segunda-feira, 9 de junho de 2008

Como o seriado Sex and the City inventou a mulher moderna

Fonte: Revista Época - 09/06/08
Por que uma geração inteira se identifica com as personagens da série de TV e do filme que está batendo recordes de bilheteria

Martha Mendonça e Marianne Piemonte

ÍCONE Carrie (Parker) desvia pescoços femininos em uma cena de Sex and the City. As protagonistas da série viraram referência

Quatro mulheres tagarelas, instáveis, complicadas, consumistas destronaram um dos maiores heróis da história do cinema. Desde que estreou nos Estados Unidos, há pouco mais de uma semana, Sex and the City, o longa-metragem inspirado na série de TV de mesmo nome, multiplica sua bilheteria, ofuscando até Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, a aguardada volta às telas do personagem encarnado por Harrison Ford. A distribuidora Warner previa arrecadar US$ 35 milhões com Sex and the City no primeiro fim de semana nos cinemas americanos. Foram US$ 55 milhões – que geraram o inevitável tititi sobre um novo filme. Na televisão, mesmo quatro anos depois da última temporada da série, as reprises dos episódios continuam a atrair 2,5 milhões de telespectadores a cada exibição. Em Nova York, as lojas e os restaurantes que servem de cenário para os episódios são temas de passeios turísticos de agências. No Brasil, a estréia de Sex and the City estava programada para a sexta-feira 6 de junho e também se espera uma bilheteria recorde. Por que, uma década depois de criada, Sex and the City ainda é um fenômeno? Provavelmente por ter sido a primeira, e ainda a única, série que mostra como as mulheres são – ou pelo menos como elas se vêem e gostariam de ser. Nunca antes a mulher de mais de 30 anos, cosmopolita e de classe média, fora retratada com tamanha fidelidade em suas conquistas e contradições. Todas as vezes que Carrie, Samantha, Miranda e Charlotte, o quarteto fantástico de Manhattan, sentavam-se num bar e pediam um Cosmopolitan – coquetel à base de vodca e suco de cranberry, uma espécie de amora –, milhares de mulheres no mundo reconheciam a si mesmas ou a alguma amiga, prima ou vizinha. Que mulher desta geração não se viu, em alguma fase da vida, questionadora como Carrie, romântica como Charlotte, sarcástica como Miranda ou caçadora como Samantha? Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha viraram ícones num momento em que as mulheres buscavam novas referências, passada a época da dedicação à família e a revolução dos sutiãs queimados. Nem tanto o fogão, nem tanto a selva do mercado. Daí a paixão sem fim por personagens que, ao mesmo tempo, pagam as próprias contas, correm atrás do amor e não sentem culpa por gastar uma fortuna num par de sapatos. “Essa é uma geração de mulheres que querem viver suas próprias fantasias. Solteiras, namorando ou casadas, querem ser donas de suas próprias vidas. Querem amar os homens que escolherem e comprar as roupas que quiserem”, afirma a sexóloga Pepper Schwarz, da Universidade de Washington, em Seattle. “As protagonistas de Sex and the City são ícones de um pós-feminismo que acreditam que os direitos da mulher já estão garantidos e que é hora de ir atrás dos sonhos individuais”, diz Márcia Messa, mestre em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Abaixo a elite negra

Fonte: Revista Veja - 09/06/08
A novela A Favorita prefere denunciar a luta de classesa ser politicamente correta com os negros
Marcelo Marthe

Taís e Gonçalves: garota mimada e deputado corrupto

Para o noveleiro João Emanuel Carneiro, Taís Araújo é mais que uma bela atriz – é o seu pé de coelho. Ela teve papéis de destaque nos dois folhetins de sucesso das 7 que ele escreveu. E, desde a semana passada, isso se repete em A Favorita, que alça Carneiro, de 38 anos, ao grupo seleto de autores aos quais a Globo confia as tramas das 8. É de novo por meio de Taís que ele retoma um expediente que já se tornou sua marca: a escalação de atores negros para papéis que fogem às convenções. Em Da Cor do Pecado (2004), transformou-a na primeira protagonista negra de uma novela da emissora. Depois, em Cobras & Lagartos (2006), na megera que vivia às turras com o malandro interpretado por Lázaro Ramos. A Alícia de A Favorita integra uma família negra politicamente incorreta. O patriarca Romildo Rosa (Milton Gonçalves) é um deputado corrupto em busca do terceiro mandato (qualquer eco de Brasília é coincidência). Com sua franja em estilo lambida de vaca, a filha mimada é a pedra em seu sapato. A artista plástica Alícia chama o pai de ladrão e desdenha de seu populismo (Romildo posa de "cavaleiro do povo" por ter passado fome). Ela chantageia o pai para obter dinheiro público para suas exposições, sob a ameaça de divulgar fitas que o envolveriam em obras superfaturadas. O clã se completa com o irmão Diduzinho (Fabrício Boliveira), um bêbado que o deputado quer transformar em político.
Nas novelas de Carneiro, a cor da pele é um detalhe que não impede ninguém de ser rico ou safado. O núcleo negro não está ali em nome da "afirmação racial", e sim como parte de uma certa comédia da luta de classes que atravessa A Favorita. Ela fica mais explícita no embate entre o milionário Gonçalo (Mauro Mendonça), ex-operário esquerdista que virou patrão, e o patético Copola (Tarcísio Meira), líder sindical que não se desapega do discurso da "revolução do proletariado". Gonçalo ironiza o fato de a neta Lara (Mariana Ximenes) ser de esquerda (a moça recita chavões do tipo: "Não compactuo com a exploração do homem pelo homem"). Já Copola ficou com a pulga atrás da orelha ao saber que o neto Cassiano (Thiago Rodrigues), também operário e namorado de Lara, se esbaldaria no aniversário dela, na mansão do desafeto.

Nos primeiros capítulos de A Favorita, Carneiro empreendeu um retorno às raízes do melodrama. Em vez de investir em seqüências de ação e pirotecnia como as que se viam nas últimas novelas das 8, valeu-se de uma narrativa sóbria e um elenco enxuto. Preferiu inovar nos detalhes, a exemplo do núcleo negro. Com efeito: a cena mais marcante do primeiro capítulo foi o strip-tease da personagem de Taís Araújo num comício do pai. A julgar pelos índices do Ibope, o noveleiro vai precisar de outro pé de coelho. A média de estréia de A Favorita, de 35 pontos, foi a pior de que se tem registro nas novelas das 8.

Tudor diet

Fonte: Revista Veja - 09/06/08

Maria Bolena foi amante de Henrique VIII antes de suairmã Ana. Mas A Outra tira o sal dessa história suculenta

Isabela Boscov

Durante os 118 anos da dinastia Tudor, entre 1485 e 1603, a Inglaterra passou de um reino instável, sempre acossado pelos interesses ora da França, ora da Espanha, a uma superpotência: o País de Gales foi incorporado à sua estrutura administrativa, a Irlanda foi pacificada, o inglês se tornou a língua nacional de fato, as artes floresceram, seu poder político se separou em definitivo da Igreja de Roma, o país se abriu às navegações e a riqueza se multiplicou, assim como sua influência esmagadora sobre o cenário global. Sob Henrique VIII e, em especial, sob sua filha, Elizabeth I, a Inglaterra se tornou, em suma, uma nação, e definiu muito do que até hoje constitui sua identidade. No que toca à ficção histórica, porém, esses feitos pouco interessam; para ela, o que distingue os Tudor é a sua capacidade inesgotável para a intriga.– tanto a política quanto a sexual, até porque poucas famílias reais misturaram sexo e poder de forma tão intensa e criativa. Por causa dessa imagem, Henrique VIII e Elizabeth I são disparado os reis preferidos para fins de entretenimento; e por causa dela também os roteiristas se sentem autorizados a perpetrar bobagens como A Outra (The Other Boleyn Girl, Inglaterra/Estados Unidos, 2008), que estréia nesta sexta-feira no país.

A outra, no caso, é Maria Bolena, irmã pouco mais nova da notória Ana Bolena – a cortesã por quem Henrique VIII se divorciou da rainha Catarina de Aragão e rompeu com o papa. Maria passou antes de Ana pela cama do rei e é possível que tenha tido dele um filho, que não ganhou o sobrenome Fitzroy dado aos bastardos reconhecidos pelo rei porque, a essa altura, a campanha para tornar Ana Bolena rainha andava a toda – e até para os padrões de rotatividade de Henrique VIII pegaria mal assumir um filho da irmã de sua noiva. A história mostraria que Maria teve sorte: após alguns anos de casamento, Henrique VIII se cansou de Ana e executou a ela e a seu irmão, George, com uma acusação estapafúrdia de incesto. A caçula só escapou ilesa da perseguição por estar já casada de novo, em obscuridade e sem favor na corte.

Reunindo o pouco que se sabe de Maria ao muito que é conhecido sobre Ana e adicionando à mistura alguma imaginação fundamentada, a escritora Philippa Gregory fez de A Irmã de Ana Bolena um romance repleto de detalhes saborosos sobre os costumes do período e escrito em uma prosa que não ofende. Acima de tudo, o livro (lançado aqui pela Record) contém fartas doses de maquinação – o esporte por excelência das cortes – e de ambição nua. Tudo o que a autora urdiu, o roteirista Peter Morgan, de A Outra, desmancha em sua adaptação. As Bolena juntaram seu destino ao do rei dentro de um quadro épico de disputa pelo poder; no filme, tudo se resume a uma rivalidade entre irmãs. Vá lá, que irmãs: juntas, a loira Scarlett Johansson, como Maria, e a morena Natalie Portman, como Ana, atendem à provável totalidade dos sonhos de consumo do público masculino (Eric Bana, como o ainda atlético e atraente Henrique VIII, faz as honras junto à platéia feminina). Não que Morgan aproveite a contento o potencial desse trio – a série de televisão Os Tudor é muito mais picante –, ou a crueza das intrigas que Philippa desenha em seu livro. Quando escreveu A Rainha, com Helen Mirren no papel de Elizabeth II, Peter Morgan não economizou na ferocidade; para A Outra, ele achou que beleza e suspiros já dariam conta do recado. Os Tudor, porém, foram mais

Um desfile de vaidades

A futilidade e o glamour do mundo fashion chegamàs telas com o filme O diabo veste Prada
Por Luciana Franca

Cenas: a editora Miranda Priestly (Meryl Streep) num modelito exclusivo(à esq.) e sua assistente Andrea (Anne Hathaway) em suas tarefas. Nocentro, passeando com o cachorro da chefe e, à direita, cuidando dos trajes

Roupas estonteantes de alguns milhares de dólares ganhas. Estilistas internacionalmente famosos falando freneticamente ao celular. Uma assistente, claro que não poderia faltar uma competente e ágil assistente, providenciando para a chefe um jatinho no meio da noite e exigindo as provas de impressão da nova aventura de Harry Potter para que suas filhas leiam no avião antes de o livro chegar às livrarias. Tudo isso que cerca a poderosa editora de moda do filme O diabo veste Prada, em cartaz nacional na sexta-feira 22, parece ficção hollywoodiana. Mas é pura realidade – e quem freqüenta o mundo da moda sabe que aquilo que é mostrado nessa deliciosa comédia dramática de David Frankel (baseada no best-seller homônimo de Lauren Weisberg) acontece de verdade. “Gosto da história porque retrata a indústria da moda com verdade. Rola tudo aquilo mesmo”, diz Erika Palomino, editora de moda do site que leva seu nome e da revista Key. Não é para menos. Ao longo de um ano, Lauren foi assistente de Anna Wintour, a temida e rigorosa editora de moda da revista Vogue americana. A experiência serviu como base para descrever no filme a autoritária Miranda Priestly (interpretada com elegância e ironia pela atriz Meryl Streep), editora da fictícia revista Runaway, e sua assistente Andrea Sachs (vivida por Anne Hathaway). Lauren não assume com todas as letras que buscou inspiração na ex-chefe. Mas a consultora de moda Emanuela Carvalho, que trabalhou como estagiária e assistente de moda da New York Magazine, confirma que vaidade e futilidade são como linha e agulha no chamado mundo fashion – ou seja, companheiras inseparáveis. “Nós, que vivemos nesse meio da moda, conhecemos muitas histórias sobre Anna Wintour. O livro certamente foi inspirado nela.”
Entre algumas demonstrações de arrogância, a diretora da Vogue sempre exibiu, por exemplo, a idiossincrasia de trancar vestidos exclusivos e outras peças de uma estação do ano no departamento de arquivo da revista para que nenhuma concorrente pudesse fotografá-los. “Lembro que no meio de uma sessão de fotos faltava um par de botas de pele pink do estilista Manolo Blahnik. Minha diretora, Jade Hobson, pegou o telefone e teve de implorar para Anna liberar o calçado”, diz Emanuela. Deixar as salas de desfiles da concorrida semana de moda em Paris porque as apresentações estavam alguns minutos atrasadas é um comportamento até que aceitável para alguém na posição de Anna Wintour. Mas ela chegava ao extremo de proibir que as pessoas olhassem em sua direção quando dividia com elas o mesmo elevador. Detalhe: a editora de moda de O diabo veste Prada tem o mesmo comportamento.
Os chiliques e as crises de autoritarismo de Meryl Streep, que não se cansa de repetir que na vida real a sua cabeça é ocupada “com coisas mais interessantes e mais úteis que os trajes que estão no guarda-roupa”, divertem o público masculino. Já o corte impecável dos modelos que veste e a classe com que os desfila causam suspiros (e, vá lá, uma ponta de inveja) na platéia feminina. São os fabulosos figurinos usados tanto por ela quanto pela sua assistente que roubam a cena do filme – e mais uma vez, também nisso, o frufru do filme empata com o da vida real. A garota comum se contamina com o novo universo e começa a usar as grifes caras tiradas do guarda-roupa da Runaway. A consultora Emanuela endossa: “O que me salvava na época em que trabalhava em Nova York eram os bazares que as grifes promoviam para a imprensa. Comprei bolsa Fendi e carteira Dolce & Gabbana por US$ 50. Era uma forma de andar chique, já que o salário era pouco.” E, nesse campo, o chique, seja ele o que for, é tudo. “Moda é glamour. E o glamour é o que move e excita esse mundo”, diz ela.

Sua vida no DVD

Fonte: Revista Isto é - 09/06/08
Virou mania presentear os amigos com produções para fazer chorar

Por Celina Côrtes

Imagine ser surpreendido na festa de aniversário com um pequeno documentário que percorra algumas de suas melhores lembranças, ao som de músicas definitivas em sua vida, pontuado por depoimentos das pessoas mais queridas! Esse pacote de fortes emoções está turbinando empresas que colhem os resultados da popularização dos gravadores de DVDs. As produções seguem um padrão televisivo, do tipo “esta é a sua vida”. E viraram o sonho de consumo da garotada aos mais velhos. “De um ano para cá, nossa demanda cresceu muito. Fazíamos dez gravações mensais, hoje fazemos 30”, contabiliza Ricardo Langer, um dos sócios da Vídeo Shack Laboratório, uma ex-locadora de vídeos em Ipanema, na zona sul do Rio.

DEMANDA Langer viu triplicar em um ano o pedido de gravações por mês

O trabalho é até simples. Requer computadores e uma ilha de edição, que pode ser pilotada por uma única pessoa. Solicitações de DVDs desse gênero costumam ser feitas por parentes e amigos. Os mais organizados já chegam com o acervo de imagens escolhido e basta um dia para concluir a produção. Mas há clientes que nem sequer sabem o que querem e ainda dependem do laboratório para produzir depoimentos, o que soma mais dois ou três dias de dedicação. Garimpadas as cenas, os produtores abusam de recursos de animação proporcionados pela tecnologia. Em alguns casos, os DVDs provocam cascatas de lágrimas. “Foi muito emocionante ouvir minha irmã dizer eu te amo, coisa que ela não tem coragem de falar ao vivo”, comenta Fernanda Spyer, que recebeu um belo flash-back de sua trajetória quando fez 18 anos.

Mas nem sempre as empresas têm tanto trabalho. Na carioca Supervídeo Produtora, outra antiga locadora de Ipanema, muita gente traz o serviço quase completo, deixando apenas a edição final sob o cuidado dos especialistas. São pessoas que dominam softwares de vídeos e outros programas de computador para incrementar o DVD. Algumas delas também estão se arriscando no novo segmento. A programadora visual Heloisa Pinheiro, 47 anos, e a arquiteta Márcia Dal Poz, 50, já pensam em profissionalizar a atividade que começou como brincadeira. “É fácil e delicioso fazer”, resume Heloisa. O resultado tem um sabor de eternidade até para o mais comum dos mortais.

Tico-tico no fubá

Fonte: Revista Isto é - 09/06/08
Vida de Carmen Miranda vira motivo de disputa

Por Celina Côrtes

"Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim/ Oh meu bem não faz assim comigo, não/ Você tem, você tem que me dar seu coração." A marchinha de Joubert de Carvalho, um dos maiores sucessos de Carmen Miranda, retrata bem o temperamento generoso da Pequena Notável, que do alto de seu 1,53 m nunca mediu esforços para agradar ao público e aos amigos que a cercavam. Passados 51 anos de sua morte, o uso de sua imagem motiva uma disputa judicial injusta com um dos maiores mitos nacionais. A briga envolve os herdeiros, a ex-mulher de Caetano Veloso, Paula Lavigne, o escritor Ruy Castro e o diretor de cinema Aníbal Massaini Neto.
Em 1998, a produtora Rio Vermelho arrematou por US$ 200 mil (cerca deR$ 400 mil) os direitos sobre a imagem de Carmen Miranda. Era um dos projetos mais ambiciosos das sócias Paula Lavigne e Renata de Almeida Magalhães,que planejavam fazer um filme. Acabaram envolvidas em um projeto da Rede Globo de lançar uma minissérie antes do centenário de Carmen, que se completa em fevereiro de 2009.

Quase ao mesmo tempo, Massaini, diretor do documentário Pelé eterno, ambicionava realizar um sonho de seu pai, Oswaldo, e levar Carmen às telas. Para isso, sondou seu colega Carlos Manga para dirigir uma produção sobre a artista. O veterano Manga, porém, abandonou a família Massaini e embarcou no projeto da minissérie da Globo, convidando, inclusive, a novelista Maria Adelaide Amaral para escrevê-la. “A idéia ficou só no desejo”, lamenta Massaini. O problema é que os dois projetos – o da Globo e o de Massaini – são alvo de processos movidos pela Copyrights Consultoria Ltda., representante dos herdeiros de Carmen, que temem pelo uso da imagem da artista.

Carlos Manga planeja minissérie
Paula Lavigne tem os direitos
Aníbal Massaini quer fazer filme
Ruy Castro se associou à Globo

“Em tese, a produtora (Rio Vermelho) não teria o direito de fazer o filme porque o contrato com eles termina este mês”, alega a advogada da Copyrights, Adriana Vendramini. O que se sabe é que só 10% do valor do contrato foi quitado. Mas a produtora acaba de obter o direito de pagar o restante da dívida em juízo. “Cumpro o que a Justiça determinar”, rebate Paula Lavigne. Outra envolvida é a empresa americana CMG Worldwild, com escritório no Rio. Entre as 300 celebridades cujos direitos de imagem estão sob seus cuidados estão Marilyn Monroe, James Dean e, claro, Carmen Miranda. Verdinhas à vista: “Há interesse dos estúdios americanos em fazer um filme sobre Carmen”, antecipa a diretora Kitty Monte Alto.

O escritor Ruy Castro, autor de biografias como a de Garrincha e a de Nelson Rodrigues, que vendeu no ano passado à Globo os direitos sobre seu livro Carmen: uma biografia – a vida de Carmen Miranda, a brasileira mais famosa do século XX, um calhamaço de 600 páginas, parece perdido diante de tanta polêmica. “Não há impasse, apenas um desencontro momentâneo”, acredita Castro. A Central Globo de Comunicação informa que os direitos do livro foram comprados por R$ 50 mil,“como os de várias outras obras”, mas alega que o projeto ainda está em estudos. Quem conheceu Carmen de perto fica triste diante desse quiproquó. “Ela foi muito especial, isso não tem nada a ver conosco”, suspira Carmen Guimarães, 70 anos, filha de Cecília, única dos seis irmãos ainda viva, com 92 anos.

Mitos da lição de casa

Fonte: Revista Isto é - 09/06/08
Excesso de tarefas e cobrança dospais durante o estudo são errosapontados por educadores

Por Lena Castellón

A cena é comum. Caderno aberto, livro num canto e a cara aborrecida. Não da criança, mas da mãe. Discutir por causa da letra é praxe. Assim como irritar-se devido à lentidão na execução dos exercícios ou desesperar-se porque o herdeiro não entende o que ela cansou de repetir. A lição de casa virou um tormento para muitos pais. Especialmente agora, quando os estudantes correm contra o tempo para evitar a recuperação. A “ameaça” faz aumentar a pressão da família, a cobrança por um bom desempenho e os insistentes pedidos para que o filho se dedique mais ao estudo. Tudo isso sem deixar de lado o capricho nas tarefas.

Mas acrescentar horas ao período dedicado às atividades não ajuda a criança. Nem travar batalhas com o filho por causa da lição. É o que demonstra uma série de pesquisas feitas nos Estados Unidos. Levantamento da Universidade de Michigan com 2.900 jovens americanos revelou que o tempo gasto com as tarefas aumentou 51% entre 1981 e 2004. Outro trabalho, conduzido na Duke University, mostrou que esse acréscimo não trouxe melhora na performance. O estudo apontou ainda que os estudantes do ensino fundamental que dedicaram de 60 a 90 minutos diários para os deveres e os alunos do ensino médio que cumpriram mais de duas horas na execução deles tiraram as notas mais baixas.

Por esses e outros achados, o educador Alfie Kohn, autor do livro The homework myth (O mito da lição de casa, em tradução livre), propõe uma nova forma de trataro assunto. Para ele, as crianças poderiam trocar os exercícios convencionaispor atividades mais envolventes, como entrevistar os parentes para conhecer a história da família.

No Brasil, embora a escola não seja integral como nos Estados Unidos, também há defensores de novos meios de lidar com o dever. Motivos não faltam. A tarefa, quando executada apenas por obrigação, não estimula a aprendizagem. Cumprida sob as broncas dos pais, traz uma percepção negativa: aos olhos do filho, lição vira sinônimo de chatice. Com isso, as oportunidades de treinar e captar conceitos se diluem. “Ver o jogo de empurra diante do conhecimento me entristece. Há professores que passam o dever de ensinar para os pais, que o devolvem para a escola. Os alunos refletem esse descompromisso e também querem delegar para alguém a lição, seja para os irmãos, seja para a internet”, declara Nilce da Silva, professora da Faculdade de Educação da USP.

Para a Ph.D. em educação infantil Fátima Guerra Sousa, da Universidade de Brasília, o ideal seria oferecer horário integral para os jovens. Mas já que isso é raro no País, cabe aos colégios discutir quando e como passar lição de casa. “Eu reduziria a tarefa. Em alguns lugares, ela é o atestado de que a escola não consegue trabalhar a aprendizagem na perspectiva do prazer e do envolvimento do aluno”, afirma. Nas suas palavras, se o interesse é despertado de outra forma, não é necessário passar tantos exercícios para a casa. O próprio estudante vai atrás de informações. Fátima acha importante distinguir os níveis de ensino e é contra pedir tarefas para menores de seis anos. “O aprendizado deles ocorre por meio de brincadeiras”, considera.

Na visão de Clélia Pastorello, educadora de São Paulo, escolas com projeto educacional sempre revêem a lição. Esse esforço deve ser feito. Afinal, em certas escolas, dificilmente a tarefa direciona a criança e o adolescente a aprender por si. Outro problema é que os pais não sabem como participar. “Interferir não é um mal, desde que o adulto se coloque ao lado para estimular, não para dar respostas”, ensina Clélia. Quando os pais começam a palpitar demais nos trabalhos, eles prejudicam o desenvolvimento da autonomia das crianças. “Muitas famílias ficam estressadas com o que julgam estar errado e acabam assumindo a responsabilidade pela tarefa”, comenta a neuropsicóloga infantil Ana Olmos. A dica, portanto, é não interferir demais e controlar a vontade de apagar a lição. Ana tem ainda uma sugestão para aliviar os dilemas cotidianos: criar um horário para que a lição seja feita no colégio. Com isso, a criança aproveitaria melhor o tempo em casa, com direito a brincar e sentir prazer entre os seus. Seria um aprendizado e tanto.