porque os personagens não se aclimatavam bem ao País. Quanto mais mergulhava na história, mais se via na Argentina de sua adolescência. Decidiu então rodar o filme em Buenos Aires, facilitado pela entrada de capital portenho na produção.

Babenco garante que o filme não tem nada de autobiográfico. “Minha única relação de amor na Argentina foi com aquela maluquinha mostrada em Coração iluminado, que me deixou marcado por toda a vida”, afirma ele. “Isso sem falar do amor que temos pela mãe, que é muito controverso.” Ele descobriu o livro de Alan Pauls justamente numa viagem a Buenos Aires para visitar a mãe doente, mas ainda não se deu conta se a presença dela pairou sobre a história dessas mulheres hiperpossessivas. Sobre o matriarcado argentino que une Evita, Isabelita e agora Cristina Kirchner, ele arrisca uma psicanálise: “Só mesmo a falta da figura materna explica essa desejo do argentino de querer ter a mãe no poder. É uma vocação esquisita, de adorar a mulher como se fosse uma santa.” A Argentina também é um amor que não acaba na sua carreira de dez filmes: Babenco recorreu a três escritores daquele país para criar suas histórias.

Lelouch e a arte que simplifica o complicado

Diretor francês, homenageado da Mostra, fala de vida, cinema, atores e de seu novo filme, o ótimo Crimes de Autor

Luiz Carlos Merten

Em 47 anos de carreira, Claude Lelouch realizou 41 filmes, praticamente um por ano. O primeiro, Le Propre de l'Homme, é de 1966, mas foi com o sexto, em 1966, que ele recebeu dois dos mais cobiçados prêmios do mundo (os mais?) - a Palma de Ouro do Festival de Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro da Academia de Hollywood, outorgados a Um Homem, Uma Mulher. Desde então, Lelouch virou um grande nome do cinema mundial, mas não uma unanimidade. A crítica francesa colou-lhe um rótulo - o de 'industrial do amadorismo'. Cahiers du Cinéma despreza seu cinema. Ele retribui - diz que a revista e a nouvelle vague (com as exceções de François Truffaut e Jacques Demy) fizeram muito mal ao cinema francês.

Mostra Lelouch é um sujeito muito simpático, que está completando 70 anos em 2007. Na sexta, ele concedeu a entrevista que você vai ler, no bar do Hotel Crowne Plaza. No sábado pela manhã, foi passear na Av. Paulista. À tarde, após a sessão de seu novo filme, Roman de Gare - que recebeu o título de Crimes de Autor -, participou de um bate-papo na Faap. Havia muita gente para ver (e ouvir) Lelouch, mas havia ainda mais gente à espera do filme de Gael García Bernal, que também discutiu sua estréia na direção, com Déficit, exibido horas mais tarde.

Crimes de Autor é um 'polar', como dizem os franceses - um policial. Mas talvez não se deva defini-lo somente assim, porque tem momentos de romance, de comédia, de musical. Lelouch adora a mélange (mistura) de gêneros. Deve ser um de seus problemas com os críticos, ele acha - 'Eles não gostam.' Crimes de Autor começa como um flash-back. Fanny Ardant é esta famosa autora de best-sellers policiais que está sendo acusada de haver matado seu 'ghost writer', o cara que realmente escrevia seus livros. A trama dá muitas reviravoltas, é cheia de pistas falsas. 'Foi um dos roteiros mais trabalhosos que escrevi', admite o diretor. Crimes de Autor começou a ser gestado há 15 anos, quando Lelouch teve a primeira idéia. Ele a maturou durante muito tempo. A feitura do filme, propriamente dita, foi rápida - um ano para tudo, roteiro (o período mais longo), realização e montagem.

Quase 50 anos de carreira, 41 filmes, muitos prêmios. O que Lelouch aprendeu sobre a vida neste período? 'Aprendi que a vida é feita de alegrias e tristezas, de bons e maus momentos, e que se deve simplificar as coisas complicadas.' Ele está falando da vida, mas está dando uma definição de cinema - o seu cinema. 'Cada um desses 41 filmes me dá a impressão de haver sido o primeiro. Fazer um filme é como ir à escola. Aprendo sempre. Sou o contrário de um intelectual, que ama complicar as coisas simples.' Desde que fez Um Homem, Uma Mulher, ele acredita em milagres. 'O próprio filme foi um milagre. Fiz sem dinheiro, em condições precárias, apoiado no entusiasmo da equipe. Além dos prêmios que recebeu, Um Homem, Uma Mulher estourou em todo o mundo.' Quando terminaram a filmagem do original, os atores Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée e ele combinaram - se estivessem vivos dali a 20 anos, voltariam aos personagens, para saber o que havia ocorrido com eles.' Em 1986, fizeram Um Homem, Uma Mulher - 20 Anos Depois, mas a repercussão, desta vez, foi mínima.

O amor é o tema dominante da obra de Claude Chabrol, mas ele fez filmes como Retratos da Vida, que cobrem décadas da vida de seus personagens, atravessando a guerra. 'Foi um filme que fiz inspirado nas histórias que meus pais me contavam sobre a Resistência. Em todos os meus filmes, falo sempre de pessoas que conheci, ou com quem cruzei', confessa. Por que o 'polar'? 'Porque é um gênero muito rico e popular. Porque a idéia do crime perfeito é atraente. Quem nunca pensou em matar alguém?' Sobre crime perfeito, ele acrescenta - 'O maior serial killer de todos é Deus, que vive cometendo o crime perfeito.'

A partir do chabadá romântico de Um Homem, Uma Mulher, a música é sempre importante no cinema de Lelouch. 'Trato-a como se fosse uma personagem', ele explica. Quase sempre a música é composta antes e ele já trabalha as cenas com os atores tendo a música de fundo. Por que Gilbert Bécaud em Crimes de Autor? 'Porque é um dos grandes da música francesa e, infelizmente, está um pouco esquecido.' Crimes de Autor repete, no fim, até certo, a mais bela cena do cinema de Lelouch. No desfecho de Viver por Viver, de 1967, Annie Girardot espera a chegada de um avião. Ela não sabe se Yves Montand virá nele. O que se passa no rosto da atriz é algo notável. Annie, a Nádia de Rocco e Seus Irmãos, é uma grande atriz, mas Lelouch fez sua parte - ele nunca lhe disse se Montand desceria ou não daquele avião. Brincar de Deus, jogando com as emoções humanas (e dos atores), também é uma das atribuições do diretor. Ah, sim. Por que ele escolheu Fanny Ardant para Crimes de Autor? 'Porque precisava de uma atriz carismática para fazer uma mulher que não é simpática.'

O sonho acordado de David Lynch

Cineasta propõe viagem sensorial e deixa que o arranjo de sentidos seja construído pelo próprio espectador

Luiz Zanin Oricchio

Hoje é a última chance para ver Império dos Sonhos, de David Lynch. A recomendação tem de vir acompanhada de um aviso: não se trata de filme para todos os gostos. À parte a obviedade dessa observação, deve-se lembrar que Lynch é um experimentador. Joga com a narrativa, com as relações lógicas entre acontecimentos e personagens, e também com a textura do filme. Muitos fãs de Lynch estranham que Império dos Sonhos tenha sido feito em digital, o que limita a possibilidade da paleta de cores possível com uma película de 35 milímetros. Mas, vamos nos recordar que esse tipo de pesquisa com vídeo começou lá atrás, em 1980, com o Antonioni de O Mistério de Oberwald. Não chega a ser novidade. Nem chega a ser nova a constatação de que o trabalho com o digital fecha algumas possibilidades e abre outras. São opções. Tanto assim que o próprio Lynch já declarou que não pretende mais filmar com película, tamanha a liberdade que experimentou com o digital.

Dito isso, e o filme? Bem, o que se pode antecipar é que Lynch propõe uma viagem sensorial, na qual importa o sentido (quer dizer, a direção) mas nem tanto o significado. Isso quer dizer que será virtualmente impossível se comportar diante desse 'objeto' como fazemos quando alguém nos pede para dizer de que determinado filme 'fala' e então nos pomos a contar uma historinha: aconteceu tal e tal coisa, este personagem se apaixona por outro e entra em antagonismo com um terceiro, etc. Nada disso. O filme é como uma instalação; ele nos propõe coisas, e ao contrário das artes visuais, é diacrônico, caminha em determinada direção, mas deixa que o arranjo dos sentidos possíveis seja construído pelo próprio espectador. Essa é a proposta. Tanto assim que, nas entrevistas concedidas no Festival de Veneza, no ano passado, Lynch se mostrou muito lacônico. Se alguém lhe propunha uma interpretação, qualquer uma, ele dizia que estava certa. Se outra pessoa levantava hipótese contrária, ele respondia que também era possível. Nesse momento, o autor desaparece como intérprete da própria obra.

Cabe a nós, portanto, decifrá-la. E, sobretudo, deixarmo-nos levar, nessa viagem fascinante de três horas, por labirintos que são os do sonho ou do próprio inconsciente. Visto sem as amarras da razão, isto é, de nossas expectativas prévias, ele pode ser estimulante, engraçado, irônico, inteligente e, sobretudo, surpreendente - como um objeto surrealista. Sabemos que há uma atriz (Laura Dern), que deve fazer um filme (Império dos Sonhos é também metacinema), mas que esse é um projeto maldito. O que se sugere de Hollywood, esse império interior, é bastante corrosivo. E o que significam esses personagens com máscaras de coelhos que surgem num palco a cada instante? O que você quiser, caro espectador.

Se, apesar de tudo o que se disse de Lynch, a sua praia for outra, dá para recomendar o muito mais linear A Arte das Lágrimas, do dinamarquês Peter Schonau (Memorial da América Latina, 20h40). É um filme que começa como comédia e vai sutilmente mudando de rumo no meio do caminho até se transformar em drama familiar dos mais cabeludos. Como só os nórdicos parecem ter coragem de fazer.

Serviço Unibanco Arteplex 1: Hoje, 20h10. Cotação: Ótimo

Joe Wright reinventa o desejo de reparação de Ian McEwan

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 22/10/07

Filme com a musa do diretor, Keyra Knightley, acrescenta à discussão sobre literatura uma outra, sobre o próprio cinema

Joe Wright acaba de dirigir um comercial milionário da marca Chanel. Keira Knightley é a estrela. Está linda, num longo de seda que mapeia seu corpo. Keira está em Desejo e Reparação, que Wright adaptou do romance de Ian McEwan - editado no Brasil somente como Reparação -, e também em Orgulho e Preconceito, que ele havia adaptado de Jane Austen. Prepare-se para um dos choques desta Mostra, como O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, de Andrew Dominik, e Sombras de Goya, de Milos Forman. Os três tratam da ambivalência humana e discutem arte e vida. A literatura e o cinema em Desejo; o teatro, no Assassinato: e a pintura em Goya.

Pode-se gostar do filme de Joe Wright exatamente pelo que muitos críticos contestam nele - o excesso. Na sessão para a imprensa, sábado de manhã, havia gente reclamando, gente que em geral leu o livro e acha que o diretor carrega nos excessos melodramáticos na segunda parte. A chave para se entender Desejo e Reparação está naquela praia, durante a guerra. O diretor constrói um plano-seqüência que parece puro virtuosismo técnico, mas propõe algo mais. Sua idéia é que a guerra é este limite, não apenas para os indivíduos, mas para as sociedades.

A sociedade britânica de Desejo e Reparação parece aquela filmada por Joseph Losey - baseia-se no embate entre as classes sociais. Muito da tragédia que ocorre no filme - uma menina de 13 anos interpreta mal o que viu e, baseada nos seus preconceitos (e eles também são ditados pelo desejo ), condena um homem num caso de estupro. Este homem ocorre ser de uma classe inferior e também de ser o amado de sua irmã. Ele sofre o Diabo. Na cena da praia, devorado pela febre, o herói busca água e vai parar num cinema, reduzido a um nada diante da tela gigante que mostra Michèle Morgan e Jean Gabin em Cais das Sombras, de Marcel Carné, de 1938.

Será a arte, o cinema, maior que a vida? É esta a idéia que está em discussão em Desejo e Reparação. No livro, é a literatura, e Joe Wright mantém a discussão, com a entrada em cena de Vanessa Redgrave, para uma participação memorável, que só uma atriz como ela pode proporcionar. Mas à discussão sobre literatura, que é a do livro, ele soma essa outra sobre o cinema. Van Gogh disse, num carta ao irmão Theo, que pintava para consolar. Esse consolo tem aqui outro nome, reparação. Desejo e reparação. Desejo DE reparação. Keira, não é preciso nem dizer, é maravilhosa.

(SERVIÇO)
Serviço Cinemark ShoppingEldorado, sala 7: Hoje, 22 horas. IG Cine: quarta, dia 24, 19 horas. Reserva Cultural, dia 1.º, 16h10.Cotação: Ótimo

sábado, 20 de outubro de 2007

E a pequena Miss Sunshine ficou mais velha

Filme completa um ano em cartaz neste fim de semana

Luiz Carlos Merten

Embora o fato não seja novo, ocorre cada vez com menos freqüência. A rotatividade dos lançamentos e a sobrevida que muitos títulos ganham no mercado de DVD praticamente eliminam as chances de que um filme permaneça muito tempo em cartaz. O último caso recente havia sido 2046, de Wong Kar-wai, que ficou um tempão no HSBC Belas Artes. No mesmo espaço, outro filme completa um ano em cartaz neste fim de semana. É A Pequena Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris. Parabéns!

Mais do que assinalar o fato como algo pouco freqüente no mercado brasileiro (e até internacional), pode-se procurar entender os motivos que fizeram com que Miss Sunshine virasse o que os norte-americanos chamam de ‘sleeper’, um filme cujo sucesso colhe todo mundo de surpresa. Os críticos gostaram de Miss Sunshine - os adjetivos variaram de ‘simpático’ à classificação ‘excelente’ -, mas foi o público, com o boca a boca, que selou a consagração. Claro que ajudou a indicação do filme para o Oscar da Academia de Hollywood. É verdade que os acadêmicos preferiram premiar o Martin Scorsese de Os Infiltrados - mais cinemão, é impossível -, mas a exposição que esse filme pequeno, independente, ganhou na mídia bastou para que todo mundo soubesse da existência de Miss Sunshine.

Dayton e Valerie são estreantes. Vieram da TV, onde faziam comerciais. Nada mais na contramão do consumismo do que esta história sobre uma família disfuncional que cai na estrada. De perto, ninguém é normal, mas a família reunida na van de Miss Sunshine parece sob medida para compor um pequeno retrato do bestiário da classe média dos EUA. O pai, a mãe, os filhos, o avô, o tio enrustido - cada um tem seu problema especifico, mas todos estão a bordo, coexistindo como grupo e unidos em torno do mesmo objetivo. A Miss Sunshine do título é essa menina de 7 anos, sem gracinha - mas a atriz Abigail Breslin é graciosíssima -, que sonha vencer um concurso de beleza para crianças. A família atravessa os EUA, da Califórnia à Flórida. Quando chegam ao local do concurso, a menina não se enquadra no modelito das demais concorrentes. Impulsionada pelo avô, ela põe para quebrar.

Um pouco antes de Miss Sunshine, o diretor argentino Pablo Trapero havia feito outro filme legal, sobre outra família disfuncional na estrada, mas o público nem de longe fez de Família Rodante um grande sucesso. O segredo de Jonathan Dayton e Valerie Faris está na empatia que eles conseguiram estabelecer com as platéias - no plural, já que o filme fez aquilo que se chama de ‘cross-over’, agradando a diversas faixas de espectadores. A viagem é transformadora para todos os personagens, o elenco (Greg Kinnear, Toni Collette, Steve Carrell, Alan Arkin)é perfeito, o desfecho é, como se diz, ‘ultrajante’, além de muito divertido. Miss Sunshine ganhou dois Oscars - melhor roteiro original, do estreante Michael Arndt, e melhor coadjuvante (Arkin). Um jovem e um veterano. Diferentes gerações, celebrando um filme também diferente.

(SERVIÇO)Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, EUA/ 2006, 101 min.) - Dir. Jonathan Dayton e Valerie Faris. 14 anos. HSBC Belas Artes 6 - 14h30. Cotação: Ótimo

'Capitão Fábio' abre boteco em Perdizes

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 20/10/07

Ator de ‘Tropa de Elite’, Milhem Cortaz aproveita popularidade

Sérgio Duran

Ninguém sabe direito qual é o destino final do capitão Fábio no filme Tropa de Elite, de José Padilha, depois do “pede pra sair”. Pois bem, ele virou dono de boteco e inaugura hoje uma modesta casa em Perdizes, na zona oeste de São Paulo. Brincadeiras à parte, o ator Milhem Cortaz, de 34 anos, diz nunca ter gozado de tamanha popularidade quanto agora, com o filme em cartaz. “O Tropa foi, para mim, uma espécie de novela das oito da Globo.”

Cortaz discorda das críticas de que o filme seja fascista, de que defenda o Estado policial ou ainda que seja uma narrativa do ponto de vista dos policiais. “É um dos filmes mais sinceros e cidadãos que eu já fiz”, afirma. “Faz a gente ver o nosso ridículo. Quem não encontra um preto na rua à noite e muda de calçada? Bem lá no fundo, todo mundo é reacionário. É bom que as coisas estão ficando mais claras nessa discussão.”

Para o ator, a formação de documentarista de Padilha colaborou para a construção de “um filme vital” para o Brasil neste momento. “De repente tudo conspirou a favor, até o assalto ao Luciano Huck”, considera. “O que escreveram depois, me desculpe, foi nada a ver. Só porque o cidadão ganhou dinheiro na vida passou a merecer ser assaltado?”, questiona.

Cortaz é um ator produtivo no cinema. Antes do capitão Fábio, interpretou o matador Peixeira em Carandiru, de Hector Babenco, papel que rendeu, em suas palavras, o respeito da classe artística. “Mas foi o capitão Fábio que me deu popularidade”, conta. Em sua opinião, o militar que interpretou é um homem “do bem”, apesar de cobrar propina para proteger comércios e de explorar a prostituição em Copacabana (zona sul do Rio), entre outras atividades paralelas. “Esses esquemas são completamente naturais para ele”, explica. “Porém quando os outros dois companheiros pegam o dinheiro do jogo do bicho e deixam o comandante furioso, ele não entrega os amigos. Ele assume a culpa”, analisa.

Tropa é o 31º filme da carreira de Cortaz. Há pelo menos outras três produções para estrear, entre as quais Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins, no qual figura até José Celso Martinez Corrêa.

O Cortás Pastéis - Espetos (Avenida Professor Alfonso Bovero, 584), conta, é um projeto familiar. Ele montou o negócio, na verdade, para o pai, Milhem Cortás Neto, de 65 anos, comerciante aposentado que durante décadas foi proprietário de uma lanchonete, ao lado da Estação Vergueiro do Metrô. Chamava-se Tinho e tinha como quitute mais famoso do cardápio o pão de queijo. No boteco que inauguram hoje, eles investirão em espetinho, pastel de feira e cachaça. “Será um boteco tradicional mesmo. Eu sempre adorei boteco, desses bem toscos, simples mesmo. Também sempre adorei cachaça. Não bebo cerveja”, conta Cortaz, que tem ascendência árabe e italiana, estudou no Teatro Piccolo de Milão na década de 80 e é um velho conhecido dos palcos paulistanos.
A todos os amigos ele pediu que levem um prato de casa para a inauguração do bar. No futuro, quando o cliente se tornar assíduo, terá direito a deixar um prato no boteco e a pedi-lo toda vez em que visitá-lo. Será uma forma de fazer com que todos se sintam em casa quando estiverem no boteco. “Aqui será um espaço da minha família, de amigos e parceiros”, diz. “Essa foi a maior vantagem de abrir esse bar. Nos últimos seis meses, conversei mais com o meu pai do que nos últimos seis anos. Montei isso aqui para ficar mais perto dele.”

Quatro vezes o talento de Gael

Data: 20/10/07

Ator, diretor e produtor fala sobre filmes, diretores, mulheres e amor

Luiz Carlos Merten

Quem leu, anteontem, a entrevista de Hector Babenco na abertura da 31ª Mostra Internacional de Cinema talvez se surpreenda ao saber que Gael García Bernal desmente seu diretor em O Passado. Babenco disse que após a filmagem, ao levar Gael para o aeroporto, perguntou-lhe por que quis fazer o papel. Gael teria respondido que era filho de pais separados, não falava (nem via) o pai há anos quando ele ressurgiu em sua vida e o levou ao cinema. O filme era Pixote. “Hector não me levou ao aeroporto. E eu vi Pixote em Londres, quando lá estudava, aos 16 anos”, ele conta. A pergunta vem, inevitável - se não foi como Babenco conta, por que ele quis fazer O Passado? “Em primeiro lugar porque tinha muita vontade (ganas) de trabalhar com Hector. E gostei do roteiro, que despertou em mim a vontade de fazer um filme de amor, coisa que não fazia há tempos.” A versão do diretor é tão bonita - apesar da sinceridade de Gael - que dá vontade de lembrar John Ford. Print the Legend, dizia o mestre no desfecho de O Homem Que Matou o Facínora, um dos grandes westerns crepusculares do cinema. Quando a versão é melhor, imprima-se a versão.

Gael chegou a São Paulo na quinta-feira, para uma curtíssima estada. Veio prestigiar a exibição de O Passado e falar um pouco sobre outros três filmes aos quais está ligado, no evento deste ano. Gael García Bernal pode virar o ‘muso’ da 31ª Mostra. Além de O Passado, é ator e diretor (sua estréia) em Déficit, atua em Sonhando Acordado, de Michel Gondry, e produz - por meio da empresa Canana, que fundou em parceria com outro astro mexicano, Diego Luna - Cochochi, de Laura Amélia Guzmán e Israel Cárdenas. Ele se admira - achava que eram só três. O filme de Gondry é do ano passado. Gael adora o diretor. “É muito inventivo.”

Houve outro motivo para que Gael quisesse fazer O Passado. “Queria voltar à Argentina”, ele conta, e o filme é muito argentino, com esse personagem de jovem-velho (como o define o diretor) que é tipicamente portenho. “Rimini é diferente dos outros personagens que tenho criado. Ele é dependente. É um personagem cujas mulheres e as palavras o guiam do princípio ao fim. Rimini tem uma relação distinta com cada uma delas. São as mulheres que o conduzem até onde deve chegar.” É curioso que Gael cite as palavras, porque uma das características marcantes do filme é que, nos 10 ou 15 minutos finais, Rimini quase não fala. Deve dizer duas ou três palavras, uma frase. Gael atua muito mais com o físico, o olhar, os gestos do que propriamente com a palavra. É difícil?
“Havia muita coisa difícil neste filme, mas por isso ele era estimulante. O amor é uma vertigem física vivida pelos personagens. Eles, principalmente as mulheres, se jogam na paixão”, ele diz. Embora a citação a Adèle H, de François Truffaut, não se refira exatamente a isso - o filme entra para dar a (des)medida das mulheres que amam demais -, Babenco compartilha, com o autor francês, dessa certeza de que ele (e seus personagens) vivem o amor como embate entre o gesto impulsivo e a palavra consciente. Além do roteiro, sobre o qual trabalhou, Gael leu, naturalmente, o livro de Alan Pauls em que Babenco se baseou. O filme elimina partes inteiras do livro. Há uma parte sobre um pintor, que culmina com o roubo de um quadro, que deve ocupar umas 50 páginas. Babenco tirou tudo.

“Não senti falta. Creio que a história do pintor era outra história, paralela à de Rimini e suas mulheres.” Ele não contesta as escolhas do diretor. “Não - porque ele é quem tem o filme na cabeça. O prazer de participar de um filme como este é se entregar à batuta de um maestro como Hector.” Ele desmente insinuações, que saíram na imprensa internacional, de que teria brigado com o diretor, como brigou com Pedro Almodóvar, durante a realização de Má Educação. “É o tipo do boato maldoso que certas pessoas gostam de difundir.” Babenco contou que Gael ajudou no processo de seleção das atrizes - Analía Couceyro, Moro Anghileri e Ana Celentano. “Foi muito rico trabalhar com elas, mas tem de ser assim. Se não houver interação, não há prazer.”

Quando iniciou a filmagem de O Passado, Gael estava em pleno processo de montagem do filme que assinala sua estréia como diretor - Déficit. É a história do filho de um político corrupto (e influente). Durante um fim de semana numa casa da família, fora da Cidade do México, Cristóbal - é o nome do personagem - estabelece um jogo de poder com as mulheres e os amigos, mas o tema do filme é a sua crise, a vontade de ser ele mesmo. “O que me atraiu foi essa idéia de trabalhar sobre um personagem da classe alta, coisa que nunca havia feito antes. Ele carrega o peso dos atos do pai e a idéia é justamente discutir a responsabilidade individual. Não precisamos seguir com os erros que nos são impostos.”

Ele não pensou em outro ator para fazer o papel? “Pensei, sim. Até por ser minha estréia, queria ficar mais livre, para me dedicar só à direção. Ocorre que chegamos em cima da rodagem sem um ator definido e, a esta altura, já estava tão envolvido com o personagem que decidi fazê-lo eu mesmo.” Foi um filme experimental feito em digital, com baixíssimo orçamento. “A idéia era justamente viabilizar uma produção de baixo custo, sem nenhuma ajuda. Não podemos ficar nos queixando de que falta apoio, que falta isso ou aquilo. É preciso fazer. Formávamos uma equipe jovem - todo mundo na faixa de 30 anos, ou menos. Como trabalhávamos com vídeo, podíamos repetir bastante. Foi assim que, embora tivéssemos um roteiro-guia, pudemos improvisar bastante. Duas ou três cenas, inclusive, foram acrescentadas ao roteiro em função do que descobríamos na filmagem.”

Haver-se transformado, ele próprio, em diretor mudou alguma coisa na maneira de Gael atuar, ou entender o cinema? “Com certeza, sim”, ele diz. “Entendo agora melhor o ponto de vista do diretor.” Por falar em diretores, Gael trabalhou com Alejandro González Iñárritu (Amores Brutos e Babel) e Alfonso Cuarón (E Tua Mamãe Também), que constroem hoje uma carreira internacional, consagrados em Hollywood. Isso o surpreende? “Não, pois são muito inteligentes e dominam sua linguagem. E os dois são generosos. Não se preocupam só com eles. Gostam de apoiar. Ambos têm um lado paternal muito forte. Considero-os meus mentores.” Em matéria de diretores, ele dedica um carinho todo especial a Walter Salles, com quem fez Diários de Motocicleta. Embora tenha convivido com filhos de exilados políticos, quando garoto, no México, ele diz que foi Walter quem lhe permitiu descobrir o Brasil. E Carlos Reygadas, que ganhou o prêmio da crítica no Festival do Rio, com Luz Silenciosa? “Carlos é um amigo muito exigente. Gostaria de trabalhar com ele, mas não dá. Carlos só utiliza atores não profissionais.” Sobre a empresa que criou - Canana -, esclarece. “Não queremos, nem Diego nem eu, viabilizar só nossos projetos. Cochochi nos chegou, nos apaixonamos pela idéia. Resultou num filme maravilhoso.”

(SERVIÇO)
Cochochi, de Israel Cárdenas, Laura Guzmán. Cinesesc: Hoje, 20h10. Unibanco Arteplex 1: Dia 25, 18h50. HSBC Belas Artes 2: Dia 28, 16h30. Cotação: Ótimo
Déficit, de Gael García Bernal. Faap: Hoje, 19h30. Cinesesc: Dia 22, 15h10. Cinemateca. Dia 26, 15h10. Cotação: Regular
O Passado, de Hector Babenco. Cinesesc: Dia 24, 22h10. Cine Bombril 1: Dia, 26, 18h10. Cinemark Eldorado: Dia 28, 19 h. Cotação: Bom
Sonhando Acordado, de Michel Gondry. Cinemateca: Hoje, 19 h. Cinesesc: Dom., 13h30. Cotação: Regular

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Photoshop para leigos: menos caro e mais fácil

Confira teste exclusivo do novo Photoshop Elements 6, cujos recursos (e preço) são destinados ao usuário amador

Bruno Sayeg Garattoni

Ao contrário do que muita gente pensa, o Photoshop não é exclusividade dos fotógrafos profissionais. Ele tem uma versão amadora, que se chama Photoshop Elements e foi especialmente projetada para usuários leigos - além do preço bem menor, traz recursos exclusivos e ferramentas de edição simplificadas, mais fáceis de usar.

O Link testou, com exclusividade, a nova versão do programa: o Photoshop Elements 6, que chega ao mercado brasileiro em novembro. Na verdade, o Elements é um pacote composto por três programas: um organizador, um editor e um “exportador” de fotos (para gravar tudo em CD ou jogar na internet).O uso do programa começa pelo organizador. Que, como seu nome diz, organiza em grupos e categorias as fotos armazenadas no PC (ou descarregadas de uma câmera). Exatamente como faz o programa gratuito Picasa - leia mais na página 4. Ocorre que, ao contrário do Picasa, o organizador do Photoshop não é lá muito organizado.Se você deixar, ele pega as fotos da sua câmera e joga num grande “bolo”, junto com as imagens que já estão no PC. O Picasa é mais esperto: cria automaticamente um álbum, cujo nome o usuário é convidado a digitar.Para piorar as coisas, não tem um campo de busca para procurar fotos! Ou melhor, tem - mas está escondido. É preciso clicar em Find e aí selecionar busca por legenda (caption) ou nome do arquivo (filename).Acontece que, como o programa não solicitou que você nomeasse o lote de fotos durante a importação, elas ficaram sem nenhum tipo de identificação (como “churrasco”, “Natal”, etc.). Têm apenas os nomes estranhos, e sem sentido, do tipo DSC100094.jpg , com que vieram da câmera digital. Ou seja: na prática, não dá para fazer busca nenhuma.É possível evitar esse problema. Basta selecionar, antes de importar as fotos, a opção Custom. Mas o Photoshop deveria ser mais esperto. Mesmo.A interface gráfica do organizador também não ajuda. É poluida e ligeiramente confusa, muito inferior à do Picasa.O Photoshop compensa com um recurso inovador: o Find by visual similarity (encontrar por semelhança visual). Essa função analisa o conteúdo de determinada foto e encontra outras parecidas com ela (um pôr-do-sol, por exemplo). Legal.Mas não é o bastante. O organizador do Photoshop Elements é bem ruinzinho.

SHOW DE EDIÇÃO

Já o editor de fotos, é simplesmente excelente. Ele traz ferramentas exclusivas que realmente ajudam a trabalhar com as fotos. Confira, no quadro da página 5, como no Photoshop os retoques são sempre mais fáceis de fazer.E não só isso: o resultado final também fica melhor. Veja o caso da Varinha mágica (Magic wand). É uma das principais ferramentas, talvez a mais importante, em qualquer software de fotografia, pois ajuda a selecionar as regiões da foto que serão tratadas (como a pele de uma pessoa) sem que você precise demarcá-las, milímetro a milímetro, com o mouse. Nessa tarefa, o Photoshop foi muito mais preciso do que o similar gratuito Gimp. Sua coleção de filtros e ferramentas, com dezenas de opções, também é sem igual. Outra exclusividade do Elements é a edição guiada (Guided Edit). Ela realmente ensina, passo-a-passo, como melhorar as fotos: pois mostra, numa sequência lógica, tudo o que você precisa fazer (cortar a foto, retocar as cores e a iluminação, aumentar a nitidez, etc.).Basta ir seguindo as instruções, apertando os botões que aparecem na tela. Mas é preciso saber inglês (o software não tem versão em português).O Photoshop permite ver as fotos no modo Before & After, que mostra lado a lado o “antes” e o “depois” da foto que está sendo editada. Ou seja: fica muito mais fácil avaliar o efeito de uma ajuste, ou de um filtro, antes mesmo de aplicá-lo. As modificações não são destrutivas, ou seja, não afetam a foto original.

TIPO EXPORTAÇÃO

Na hora de exportar as fotos, seja para a internet ou para um CD, o Photoshop Elements também se destaca. As galerias de fotos online, que ficam hospedadas no site Photoshop Showcase.com, são muito bonitas - podem conter elementos sonoros e gráficos 3D.O gerador de slideshows é um caso à parte. Ele é um verdadeiro editor multimídia, que permite misturar vídeos e MP3 às fotos - e depois gravar tudo num CD que roda em toca-DVDs comuns (ideal para presentear a família).Como um todo, o Photoshop Elements 6 é excelente - só o organizador, infelizmente, deixa a desejar. O preço, em torno de R$ 300, é um pouco alto. É mais negócio comprar o pacote promocional, de R$ 460, que inclui também o sensacional editor de vídeo Premiere Elements (semiprofissional).É um bom dinheiro, claro. Mas, para o amador que gosta muito de editar fotos (e vídeos), não há nada melhor.

Mostra de cinema no tempo do YouTube

O maior evento da área no País começa sexta alinhado à era digital

Marcel R. Goto

A menos de uma semana do início de sua 31ª edição, o quartel-general da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo vive o típico frenesi da véspera dos grandes eventos.A complicada logística por trás das mais de mil sessões de quatrocentos curtas e longa-metragens não abandona seus organizadores, o casal Leon Cakoff e Renata de Almeida, nem durante uma breve entrevista sobre como as tecnologias de informação transformaram a produção do evento ao longo do tempo. Não se deixe enganar pelo aspecto pacífico da foto: enquanto posava, Cakoff tinha o celular ligado em viva-voz sobre a mesa e discutia calorosamente uma das inúmeras questões burocráticas da Mostra.À primeira menção da internet, no início da entrevista, ele responde com satisfação: “Somos pioneiros, nosso site, www.mostra.org, precede até a regularização da internet no Brasil”. Mais do que um informativo do evento, o sítio, como Cakoff faz questão de chamar, transformou-se numa referência sobre cinema na web brasileira. Todos os filmes já exibidos nos 30 anos da Mostra estão catalogados lá, e esses arquivos, mais o jornal do site, que tem 50 mil assinantes, fizeram com que ele fosse eleito pela revista Info como o melhor endereço online sobre cinema do país. Este ano, o site exibirá vídeos dos debates e trailers dos filmes exibidos.Renata conta uma interessante anedota sobre o envolvimento da internet com a Mostra. Enquanto escolhia obras de Claude Lelouch para uma seleção especial, amigos franceses lhe indicaram o curta C'était un Rendez-Vous, de 1976, que foi recentemente remasterizado e estava disponível no YouTube com a bênção do diretor.No filme, o próprio Lelouche dirige veloz e um tanto irresponsavelmente pelas ruas de Paris, passando por diversos marcos e sinais vermelhos, com uma câmera especial acoplada à frente do carro. Foi a primeira avaliação online de um filme para a Mostra, e Rendez-Vous será exibido em cópia de 35mm.Ela indica ainda outros filmes com forte relação com a tecnologia digital, como Tracey Fragments, que usa técnicas de composição praticamente impossíveis de serem reproduzidas em filmes tradicionais, e Braid Upon the Brain, de Guy Maddin, que usa filtros digitais para reconstituir a aparência dos filmes dos anos 20. Quando questionada sobre a possibilidade de uma versão online da Mostra, Renata explica que o evento permanece fiel a certas tradições: “Pra nós o cinema é uma experiência social. Tudo faz parte: sair de casa, o caminho, a fila, sentar ao lado de pessoas que você não conhece e compartilhar a sala escura”.E quanto à possibilidade de exibir filmes que evitam o circuito das salas de cinema e existem apenas na web? “Um dos critérios de seleção é que a obra seja inédita em São Paulo. Se está na internet, consideramos que não é inédito”. Mas os critérios podem ser revistos no futuro, diz.Um jornal emoldurado no escritório da Mostra, como uma instalação de arte, talvez seja o melhor símbolo da relação do evento e seus organizadores com a tecnologia. Trata-se da manchete da derrota do enxadrista russo Kasparov pelo computador Deep Blue, estampada na capa do Libération, jornal francês progressista fundado por Sartre. A internet e a revolução digital, longe de ditarem regras, são vistas sempre pelo olhar da arte e outras tradições das humanidades. E Leon Cakoff, como comenta Renata, ainda não se convenceu a usar seu iPod...

(SERVIÇO)A Mostra Internacional de Cinema de SP vai de 19 de outubro a 1º de novembro.

Uma ópera contra o País da corrupção e da impunidade

Luiz Carlos Merten

Cláudio Torres baseou-se no caso do investidor Sérgio Naya, cujo empreendimento - o condomínio Palace II - ruiu na Barra, no Rio, para realizar Redentor, que estréia hoje no Canal Brasil, às 22 horas. Na ficção do filho de Fernanda Montenegro - ela é atriz no filme -, o prédio não vem abaixo, mas tem sua construção interrompida pelo colapso financeiro do investidor, o empresário interpretado por José Wilker. Ele se mata e seu filho (Miguel Falabella) herda os negócios do pai - e o problema.Embora este seja um eixo importante do filme, a história é contada pelo ângulo de um jornalista - Pedro Cardoso -, cujo corpo, no começo, está num lixão. O jornalista moveu, por vingança, uma guerra pessoal contra o empresário corrupto. E o prédio inacabado é invadido pelos sem-teto de uma favela próxima. O Brasil, da corrupção e da impunidade, irrompe nas imagens de Redentor.Cláudio Torres fez desse filme um projeto rigorosamente operístico e autoral, convencido de que só o absurdo da ficção pode recriar na tela o absurdo do Brasil real. A ópera termina num verdadeiro apocalipse now. Redentor desconcerta. Não é para todos os gostos, mas proporciona um choque do real que vale experimentar.

A eterna busca do tempo presente

Fonte: Jornal O estado de São Paulo

15/10/07

Em Hotel Atlântico, Suzana Amaral valoriza ao máximo o trabalho dos atores para contar uma história nada convencional

Flávia Guerra

“Não quero dar entrevista. Não agora”, dizia o ator Júlio Andrade ao Estado, no rancho que a equipe de Hotel Atlântico usava de base para as filmagens em Paulínia, cidade que tem o arrojado projeto de se tornar um dos maiores pólos de cinema do País e que tem oferecido locações e logística invejável para vários filmes nacionais. “Sobre o que você vai perguntar? Do filme ainda não consigo falar”, avisa Júlio, que fez ótima estréia no cinema em Cão sem Dono, de Beto Brant. A pedido da reportagem, no fim de uma jornada de trabalho, Júlio, os atores Jidu Pinheiro, André Frateschi e a diretora se sentam à beira do lago que banha o rancho que serve de base para a equipe e páram para pensar no filme. A conversa explica o porquê da aversão a entrevistas. “Vou adorar falar quando o filme estiver pronto. Mas estamos literalmente no meio do processo e não tenho opinião formada nem mesmo sobre meu personagem”, continua o ator de olhar cortante e atento. Foi este olhar que cativou definitivamente a diretora. “Estava em dúvida sobre alguns nomes. Quando vi Cão sem Dono, decidi. Tinha de ser o Júlio. Ele tem nos olhos a surpresa de que meu protagonista precisa.” Sorte dele. Suzana é responsável por trazer para as telas o talento de atrizes como Marcélia Cartaxo (descoberta num grupo de teatro e vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim de 1986 por A Hora da Estrela) e Sabrina Greve (também escolhida no palco para Uma Vida em Segredo. que integrou a Semana da Crítica do Festival de Cannes, e eleita a melhor atriz pela APCA em 2001). Na tarde em que o Estado percorreu um trecho da estrada de Hotel Atlântico, dividiam a cena com Júlio os atores Jidu Pinheiro e André Frateschi. “Fiz um curta que ainda não estreou”, conta Jidu. Frateschi fez uma participação em O Cheiro do Ralo, mas a cena foi cortada. “Do meu filme você não sai”, brincou Suzana, que também incluiu em seu elenco nomes como João Miguel, Lázaro Ramos, Mariana Ximenes, Helena Ignês e Paula Braun.O trio se dizia privilegiado por ser dirigido por Suzana. Raro exemplo no cinema nacional, a diretora, que cursou cinema na Escola de Comunicações e Artes da USP e na New York University, aposta no método de Sanford Meizneck, um dos principais professores de interpretação dos EUA. Traduzindo em linhas gerais, o que de fato importa para ela é que “atuar é a realidade de viver o tempo presente”. E esse lema ela não aplica só ao trabalho com os atores. A metamorfose ambulante em que se torna sua equipe não está desconfortável com a falta de respostas. Pelo contrário. É a dúvida que alimenta cada dia de trabalho. “Não falo nada. Meus atores chegam e tomam conta do set antes que o resto da equipe chegue”, acrescenta a diretora, depois de passar o dia dirigindo o trio que viajava de carro por uma estrada. Suzana está disposta a subverter a relação diretor-ator. “É uma das poucas que coloca o ator na frente do processo”, diz Jidu. “Só ´pastoreio o que os atores criam.” Raridade, não? “É. Mas ela realmente nos deixa mais livres”, completa Frateschi. “É mais divertido. Cada um traz suas propostas. Desburocratiza o trabalho”, diz Júlio. Suzana rebate: “Não sou diretora de trânsito. Sou centralizadora, mas na minha equipe todos pensam juntos. Tento manter a coerência.”Quando questionada sobre por que adaptar um terceiro livro, responde: “A razão principal é que não dou roteiro para atores. Dou o livro. Deixo que pensem nos personagens. Com o roteiro, eles decoram as falas e o filme deixa de ser espontâneo.”De roteiro, ela entende. “Já li centenas em tantas comissões de seleção que integrei. É tanta literatura chinfrim. Roteiro tem de ser concreto. Nao pode ter palavra bonita. É ação. O resto é conversa. É a inteligência do ator. É o subtexto que importa.”E por que desta vez contar uma história masculina? “Não é um filme sobre homens nem para homens. Não sei por que cismaram que faço filmes para mulher. Eu falo sobre o ser humano. Todo mundo ama. Todo mundo sofre. Não sou feminista. E não sofro nenhum preconceito no set por ser mulher.” Mas Suzana não nega que esteja adorando fazer filmes com homens. “Passei um mês no meu sítio em Atibaia preparando o filme com eles”, brinca. E para eles? É diferente ser dirigido por uma mulher? “É. Mas com a Suzana a gente não pensa nisso. Falamos de absolutamente tudo ”, conta Júlio. “Passamos o tempo em Atibaia comendo comida da horta. Um diretor jamais ia se preocupar com o que a gente come”, brinca Frateschi. Pode parecer brincadeira, mas a preparação busca a essência da história na convivência com os atores. Nesta busca, não há espaço para artificialismos e truques de roteiro. Na trama, os atores vão e vêm ao sabor do caos que Suzana retrata. “Preciso que eles estejam espontâneos e preparados. Tirando o Alberto (Júlio), os personagens não são sempre os mesmos. Não é trama tradicional.”É a tensão da mudança que dá energia à história. “É um filme episódico. Nada que acontece tem ligação. Nem com o passado. Nem com o futuro. É uma sucessão de acontecimentos não vinculados em uma narrativa do aqui e agora. Foi isso que me atraiu.” Esse caos não traz angústia e dúvida? “Exatamente. Traduz o momento que vivemos. Mas sou adepta da filosofia budista. Vivo o tempo presente”, diz ela, em busca de um ‘cinema do despojamento’. “Quero falar do ser de hoje, da descartabilidade dos acontecimentos atuais. Quem for esperando um filme comercial não vai entender. Todos os meus filmes começam, na cabeça das pessoas, quando a luz acende”, reflete. E brinca: “Até agora, ninguém entendeu o roteiro. Todo mundo achou uma porcaria. Mas vocês vão ver quando ficar pronto e dizer: ‘Nossa, que p... filme!”

domingo, 14 de outubro de 2007

Chávez cria

Fonte: Jornal Folha de São Paulo

14/10/07

Chávez cria Hollywood bolivariana para promover revolução

Primeiro filme rodado no pólo cinematográfico criado pelo presidente venezuelano narra saga de herói da independência"Miranda Regressa" teve orçamento de US$ 2,3 mi e première de gala; outros 19 projetos estão em produção ou acabam de ser concluídos

Howard Yanes-11.out.2007/Associated Press

A première de "Miranda Regressa", que teve Chávez e o equatoriano Rafael Correa na platéia

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O slogan da Fundação Villa del Cine anuncia sem pudores: "Luzes, câmera, revolução". Criado pelo presidente Hugo Chávez para combater "a ditadura de Hollywood", o estúdio de cinema estatal venezuelano enfrenta neste fim de semana a sua primeira grande batalha, com a estréia da superprodução "Miranda Regressa".O ambicioso longa sobre a vida do herói da independência Francisco de Miranda (1750-1816) é a primeira das 19 produções recém-concluídas ou em andamento da Villa del Cine a estrear em circuito comercial. Com 140 minutos de duração e orçamento de US$ 2,32 milhões, o filme foi rodado na Venezuela, em Cuba e na República Tcheca e conta com uma pequena participação do astro norte-americano Danny Glover, um fã declarado de Chávez.A maior parte parte das filmagens foi realizada na própria sede da fundação, que mantém um complexo com dois estúdios na cidade de Guarenas, na Grande Caracas. Trabalham ali cerca de 1.500 pessoas, quase todas de cooperativas vizinhas, responsáveis por áreas como figurino e carpintaria."A Villa preenche um espaço que ninguém ocupava", disse à Folha o diretor de "Miranda Regressa", Luis Alberto Lamata, considerado um dos mais importantes do país. "O cinema venezuelano tem sido feito por nós, cineastas, em alguns casos com o apoio de outras instituições do Estado ou com o dinheiro que se conseguir. A Villa possibilita que se faça um trabalho por encargo."Mesmo antes de sua estréia nas telas, a Villa, inaugurada no ano passado, tem atraído várias personalidades interessadas na experiência chavista. Já visitaram os estúdios os atores hollywoodianos Kevin Spacey e Sean Penn, além de Glover, que planeja desenvolver ali um controvertido projeto de US$ 18 milhões -prometidos a ele por Chávez- para filmar a história da independência haitiana.Para a première, o local escolhido foi o Teatro da Academia Militar. Diante de uma platéia que misturava atrizes com decotes ousados, dezenas de cadetes uniformizados, jornalistas, entre os quais a reportagem da Folha, e o colega equatoriano, Rafael Correa, Chávez defendeu o cinema estatal."Não há revolução sem cultura se não retomamos nossos valores, se não dizemos basta aos antivalores, ao veneno imperial. Começamos a resgatar esses valores, usando a mina interminável de nossa história", discursou antes da projeção, na quinta-feira à noite.Levando em conta a pouca tradição cinematográfica venezuelana, a qualidade técnica do filme surpreende. Mas a trama é desconexa e se resume a mostrar, de forma laudatória, vários episódios da rica trajetória de Miranda -ele também lutou na Revolução Francesa e na independência americana."É uma cátedra de história com pouquíssima paixão, um olhar de longe e de baixo. Miranda está no pedestal", diz Robert Gómez, editor de cultura do jornal "El Universal". Ele aposta que o filme não cativará o público venezuelano.Além de "Miranda Regressa", a Villa deve terminar nos próximos meses pelo menos outros seis longas, entre os quais "Bambi C-4", sobre o terrorista cubano Luis Posada Carriles, que vive em liberdade nos EUA apesar do pedido venezuelano de extradição.Para que a empreitada nas telas tenha êxito, o governo Chávez criou ainda a empresa distribuidora Amazonia Films e está construindo uma rede de cinemas estatais em regiões do país onde não existem salas.

sábado, 13 de outubro de 2007

Justiça Militar decide se cineasta irá depor

Fonte: Jornal Folha de São Paulo

13/10/07

PM quer apurar a participação de policiais em "Tropa de Elite"; segundo corregedor, Padilha não pode ignorar convocação

O diretor do filme foi orientado por Sérgio Cabral a ignorar a convocação; segundo a PM, ele deporá como testemunha

MALU TOLEDODA SUCURSAL DO RIO

A Justiça Militar do Rio decidirá se o cineasta José Padilha, diretor do filme "Tropa de Elite", terá de depor à Corregedoria da Polícia Militar, afirmou ontem o corregedor da PM do Rio, Paulo Roberto Paúl. A corporação quer apurar a participação de policiais no filme.Segundo ele, Padilha foi chamado como testemunha porque tem dado entrevistas sobre a PM. "Ele tem o direito de fazer o filme do jeito que quer e não vai depor? É a Justiça Militar que está atuando. Isso não é brincadeira, não é ficção."José Padilha, diretor do filme, e Rodrigo Pimentel, co-roteirista e ex-comandante do Bope, também convocado, já disseram que não vão depor. Paúl não quis comentar a declaração do governador Sérgio Cabral (PMDB), que disse para Padilha "ignorar a intimação" por considerá-la "uma inibição despropositada". Ele disse que há exagero, já que civis depõem na PM todo dia.A intimação para depor na PM, recebida pelos diretores do filme "Tropa de Elite" anteontem, é questionada por advogados. Eles acreditam que Cabral tenha dito para Padilha "ignorar a intimação" porque não é atribuição da PM chamar um civil para prestar depoimento. Apesar de ser o chefe maior da instituição, o governador não tem poder de interferência em inquéritos militares.Padilha procurou a assessoria de Cabral após receber a intimação. Foi orientado a ignorá-la. O Inquérito Policial Militar foi aberto para apurar se policiais atuaram no filme e se os atores usaram armas e equipamento do Estado nas filmagens. Paúl disse que o inquérito foi aberto a partir de averiguações do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) e a pedido do comandante do unidade, coronel Pinheiro Neto."A PM guarda alguns resquícios da ditadura. É uma ilegalidade usar isso para pressão", disse João Tancredo, advogado de Rodrigo Pimentel e de Luiz Eduardo Soares, co-autor do livro "Elite da Tropa".Quanto à ameaça de prisão caso não compareçam ao depoimento, Tancredo diz que eles não correm esse risco.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

PM intima a equipe de "Tropa de Elite"

Fonte: Jornal Folha de São Paulo

12/10/07

DA SUCURSAL DO RIO

A Polícia Militar intimou a depoimento e ameaçou prender, em caso de falta, o diretor do filme "Tropa de Elite", José Padilha, e o co-roteirista e ex-capitão do Bope Rodrigo Pimentel. O Inquérito Policial Militar foi aberto pela Corregedoria da PM para apurar se policiais atuaram no filme e se usaram armas e equipamento do Estado nas filmagens.No entanto, orientados a "ignorar a intimação" pelo próprio governador do Rio, Sérgio Cabral, Padilha e Pimentel informaram ontem que não vão depor.O governador é o chefe máximo da instituição e já elogiou o filme. Segundo nota da assessoria de Padilha, "o diretor vai seguir a orientação dada a ele pessoalmente pelo governador do Rio [...] de "ignorar a intimação" por considerá-la "uma inibição despropositada"." Pimentel negou ter usado equipamentos do Rio, mas admitiu a participação de nove PMs, cujos nomes constam da ficha técnica e que eles diz terem atuado nas folgas. A Corregedoria não quis comentar a intimação.

Obra de Hirszman restaurada

JOSÉ GERALDO COUTO

A obra de um dos mais importantes autores do cinema brasileiro moderno, Leon Hirszman (1937-1987), está sendo restaurada e será lançada em DVD em novembro.

A primeira caixa a chegar às lojas e locadoras, com dois DVDs duplos, incluirá os longas Eles Não Usam Black-Tie (1981) e ABC da Greve (1979/1990) e o documentário inédito Deixa Que Eu Falo, sobre Hirszman, feito pelo cineasta e montador Eduardo Escorel, além do curta Pedreira de São Diogo, parte do longa coletivo Cinco Vezes Favela (1962). Eduardo Escorel, 62, e seu irmão Lauro, 57, coordenam o projeto de restauração, que tem patrocínio da Petrobras e apoio da Cinemateca Brasileira, depositária das matrizes dos filmes de Hirszman. Os irmãos foram parceiros fundamentais de Leon. Eduardo fez a montagem e Lauro a direção de fotografia de São Bernardo (1971) e Eles Não Usam Black-Tie. Ambos dizem ter aprendido muito com o cineasta, um dos líderes do cinema novo.- O convívio com Leon foi muito rico - diz Lauro, que tinha 21 anos quando trabalhou em São Bernardo.- Sua maneira de conduzir o set de filmagem, sua forma de trabalhar com os atores e seu senso de composição me marcaram muito.Segundo Lauro Escorel, "Leon era um ser político dotado de grande sensibilidade artística. Para seu irmão Eduardo, "embora tenha sido muito amigo de Glauber (Rocha), Leon tinha uma faceta antiglauberiana. Era um temperamento conciliador, suave, nada agressivo. Era cineasta e político em tempo integral.Na primeira caixa de DVD, foram reunidos, de acordo com Lauro Escorel, os filmes mais "políticos do diretor. Até 2010, deverão ser lançados outros títulos da sua filmografia, como São Bernardo, A Falecida (1965) e o documentário Imagens do Inconsciente (1983-1985). Em Deixa Que Eu Falo, entre outras preciosidades, há a última filmagem de Hirszman, uma entrevista com a psiquiatra Nise da Silveira, criadora do Museu do Inconsciente.

O mestre e a bela

O Desprezo mostra que a arte de Godard continua plena

INÁCIO ARAUJO

O Desprezo é um filme de encontros. O de Godard com BB: dois ícones da Europa pós-pós-guerra, em trajetos até então opostos: Brigitte Bardot, símbolo do cinema comercial, e Godard, símbolo do cinema-como-arte.Também encontro entre o novo e o eterno: Jack Palance, o produtor de cinema, deus do presente, e a Grécia de Homero, da Odisséia. Encontro entre o clássico e o moderno: Fritz Lang, que faz o diretor que vai filmar A Odisséia, e Godard, que faz seu assistente. Evoca-se a possibilidade de o cinema reconstruir qualquer lugar. A corrida de Piccoli pelas ruas de Cinecittà são um momento antológico, em que Godard filma as "ruas de cinema do estúdio e a verdade dessas ruas, que recebemos como espectadores quando vemos um filme.O cinema de Godard teve, como prioridade, um aspecto documental, o desejo de captar a atualidade. Por uma vez, seu olho parece mirar outros horizontes. Existe, primeiro, a intriga, a crise conjugal entre o roteirista (Michel Piccoli) e a atriz (Bardot).Godard a leva a sério, mas não como o cineasta clássico. É um instante que parece concerni-lo: quando BB deixa de amar o marido e passa a desprezá-lo. Podemos buscar as ressonâncias, não as causas. É o mistério da mulher, de sua decisão, de seu rosto que permanecerão para sempre perturbadores em O Desprezo. O drama conjugal puxa todos os demais. Lá está o produtor de cinema, com sua previsível impaciência com a cultura e suas demonstrações de potência. Lá está Lang, como que ciente de sua grandeza, mas também da insuficiência dessa grandeza. E BB. E Palance.Parece que Godard empenha-se em trabalhar sobre um feixe de contradições amplo. Tão amplo, que o set de filmagem parece uma Babel, cheia de línguas cujas distâncias uma tradutora procura aplainar. Uma língua os une, que é o cinema. E o cinema surge como o elemento de atualidade que nunca falta a Godard. Porque existe uma diferença entre o ambiente descrito e o cinema godardiano.Os extras do DVD incluem documentários e entrevistas. Universal.

Play

A Primeira Página - Direção de Billy Wilder. A terceira versão para cinema da peça de Ben Hecht e Charles MacArthur traz um encontro luminoso entre Walter Matthau, como o chefe de redação cínico, e Jack Lemmon, o repórter que se demite em momento decisivo do jornal. Billy Wilder restabeleceu aqui a dupla masculina original, que Hawks havia transformado em casal duelista em Jejum de Amor. O mundo de Wilder é mais amargo que o de Hawks, e seu olhar, menos olímpico. Mas não menos bem-humorado. O fato de Lemmon e Matthau serem homens faz o filme se diferenciar de Jejum... e propicia um final exemplar. Comédia. Versátil.

Cassino Royale - Direção de Martin Campbell. A convincente estréia do inglês Daniel Craig como o agente 007, na adaptação do único romance de Ian Flemming que permanecia inédito na série oficial com o personagem, ganha tapete vermelho nesta edição especial em DVD, com um disco exclusivo para os extras. O destaque é o documentário Bond Girls São Eternas, com a atriz inglesa Maryam dAbo (007 Marcado para a Morte) entrevistando outras 15 atrizes que também pertencem a esse clube invejável. Os bastidores da substituição de Pierce Brosnan por Craig e das elaboradas cenas de ação aparecem em outros extras. Ação. Sony Pictures.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Piaf, uma vida de amor e tragedia

A cantora francesa Édith Piaf ganha uma ótima cinebiografia e tem seu livro de memórias lançado no País

IVAN CLAUDIO

PERFEIÇÃO Marion Cottilard interpreta Piaf no filme cuja trilha tem clássicos como La vie en rose e Hymne à l’amour

Paris, 1929. Um contorcionista faz o que pode para ganhar algumas moedas, jogadas pelos pedestres no chapéu que sua filha carrega. “E a menina, não faz nada?”, pergunta um deles. A garota, vacilante, faz a única coisa que sabe: cantar. E canta a única música que sabe de cor: a Marselhesa, hino nacional da França. Surgia naquela tarde parisiense um dos maiores mitos da música, a cantora Édith Piaf (1915-1963), que imortalizou canções como La vie en rose, Non, je ne regrette rien e Hymne à l’amour. Essa passagem está em Piaf – um hino ao amor, filme francês que estréia na sexta-feira 12, sobre a grande intérprete e sua vida de tragédias e amores. A mesma história da Marselhesa está também no livro Piaf – no baile do acaso (Martins Fontes, 192 págs., R$ 45), escrito pela própria cantora, na época com 43 anos. Ou seja, quatro anos antes de sua morte, de câncer, e precocemente envelhecida pela vida boêmia e pelo vício de morfina – ela chegava a injetar diariamente dez ampolas da substância.

MITO A artista no fim da vida, quando cantava que “não se arrependia de nada”

Na apresentação do livro fica-se sabendo que a própria Piaf ajudou a criar e a perpetuar as lendas em torno de si. A primeira, aliás, diz respeito ao seu nascimento. Ela insiste que veio ao mundo num dia frio de inverno nos degraus do número 72 da rua Belleville, enquanto seu pai, que havia saído atrás de uma ambulância, se aninhara no balcão do primeiro bar, só voltando depois que dois policiais haviam feito o parto.

Mas a maternidade do bairro registra o fato de forma mais natural, indicando inclusive o nome do médico que atendeu sua mãe. O filme dirigido por Olivier Dahan, com a esplêndida Marion Cottilard, faz jus ao mito e oferece uma história digna das letras de suas canções. Filha de uma cantora de rua, Piaf (cujo nome real era Édith Gassion) foi abandonada pela mãe quando o pai servia o Exército francês. Na seqüência, vai morar com a avó, que dirigia um bordel. Lá, contrai uma infecção nos olhos e fica sem ver por alguns meses. Recuperada, passa a trabalhar com o pai no circo, e, mais tarde, nas ruas de Paris.

MEMÓRIAS Piaf evita falar dos amantes no livro

Aos 15 anos, Piaf começa a ganhar a vida cantando pelas esquinas as músicas populares que aprendeu com a mãe e as prostitutas. É quando o dono de cabaré Louis Leplée a descobre. Diante da minguada estatura (ela media 1,42m), escolhe seu pseudônimo: La Môme Piaf (o pequeno pardal). Mas o sonho dura pouco. Seu protetor é assassinado e ela cai de novo na boêmia e no alcoolismo, herdado dos hábitos do pai, que lhe servia conhaque e vinho para afastar o frio. Piaf, claro, teve uma segunda chance e conheceu o estrelato. Viveu também muitos amores e muitas perdas. Casou duas vezes: com o cantor americano Jacques Pills e com o cabeleireiro Théo Sarapó. Os amantes foram muitos, como o cantor Yves Montand, o ator Eddie Constantine e o ciclista André Pousse. O grande amor de sua vida foi, certamente, o campeão de boxe Marcel Cerdan, que morreu num acidente de avião num vôo de Paris a Nova York. E o pior: viajando a pedido da própria Piaf, que se encontrava em turnê pelos EUA. Essa tragédia é um dos momentos sentimentais do filme. No livro, só ganha um parágrafo. “Com a morte de uma pessoa que eu amava, meu universo desabou. Achei que nunca mais conseguiria ser feliz (...) A fé me salvou.” E a música, claro.

Fonte: Revista Veja - 08/10/07

Hollywood em São Paulo

Fonte: Revista Isto é - 08/10/07

Estrelado por atores americanos, filme de Fernando Meirelles transforma a capital paulista em cenário da mais cara produção do País
IVAN CLAUDIO

‘‘Já sei o nome desse filme: A sujeira do Anhangabaú.” A frase não foi dita por nenhum crítico mal-humorado, mas por um morador de rua que na fria tarde do domingo 30 acompanhava no centro de São Paulo as filmagens de Blindness (Cegueira), de Fernando Meirelles. É o filme mais caro já feito no País (R$ 50 milhões). Essa co-produção entre Brasil, Canadá e Japão fechou por um dia o Vale do Anhangabaú, que passou a lembrar uma praça de guerra. Carros batidos, trincheiras, fumaça e sujeira por toda parte compunham o cenário apocalíptico armado pelo longa-metragem que está fazendo São Paulo lembrar Hollywood – seus atores principais são as estrelas americanas Julianne Moore, Danny Glover e Mark Ruffalo. Figurantes chegam a 300 e até o cachorro tem um regra-três, caso resolva esnobar a objetiva.

As filmagens já passaram pelo Canadá e Uruguai. A ficção é baseada no livro Ensaio sobre a cegueira, do autor português José Saramago, e trata de uma cidade tomada por uma epidemia que torna as pessoas cegas – deve ficar pronta a tempo de estrear no Festival de Cannes, em maio de 2008. “Está tudo dentro do cronograma, a equipe está feliz, é isso o que importa”, disse Meirelles. A questão do prazo é um dos detalhes que tornam Blindness tão diferente de Cidade de Deus, por exemplo, responsável pelo sucesso internacional de Meirelles. Quem explica é a produtora Andrea Barata Ribeiro, sócia de Meirelles na produtora O2: “Os contratos internacionais são mais complexos e incluem um seguro como garantia de que o filme será terminado.” Outras exigências também são novidade para os brasileiros. Julianne Moore não entra em cena sem saber quantas câmaras vão ser direcionadas para ela. “Não posso fazer o making of quando ela está rodando”, diz Andrea.

ACTION Meirelles fechou o centro de São Paulo, que ganhou placas em inglês e a presença de Glover, Ruffalo e Julianne.

Na maioria das filmagens estão sendo usadas quatro câmaras, mas o aparato técnico é bem maior. Para rodar a simples seqüência em que o ator japonês Yusuke Iseya sai de casa e toma um táxi com a mulher foram usados quatro caminhões com equipamentos e um gerador de 100 KVA, que equivale a 900 lâmpadas de 100 Watts. “Fiquem todos atrás da grade porque vai entrar um carro em alta velocidade”, disse um segurança. “Se vier acima de 80 já está multado”, retrucou um dos “marronzinhos” de plantão no local. Essa cena transformou as ruas Piauí e Aracaju, no bairro de Higienópolis, nas ruas Canal St e Royal St, de Nova York. O Viaduto do Chá virou a 3rd St e a rua Líbero Badaró a Grand Avenue. Em toda a extensão dessa última, seis trailers e quatro motorhomes eram alimentados por um gerador de 150 KVA, o suficiente para abastecer um prédio de sete andares. Embora o enredo do filme não se dê explicitamente em Nova York, carros de polícia, táxis e placas de rua levam a crer que se está na Big Apple. Falado em inglês e com elenco de diversas nacionalidades, o filme tem mudado os hábitos até dos técnicos. “I’m sorry. Com licença”, gritava um eletricista. “Aqui todo mundo tem de falar duas línguas”, explicava ele à multidão de curiosos.

Projeto distribui ingressos gratuitos no interior de SP

Flávia Guerra

Para aumentar a freqüência e diminuir as estatísticas que dizem que o público brasileiro ainda vê poucos filmes brasileiros no cinema, surge uma tentativa: o programa Vá ao Cinema. Lançada oficialmente ontem pelo secretário de Estado da Cultura, João Sayad, a iniciativa vai distribuir gratuitamente 150 mil ingressos de cinema em 15 cidades do interior paulista. Nesta primeira fase, que compreende o mês de outubro, cada uma das cidades receberá 15 mil vale-ingressos, que valerão somente para assistir a filmes nacionais inéditos nas cidades.A distribuição será feita por monitores contratados pela empresa Sodexho, responsável pela emissão dos ingressos. Esses monitores terão a tarefa de visitar escolas de cada uma das cidades e explicar aos alunos como funciona o projeto, que representa investimento de R$ 1 milhão em seus dois primeiros meses e a distribuição de 300 mil ingressos (para os meses de outubro e novembro).As primeiras cidades contempladas são Araras, Jacareí, Jundiaí, Indaiatuba, Taubaté, Santa Bárbara d’Oeste, São José dos Campos, Santos, Praia Grande, Barueri, Amparo, Araraquara, Jaú, Mogi Guaçu e Mogi Mirim.Para 2008, os investimentos previstos são de R$ 7 milhões e distribuição de 2 milhões de ingressos. Mais que aumentar a freqüência atual do brasileiro no cinema, o projeto visa à formação de público.

E o palhaço Adam Sandler prova que é grande ator dramático

Luiz Carlos Merten

Pode-se pegar carona no filme de Guilherme de Almeida Prado, Onde Andará Dulce Veiga?, para formular outra pergunta - onde andará Paul Thomas Anderson? O talentoso diretor de Boogie Nights - Prazer sem Limites e Magnólia anda meio sumido, após o fracasso de público e, por que não admiti-lo?, de crítica de Embriagado de Amor. O filme passa hoje às 22 horas no People + Arts.Se você for à internet, verá que Paul Thomas Anderson não está parado, mas seus novos trabalhos estão demorando para surgir. Vale (re)ver Embriagado de Amor, com Adam Sandler no papel de sua vida, confirmando que palhaços, muitas vezes, são capazes de grandes atuações dramáticas. Jim Carrey que o diga. Ele não é menos do que excepcional em O Show de Truman e O Mundo de Andy.Embriagado de Amor conta a história desse sujeito tímido que vive oprimido pelo matriarcado dentro da própria família. Ele é o único varão numa família de sete irmãs. Solitário (e consumido pelo desejo), ele liga para um desses serviços de sexo por telefone e passa a ser perseguido pelo personagem de Philip Seymour Hoffman, o ator-fetiche do diretor. Hoffman é ótimo, como sempre, mas o filme é de Sandler.

sábado, 6 de outubro de 2007

Devoção à barulheira

Por que, no caso do heavy metal, falar de"tribo roqueira" é mais do que uma metáfora

Sérgio Martins

Metaleiros: pose agressiva para compensar a timidez

Os punks, os góticos, os emos – admiradores de todos os gêneros de música pop costumam se reunir em grupos com gírias, roupas e adereços próprios. São as tais tribos urbanas. A expressão, claro, tem sentido figurado. Entre os fãs de heavy metal, porém, quase se pode utilizá-la na acepção literal. "Os metaleiros me fazem lembrar de tribos guerreiras do passado. Mais do que a afinidade musical, eles têm uma espécie de comprometimento ideológico", diz o antropólogo Sam Dunn, um dos três diretores do documentário Metal: uma Jornada pelo Mundo do Heavy Metal (Canadá, 2005), em cartaz desde sexta-feira no país. E talvez seja até mais apropriado dizer que os fãs do metal formam uma seita, tal a devoção às vezes irracional com que eles seguem os mandamentos de seus ídolos. Em uma das cenas mais bizarras do filme, um fã tatua o nome da banda Slayer no braço – e a tinta usada é o seu próprio sangue. Dunn e seus dois co-diretores, Scott McFadyen e Jessica Joy Wise, retratam o metal e seus exaltados fãs de forma generosa. Mas são também realistas na caracterização, digamos, psicossocial do metaleiro típico. Ele é em geral um jovem tímido e não muito hábil com as meninas (a seita é majoritariamente masculina). As guitarras distorcidas, a bateria acelerada e as letras que falam de demônios e exaltam a misoginia oferecem uma forma de extravasar ressentimentos.

O diretor Sam Dunn na Noruega: ele é antropólogo

O documentário traz entrevistas com ídolos do metal, como Tony Iommi, guitarrista do Black Sabbath, e Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden. Alguns até demonstram lampejos de inteligência. Alice Cooper cita os massacres comuns nas peças de Shakespeare para defender um de seus shows – que, nos anos 70, foi censurado sob a alegação de que era "sangrento" demais. "Será que esse pessoal nunca leu Macbeth? Faz parte do currículo escolar inglês", diz o cantor. Não se segue daí que a mitologia pobrinha do heavy metal seja comparável aos dramas elisabetanos. A seita metaleira, afinal, tem um uso mais notório para a cabeça: seus integrantes a balançam em ritmo feroz durante os shows. Felizmente, a maioria deles limita-se a soltar suas bruxas no terreno seguro de festivais como o de Wacken, na Alemanha, exibido no documentário. Mas há extremistas. Na Noruega, o vocalista da banda Burzum foi preso por incendiar igrejas cristãs. O país escandinavo abriga os expoentes do black metal, subgênero que pretende levar a sério o satanismo que para bandas como Black Sabbath era só recurso cênico. "Satã é liberdade", prega o líder da banda Gorgoroth, entrevistado em Metal. É, os fiéis falam em línguas estranhas.

Fonte: Diário Catarinense - 06/10/07

Osso duro de roer

Tropa de Elite é um retrato da guerra urbana brasileira, vista da perspectivade um dos lados combatentes: os policiais

Jerônimo Teixeira

O capitão Nascimento (Wagner Moura) "lida" com um bandido: um batalhão de policiais honestos, mas violentos como cães de guerra

O tiroteio crítico é quase tão intenso quanto os choques entre policiais e bandidos na tela. Tropa de Elite (Brasil, 2007) só entrou em cartaz na sexta-feira no Rio e em São Paulo (a exibição no resto do país começa no dia 12), mas há tempos é um filme discutido, e também um dos mais vistos no país: pelo menos 1 milhão de DVDs piratas foram vendidos desde agosto. Depois de sua exibição no Festival do Rio, no mês passado, a patrulha ideológica abriu fogo: o filme do diretor José Padilha foi acusado de aceitar a tortura (veja quadro na pág. 137) e criminalizar o usuário de drogas. A indefectível pecha de "fascista" também foi levantada. Tudo bala perdida: Tropa de Elite não é nada disso. É um retrato desassombrado da violência urbana brasileira (ou, mais especificamente, carioca), do ponto de vista dos policiais que matam e morrem na guerrilha das favelas – de certa forma, é uma perspectiva complementar à de Cidade de Deus, que apresentava a mesma tragédia pelo lado de favelados e traficantes. Protagonista e narrador do filme, o capitão Nascimento, interpretado com uma convicção assustadora por Wagner Moura, espanca drogados, aterroriza moradores inocentes, tortura a mulher de um bandido e executa traficantes. Ele expõe suas razões com uma sinceridade fria. Tropa de Elite apresenta o ponto de vista de Nascimento, mas não o referenda. É um filme incômodo, o que talvez seja seu maior mérito.

A tropa de elite referida no título é o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro, o Bope. Treinados para a guerrilha urbana, seus membros só entram em ação em situações excepcionais, no combate em favelas. "O Bope é uma espécie de aerossol da criminalidade. Quando as moscas se acumulam, você passa o inseticida e elas morrem – mas logo vêm outras. Da mesma forma, o Bope entra na favela, mata uns marginais, mas logo aparecem outros", diz José Vicente de Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública. O filme se passa em 1997, época em que o Bope tinha pouco mais de 100 integrantes. "O PM que conseguia passar nas provas de admissão do Bope entrava para uma verdadeira seita, cujos valores incluíam a recusa de toda forma de corrupção, mas também o exercício de uma violência sem limites", explica o antropólogo Luiz Eduardo Soares, autor, ao lado dos policiais André Batista e Rodrigo Pimentel, do livro Elite da Tropa (Objetiva), que inspirou o filme. Hoje, o Bope já conta com 400 integrantes – o que representa cerca de 10% do efetivo da PM carioca – e perdeu esse caráter de seita fechada. As queixas registradas contra o batalhão na ouvidoria da Polícia Militar, porém, ainda dizem respeito quase exclusivamente a casos de violência e abuso, e não de corrupção. O Bope só participa de ações localizadas e portanto não convive com a população, o que diminui as oportunidades para pedir propinas. Seus membros também são mais bem remunerados do que o PM convencional – têm uma gratificação de 500 reais sobre o salário básico de 780 reais.

Os policiais novatos Neto e Matias carregam o cadáver de um marginal: honestidade cercada de podridão

A história de Tropa de Elite se centra no esforço do capitão Nascimento para deixar o Bope. Ele está para ganhar um filho e não quer mais participar de ações arriscadas. Precisa encontrar alguém que o substitua na tropa. Os melhores candidatos são os novatos Neto (Caio Junqueira) e André Matias (André Ramiro, ex-bilheteiro de cinema que também é novato na carreira de ator). O Bope aparece para os dois como uma ilha de honestidade no meio da podridão da PM convencional. Cada um dos dois aspirantes tem seus méritos e limitações. Neto gosta da dureza militar, mas é impetuoso demais, a ponto de às vezes colocar os companheiros em risco desnecessário. É um homem dividido. Cursa direito em uma faculdade privada e esconde dos colegas que é policial.

O núcleo dramático formado por Matias e seus colegas é um dos pontos mais polêmicos – e acertados – do filme. Os estudantes são críticos da violência policial, mas condescendentes com os bandidos de quem compram drogas. Alguns fazem trabalho voluntário em uma ONG que opera no Morro do Turano em virtual cumplicidade com o tráfico. O filme é duro na sua caricatura dos "playboyzinhos" que sustentam a bandidagem, mais duro até do que no retrato de bandidos e policiais. Estes têm clareza do papel brutal que lhes cabe na guerra das favelas. O comprador de drogas, ao contrário, vive no inferno das boas intenções: escuda-se nas "passeatas pela paz" para justificar suas contravenções hedonistas. "O usuário recreativo sabe que as drogas que ele compra vêm de grupos armados que controlam comunidades carentes. Ele faz uma escolha consciente de sustentar o crime. Não há como argumentar contra esse fato", diz Padilha.

Na exibição de Tropa de Elite no Festival do Rio de Janeiro, houve gente da platéia "torcendo" pelo Bope, com gritos de "caveira, caveira" (o logotipo do batalhão é uma caveira atravessada por um punhal). Tropa de Elite parece estar isolado entre duas formas de incompreensão: a patrulha ideológica e uma claque difusa que, revoltada ou confusa com o cerco da criminalidade, acredita que o policial "justiceiro" é a solução. Tropa de Elite, afinal, se vale de algumas convenções do filme policial americano – por exemplo, o policial que vinga a morte do parceiro –, em que justiceiros como o "Dirty" Harry de Clint Eastwood têm uma longa tradição. Mas há diferenças óbvias: nem o truculento vingador interpretado por Charles Bronson na série Desejo de Matar ameaçaria empalar com um cabo de vassoura um garoto cujo único crime foi ter aceito um par de tênis de presente dos traficantes. A torcida da caveira talvez seja mais um sintoma da crise moral e institucional que ronda a segurança pública no Brasil. Há algo de profundamente errado em uma sociedade que só aplaude sua polícia quando ela se comporta como o bandido.

NA FRONTEIRA ENTRE A CIVILIZAÇÃO E A BARBÁRIE

"Todo policial do Bope sai do quartel com seu saquinho plástico. Serve para pôr na cabeça do marginal, apertando bem na base, que fica amarrada no pescoço. O sujeito sufoca, vomita e desmaia. É meio nojento, mas eficaz." Assim o livro Elite da Tropa, de Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel, descreve o que seria a técnica mais utilizada pelos policiais para obter a localização de armas e drogas. O capitão Nascimento de Tropa de Elite é um adepto do saco plástico. Entre os 3 milhões de espectadores estimados da versão pirata do DVD, há os que se horrorizam com essas cenas de tortura – mas há também quem a aprove como forma de lutar contra a bandidagem. Essa discussão que o filme enseja no Brasil tem sido intensa nos Estados Unidos há três anos, desde a divulgação de fotos de presos torturados na prisão de Abu Ghraib, no Iraque.

O estado de emergência imposto pelo terrorismo entre os americanos fez com que a idéia de que a tortura é justificável em alguns casos passasse a ser defendida. Em Not a Suicide Pact (Não um Pacto de Suicídio), Richard Posner, um dos mais respeitados juristas americanos, escreveu que "interrogatórios coercitivos que se aproximem da tortura ou a incluam podem resistir a contestações constitucionais, desde que os resultados de tais interrogatórios não sejam utilizados em processo criminal". Traduzindo do legalês: a Constituição americana admite a tortura se as informações obtidas não forem utilizadas para levar o torturado a julgamento. A proposição é discutível, já que a oitava emenda da Constituição americana, de 1791, proíbe, com muita clareza, "punição cruel e pouco usual". Um consultor jurídico da Casa Branca, John Yoo, tentou contornar essa interdição, estreitando a definição de tortura para enquadrar somente práticas que possam causar a morte.

Os liberais que se opõem ao governo Bush têm se enredado em considerações igualmente capciosas. Argumentam, por exemplo, que as informações obtidas de terroristas torturados são irrelevantes ou pouco confiáveis. Se fosse esse o problema, bastaria desenvolver técnicas mais apuradas para infligir dor. Com essa ênfase canhestra na eficiência do interrogatório, não é de estranhar que o herói ficcional da era do terror seja Jack Bauer. Interpretado por Kiefer Sutherland na série 24 Horas, o agente do contraterrorismo não hesita em esgoelar, espancar ou dar choques nos inimigos. Como o capitão Nascimento, Bauer nunca deixa de cumprir sua missão. A suposta "eficiência" do saco plástico e do fio elétrico, porém, não deveria sequer entrar em questão. A tortura deve ser recusada porque ultrapassa uma fronteira muito nítida entre a civilização e a barbárie. Não existe falácia jurídica ou malandragem conceitual que a torne admissível.