segunda-feira, 28 de abril de 2008

Rio de Janeiro, cenário natural

Fonte: Revista Isto é - http://www.istoe.com.br/ Acesso em: 28/04/08

O livro O Rio no cinema mostra que a cidade não serve apenas de cenário para filmes violentos como Tropa de elite

ADRIANA PRADO

1. REFÚGIO Edward Norton se esconde em um barraco no filme O incrível Hulk
2. EXOTISMO Passista no clássico francês Orfeu negro
3. EFEITO Cary Grant e Ingrid Bergman em Interlúdio

Não são apenas os fãs de quadrinhos que aguardam com ansiedade a estréia em junho de O incrível Hulk, com parte de seu enredo rodado no Rio de Janeiro. O trailer do blockbuster orçado em US$ 125 milhões mostra uma perseguição nos becos da favela Tavares Bastos, no Catete, na zona sul, e, segundo consta, a história também vai mostrar ao mundo ângulos mais cinematográficos da Cidade Maravilhosa. Após um jejum de quase 20 anos, o Rio volta à mira das grandes produções internacionais. Quem acompanha a trajetória do agente secreto 007 sabe que ele já enfrentou criminosos terríveis no Pão de Açúcar. A fama da cidade como “maravilha de cenário” para as produções de Hollywood é bem mais antiga e pode ser conferida no livro O Rio no cinema (Nova Fronteira, 192 págs., R$ 95), do crítico carioca Antonio Rodrigues.

Num levantamento completo, ele reuniu produções estrangeiras e nacionais que tiveram a cidade como set de filmagens. São mais de 300, mas só os mais significativos (73 títulos) ganharam comentários na obra, fartamente ilustrada.

A lista vai de Voando para o Rio, com Fred Astaire e Ginger Rogers, de 1933, a Tropa de elite, lançado no ano passado. Radicado na Europa há mais de 20 anos, Rodrigues afasta-se do lugar-comum de que o cinema idealiza ou demoniza a cidade. No passado, quando a violência era menor, as equipes americanas vinham atrás de cartões-postais. Mais recentemente, as favelas se tornaram o foco de atenção. “Os europeus só se interessam pelos filmes estrangeiros que mostrem algo diferente, exótico”, diz.

Esse interesse atual deve-se ao sucesso de Cidade de Deus e Tropa de elite. E mira a objetiva para os morros. Na aventura tropical de Hulk, por exemplo, o cientista Bruce Banner (Edward Norton) tenta despistar seu maior inimigo, o general Thaddeus “Thunderbolt” Ross (William Hurt), em um barraco. Nem sempre foi assim, e, para provar a tese, o livro dedica especial atenção a Voando para o Rio, de 1933. Segundo Rodrigues, essa foi a primeira produção a fazer da cidade uma co-protagonista. O diretor Alfred Hitchcock ajudou a espalhar essa imagem mundo afora. E com um thriller em que os protagonistas Ingrid Bergman e Cary Grant nem chegaram a pisar em locações como a praia de Copacabana, onde acontece o beijo romântico de Interlúdio (1946). Nesse caso, usou-se o manjado truque do back projection (projeção no fundo).

terça-feira, 22 de abril de 2008

Quero ser cineasta

Fonte: Revista Isto é - 22/04/08

Com a profissionalização do mercado, trabalhar em cinema hoje é uma carreira viável, que exige jovens bem formados

Por CARINA RABELO

ESTRÉIA O documentário de Fernando Grostein sobre Caetano Veloso fez sucesso no festival É Tudo Verdade

Martin Scorsese estudou para ser padre, Brian de Palma se formou em física e Pedro lmodóvar era mascate. Tornaram- se cineastas graças ao acaso e ao talento. Ao contrário dos mestres, os jovens cinéfilos de hoje têm um caminho a trilhar. O mercado de cinema brasileiro está se profissionalizando. A produção de filmes no País cresce a cada ano, há mais cursos de graduação, maior demanda por profissionais qualificados e mais recursos para fazer filmes. “Hoje, o cinema já é considerado uma profissão ou uma carreira possível”, diz o cineasta Fernando Meirelles, que se formou em arquitetura na década de 70, montou a produtora O2, mas só conseguiu emplacar no cinema em 2001, com Domésticas. “O crescimento da indústria do audiovisual aconteceu depois que filmes como Carlota Joaquina e Central do Brasil trouxeram o público para ver filmes nacionais”, acrescenta Meirelles, que, depois do sucesso de Cidade de Deus, construiu uma carreira internacional.

Os aspirantes a cineastas de hoje sabem que não adianta ter uma câmera na mão e uma idéia na cabeça. “É um mercado que exige noções de gestão cultural e captação de recursos”, afirma Evandro Cunha, presidente do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual. Foi com a consciência de que cinema também é negócio que Fernando Andrade Grostein, 27 anos, se tornou um dos jovens de destaque no mercado atual. Cinco anos atrás, quando gravou dois clipes e um show de Caetano Veloso, teve a idéia de fazer um documentário sobre o artista. Ele acompanhou o cantor na viagem de lançamento do disco A Foreign Sound, com passagens em Nova York e no Japão e realizou o seu primeiro filme, Coração Vagabundo, sucesso no festival de documentários É Tudo Verdade. “Cinema é arte e negócio. Para fazer filmes, a gente precisa de boas idéias e um profissional que veja o potencial de retorno do investimento”, diz ele.

VERBA Carolina filmou festas populares e conseguiu recursos para um longa

Vencer a falta de recursos para conseguir tirar as idéias do papel é o grande desafio para quem está começando. A cineasta Carolina Paiva, 33 anos, usou a criatividade. Logo após a faculdade, ela elaborou um projeto de documentário das festas populares do Nordeste e apresentou o material às prefeituras das cidades, que aprovaram a idéia. Assim, construiu um portfólio, fez seu primeiro longa e agora finaliza o segundo, um documentário sobre o cantor Genival Lacerda. “O jeito é ter cara-de-depau e correr atrás de patrocínio, sem depender dos incentivos federais”, diz. Muitos iniciantes encontram nas mídias portáteis e na internet uma nova forma de divulgação do trabalho. Malu Teodoro, 21, produziu um vídeo para celular e o material concorreu ao Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro. Só precisou de uma câmera digital e softwares de edição de vídeo. “O celular é uma mídia acessível que nos permite testar várias possibilidades”, afirma.

Sete amigos da Universidade de São Paulo (USP) também se valeram da tecnologia para divulgar o que produziram. Depois de disponibilizar o vídeo Matrix Baixo Orçamento no Youtube, eles fecharam uma parceria com a produtora Maria Bonita Filmes e fizeram o curta O Dia do Beijo, que foi exibido no canal Multishow, na semana passada. “Eles têm a tecnologia à disposição e podem testar diversos formatos até encontrarem uma forma de expressão visual”, avalia Roberto Farias, presidente da Academia Brasileira de Cinema e expresidente da Embrafilme. É um caminho para a geração do futuro.