domingo, 30 de setembro de 2007

Meirelles filma Julianne Moore em Higienópolis

Fonte: Jornal O estado de São Paulo - 30/09/07

Atriz americana grava ‘Ensaio sobre a Cegueira’, de diretor brasileiro

Valéria França

Acompanhada de dois seguranças enormes, a atriz hollywoodiana Julianne Moore foi vista durante a semana desfilando sua elegante brancura nos Jardins, bairro da zona sul de São Paulo. Os atores Danny Glover e Mark Ruffalo também estão na capital. Todos fazem parte do elenco do quinto longa-metragem do cineasta Fernando Meirelles, Ensaio Sobre a Cegueira (em inglês, Blindness), uma co-produção entre Brasil, Japão e Canadá. Depois de ser contratado pela produtora inglesa Potboiler Productions para dirigir o Ensaio Sobre a Cegueira, Meirelles exigiu que a cidade fizesse parte do roteiro das filmagens. Antes do Brasil, a equipe esteve em Montevidéu, no Uruguai.

As primeiras cenas paulistanas foram rodadas no domingo, na Marginal do Pinheiros. Hoje, o cenário é o bairro de Higienópolis, na zona oeste. A Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap) foi requisitada para funcionar como um quartel-general da equipe. Os trailers da produção ficam no estacionamento do campus. Em contrapartida, a faculdade pediu que cinco alunos do curso de cinema acompanhassem a equipe do longa-metragem, uma produção de US$ 20 milhões.

“Estamos acostumados com produções menores”, diz Luis Gustavo Bricks Bourg, de 21 anos, aluno do 6º semestre do Faculdade de Cinema da Faap. “Só participei de curtas, que foram parar em mostras alternativas.” Bourg é um dos cinco escolhidos que acompanham hoje as gravações. “Eu sou fã do Fernando Meirelles. Quando um brasileiro se destaca, o mundo olha o cinema nacional de uma outra forma.”

Baseado no romance de José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira trata de uma inexplicável epidemia de cegueira, que transforma personagens em animais egoístas lutando por sua própria sobrevivência.

Por conta das filmagens, fica interditado o tráfego de veículos na Rua Piauí, no trecho entre as Ruas Aracaju e Doutor José de Queiroz, e no cruzamento com a Rua Armando Penteado. A CET ainda mantém bloqueio temporário no cruzamento das Ruas Aracaju e Pernambuco.

Desde que foi anunciada a chegada das estrelas internacionais, a assessoria da O2 - produtora de Meirelles - tenta esconder os locais de filmagens para evitar tumulto. “Pelo que soube, o cenário principal é a Rua Piauí. Mas a produção não passou o endereço, portanto, pode ser uma cena externa ou rodada num edifício”, diz Bourg. O tumulto é quase inevitável. Julianne Moore tem dado autógrafos por onde passa. Hoje, não será diferente.

Para amanhã estão previstas gravações no centro da cidade, mas ainda não se sabe ao certo o endereço.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Um filme com a cara da Mostra

Bem-Vindo a São Paulo revela a metrópole por meio do olhar estrangeiro

Luiz Carlos Merten

Leon Cakoff gosta de dizer que Bem-Vindo a São Paulo, que estréia hoje, é um filme sem orçamento. Mas tinha de ser assim. A idéia surgiu há três anos, durante as comemorações dos 450 anos de São Paulo. A cidade é tão grande, um mosaico tão variado de imigrantes, de influências e culturas. Como se poderia retratar toda essa diversidade no cinema? Por meio do olhar estrangeiro, claro. 'Em qualquer lugar é assim - o estrangeiro consegue captar coisas que escapam aos habitantes, porque, afinal, as pessoas não reparam no que faz parte do seu cotidiano', explica Cakoff. Um dos personagens mais conhecidos da cena cultural paulistana - criou a Mostra Internacional de Cinema, que ao longo de mais de 30 anos vem sendo referência no País e no exterior -, ele fez do seu evento um marco de defesa da diversidade. Um filme com o selo da Mostra não poderia ser diferente.

Foi um filme feito por (e entre) amigos. Cakoff e sua mulher, Renata Almeida, não precisaram de muito esforço para persuadir os diretores estrangeiros, convidados da Mostra, a registrar seu testemunho sobre a cidade. Na maioria das vezes, os filmes foram feitos não apenas sem orçamento, mas também sem equipe. Os próprios diretores manejavam a câmera, uma mini-DV, e a equipe muitas vezes se resumia ao acréscimo de mais uma pessoa, geralmente um intérprete. Raros episódios precisaram mais do que isso. Daniela Thomas precisou armar um dispositivo para prender a câmera na frente de um carro; Kiju Yoshida necessitou de um tripé; Wolfgang Petersen, de um vôo de helicóptero. E só.

O primeiro a gravar seu episódio foi Phillip Noyce, cineasta australiano que desenvolveu boa parte de sua carreira nos EUA. Quando aqui esteve, para mostrar Geração Roubada, Noyce disse que havia sido um bom soldado na guerra de Hollywood pela ocupação dos mercados de todo o mundo, com sucessos como os da série com o agente secreto interpretado por Harrison Ford, em Jogos Patrióticos e Perigo Real e Imediato. Noyce teve carta branca - como os demais diretores - para filmar o que quisesse. Ele circulou pelo centro de São Paulo. Topou com a excursão formada por um grupo de estudantes do interior. Noyce descobriu a cidade com eles. Optou por filmar São Paulo do Marco Zero, na Praça da Sé.

Todos os demais episódios foram sendo feitos com a mesma informalidade. 'Quando convidamos o Wolfgang (Petersen), ele participava da campanha para que seu filme Adeus, Lenin fosse indicado para o Oscar', lembra Cakoff. 'Wolfgang voou daqui para Los Angeles, mas prometeu voltar. Voltou em março do ano seguinte (2005), para concluir o trabalho.' Tsai Ming-liang fez o episódio dele horas antes de regressar a Taiwan. Como o acaso interferiu em vários dos filmes, ele encontrou um tanque de água - e todo mundo sabe como o diretor de O Rio é atraído pelo tema. O israelense Amos Gitai realizou seu curta, que não teve tempo de editar, mas deixou instruções que Leon Cakoff e Renata Almeida seguiram escrupulosamente.

No total, são 17 episódios que retratam a grandeza e a miséria de São Paulo. Não possuem todos a mesma duração. Os mais curtos, em torno de 2 minutos cada, são de dois estreantes - o espanhol Max Lemcke e o italiano Andrea Vecchiato. O mais longo, o episódio do japonês Yoshida, com sua mulher Mariko Okada. A história daquela garçonete evoca os primórdios da colonização japonesa no Brasil, quando os japoneses, lembra Leon Cakoff , 'vieram substituir os negros, como mão de obra barata, após a libertação dos escravos'. Se o filme foi feito sem orçamento, a finalização, pelo contrário, teve de ser bancada. A Anhembi Turismo entrou com os recursos e a TeleImage foi decisiva no processo de finalização - afinal, o filme foi feito e está sendo exibido em digital.

São 8 cópias em todo o País, incluindo duas em São Paulo, uma no Rio e as restantes em Curitiba, Porto Alegre, Fortaleza e Brasília. O próprio Cakoff encarregou-se de dar unidade ao filme. Caetano Veloso - homenageado por Maria de Medeiros, que recita com emoção os versos de Sampa em seu episódio - foi chamado para fazer a narração. Por que? 'Porque eu precisava de uma voz especial', diz Cakoff. André Abujamra fez a música, menos a do episódio de Daniela Thomas, assinada pelo irmão da diretora, o compositor Antônio Pinto. Bem-Vindo a São Paulo estréia com uma promoção atraente para cinéfilos. Você vê o filme, cria uma frase sobre a cidade, acrescenta o ingresso e concorre a duas permanentes da Mostra, em outubro.

(SERVIÇO)
Bem-Vindo a São Paulo (Brasil/2007, 100 min.) - D
ocumentário. Dir. Kiju Yoshida, Phillip Noyce, Wolfgang Becker e mais 15 diretores. 12 anos. Espaço Unibanco 1 - 15h40, 17h40, 19h50, 22h (sáb. também 0h). Unibanco Arteplex 5 - 13h20, 15h20, 17h20, 19h20, 21h20 (sáb. também 23h20). Cotação: Regular

Fonte: Jornal O estado de São Paulo - 21/09/07

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Desordem na Tropa de Elite

Filme sobre a polícia teve até seqüestro da equipe durante filmagens

AINA PINTO

ESCOLA Cena em que Moura ensina Junqueira e Ramiro reproduz treinamento com a polícia

Tropa de elite, filme de José Padilha sobre as entranhas de um batalhão da polícia militar, antes mesmo de estrear já é o maior da história do cinema nacional em dois quesitos: custo de produção (R$ 10,5 milhões) e pirataria. Nunca um filme foi tão copiado ilegalmente antes de ir ara a tela. “Queríamos levantar várias questões sobre violência, sobre o usuário de drogas que financia o tráfico. E surgiu também a discussão sobre a pirataria”, diz o produtor Marcos Prado. Mesmo que centenas de pessoas já tenham visto uma das muitas cópias que circulam pelas ruas e pela internet, ele acredita que o filme ainda possa obter um terceiro recorde: bilheteria de 5,3 milhões de espectadores, número só alcançado por 2 filhos de Francisco.

Quando as cópias piratas começaram a circular, surgiram comentários de que se tratava de uma ação de divulgação. “Seria um marketing burro. Ninguém divulgaria um filme a um mês do lançamento”, explica Prado, admitindo que houve, sim, uma divulgação involuntária. Três envolvidos no vazamento das imagens, funcionários da Drei Marc (empresa de legendagem) estão sendo investigados. Houve até boatos de que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, tivesse visto uma cópia pirata. “Fizemos uma exibição privada para o governador para que ele pudesse falar sobre o filme”, diz o produtor.

A primeira exibição pública oficial será na abertura do Festival do Rio, na quinta-feira 20, e ele só entra em cartaz em 12 de outubro. A história se passa em 1997, quando Nascimento (Wagner Moura), capitão da tropa de elite da polícia, decide deixar o trabalho perigoso para cuidar do filho, mas, antes, tem de encontrar um substituto. O roteiro, baseado em depoimentos reais, foi comprado por R$ 3,9 milhões pela produtora americana Weinstein.

PRODUÇÃO Filme custou R$ 10,5 milhões

Mesmo com o aporte financeiro, os problemas não foram poucos durante as filmagens. Uma equipe técnica chegou a ser seqüestrada no morro Chapéu Mangueira. Todos voltaram ilesos, mas as armas usadas pelos atores sumiram. Depois disso, ficou difícil encontrar outra locação, porque os “donos” de outros morros temiam a presença da polícia. Patrocinadores também desistiram de financiar o filme ao saber do roteiro.

Além dos perigos nas locações, os atores tiveram treinamento com policiais do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) – e sofreram. “Alguns globais não agüentaram e foram substituídos”, conta Prado. O elenco final é formado por Caio Junqueira, André Ramiro e Fernanda Machado, além de Wagner Moura. Quando todos os empecilhos pareciam terminados, apareceu outro. Alguns policiais ainda tentam impedir o lançamento porque querem identificar quem deu depoimentos ao diretor. “O filme é uma obra artística. É uma ficção baseada em fatos reais. Temos nossos advogados para explicar isso”, avisa Prado.

A vitória do homem comum

Fonte: Revista Isto é - www.istoe.com.br

Filmes fazem sucesso com atores que estão longe dos padrões de beleza de Hollywood

MARIANE MORISAWA
ROMANCE APROVADO

O gordinho Seth Rogen engravida a loiraça Katherine Heigl em Ligeiramente grávidos

Um ruivo gordinho que não trabalha e vive numa república falando besteira com os amigos conquista uma das loiras mais quentes do momento. Impossível? Pois muita gente achou que Seth Rogen, ator principal de Ligeiramente grávidos, podia se dar bem com Katherine Heigl, a doutora Izzie da bem-sucedida série Grey’s anatomy. Tanto que a comédia custou apenas US$ 30 milhões e arrecadou assombrosos US$ 148 milhões nos EUA, mesmo tendo estreado em meio aos tubarões do verão americano. Deixou para trás filmes como Treze homens e um novo segredo, recheado de bonitões. “É engraçado que existam mais homens do que mulheres que não acreditam nisso”, disse Rogen em entrevista recente. “Olho para o Ben, um perdedor total, sem dinheiro. Mas as mulheres dizem que é possível. Katie Heigl fica indignada quando as pessoas perguntam isso a ela.”

Cera, Mintz-Plasse e Hill, os astros de Superbad.

Ligeiramente grávidos, dirigido pelo mesmo Judd Apatow do sucesso O virgem de 40 anos, não está sozinho ao mostrar que os homens comuns, desses que se vêem nas ruas e não apenas nas telas de cinema, ganharam prestígio em Hollywood. Superbad – é hoje, que estréia em 19 de outubro no Brasil e foi escrito pelo mesmo Rogen em parceria com Evan Goldberg, também virou fenômeno com três garotos desconhecidos e caras de nerd como protagonistas. A produção, que custou US$ 20 milhões e já fez US$ 103 milhões de bilheteria, alçou ao estrelato Jonah Hill, 23 anos, Michael Cera, 19, e Christopher Mintz-Plasse, 18, ao exibir suas tentativas de conseguir bebida e, assim, impressionar garotas. Nada que outros adolescentes não tenham feito na vida, e aí está o segredo dessa comédia adolescente recheada de piadas impróprias para menores. No último Comic Con, a maior feira de quadrinhos do mundo, Hill, Cera e Mintz-Plasse foram bastante assediados por garotas – uma, inclusive, chegou a pedir que um deles autografasse seu peito.

Homer, típico americano da classe média

É só olhar o resto da lista das maiores bilheterias do ano para ver que os três atores são apenas os exemplos mais recentes dessa onda. Outra grande revelação de 2007 é o ator Shia LaBeouf, que caiu nas graças de Steven Spielberg e protagoniza a terceira maior renda de 2007, Transformers (US$ 311 milhões nos EUA). O ator de 21 anos, que está filmando a quarta aventura de Indiana Jones, não pode ser considerado exatamente um galã: é bonitinho apenas. Poderia ser o menino do apartamento ao lado. E, no entanto, é a maior aposta da indústria cinematográfica no momento.

GENTE COMO A GENTE
Shrek é um ogro. Como tantos homens que existem por aí, é rude, mas tem bom coração.

Mesmo os personagens que não são interpretados por gente de carne e osso expõem a preferência de Hollywood e do público pelos homens comuns. Shrek é um ogro, mas foi construído sobre bases humanas: é um sujeito que apenas deseja viver ao lado da mulher amada em seu tranqüilo pântano. E Homer Simpson foi criado à imagem e semelhança de grande parte dos chefes de família da classe média americana.

Shia LaBeouf, de Transformers, é a grande aposta de Hollywood

Nem os heróis são mais os mesmos. O elenco do seriado Heroes é povoado de gente bonita e sarada – só que o personagem de maior sucesso é o Hiro de Masi Oka, que passa longe do estereótipo do galã. A tendência tomou força a partir do Homem-Aranha de Tobey Maguire. Os estúdios têm apostado mais em gente como a gente para viver seus super-heróis. Depois do fortão Eric Bana, quem vai encarar o Hulk é Edward Norton – um grande ator, mas um cara comum. Robert Downey Jr. vai vestir o uniforme do Homem de Ferro. E Seth Rogen, ele de novo, está cotado para ser o Besouro Verde.

Entrevista: Rodrigo Pimentel

Sociedade aceita tortura policial, diz ex-PM que inspirou filme

Rodrigo Pimentel, co-autor do roteiro de "Tropa de Elite" e inspiração para o personagem de Wagner Moura, diz que prática, "lamentavelmente, funciona"

RAPHAEL GOMIDEDA
SUCURSAL DO RIO

Co-autor do livro "Elite da Tropa" e do roteiro do filme de "Tropa de Elite", o ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) Rodrigo Pimentel, que inspirou o personagem de Wagner Moura no longa, diz que a PM do Rio é violenta porque, "lamentavelmente, a tortura funciona". Aos 36 anos, é coordenador de segurança de um banco privado. Ontem, um grupo de 23 oficiais da PM anunciou que entrará hoje na Justiça com um pedido de proibição do filme "Tropa de Elite". Os policiais afirmam que a obra põe em risco a integridade física dos policiais do Bope, além de ser ofensiva à corporação. Planejam ainda uma segunda ação judicial, em que pedirão indenizações por danos morais.

FOLHA - A sociedade aceita a violência e a tortura da polícia?
RODRIGO PIMENTEL - Há no Rio um pacto velado de ignorar os direitos humanos e a tortura. Dezenas de professores, jornalistas, policiais e promotores que viram o filme me ligam, mas ninguém comenta as cenas de tortura. Passam despercebidas. Imaginei que fosse um tratado sobre a tortura e as pessoas a ignoram. O foco passa a ser corrupção policial e tráfico. Cito a morte de João Hélio e a capa de jornais de Rio reproduzindo a foto dos bandidos presos, algemados, e os policiais enforcando os presos, apertando o gogó. Aquela cena por si só já define tortura. Não sou solidário com aqueles bandidos pelo que fizeram, mas não se viu no Rio voz contra isso. A operação do Alemão, por exemplo, acho legítima e gostei do resultado, de 19 mortos.

FOLHA - Gostou?
PIMENTEL - Foi um marco da polícia, que ali saiu da passividade para a atividade, com investimento em inteligência.

FOLHA - Na sua opinião, houve assassinatos no Alemão?
PIMENTEL - É bem provável e razoável [supor] que possa ter havido algum tipo de execução. A OAB, que tradicionalmente tem compromisso com a legalidade, exonerou o presidente da comissão de Direitos Humanos [João Tancredo] que tentou investigar o caso.

FOLHA - Os assassinatos fazem parte do modus operandi da polícia?
PIMENTEL - Boa parte das mortes "em confronto" com a polícia são execuções.

FOLHA - Por que a tortura é usada?
PIMENTEL - Lamentavelmente, a tortura funciona, e o filme deixa isso bem claro. O PM chega ao assassino de um colega com muita rapidez. É eficiente, embora não seja ética nem legal.

FOLHA - E como ocorre na PM?
PIMENTEL - No Bope nunca se pregou a tortura. Nunca um comandante reuniu a tropa e ensinou a torturar, oficialmente. Fiquei sete anos lá -entrei 2º tenente e saí capitão- e nunca vi pregação contra a tortura. Mas nunca vi um comandante dizer: "Não quero, não aceito e vou prender quem fizer".

FOLHA - Em que situações a tortura acontece?
PIMENTEL - Tem uma situação típica da ação policial: o marginal é preso com uma pistola. O PM vai "trabalhar o marginal", esse é o termo, interrogar onde estão os comparsas, as armas, o pó. "Trabalhar" virou sinônimo de tortura. Acredito que o marginal não vá dar tudo isso de mão beijada, até porque terá de prestar contas por isso.

FOLHA - O Capitão Nascimento do "Tropa de Elite" é o senhor?
PIMENTEL - Não, é o Wagner Moura (ri). Na verdade, nasceu de quatro ou cinco capitães.

FOLHA - Como começou seu envolvimento com cinema e seu afastamento da PM?
PIMENTEL - Quando João Salles e Kátia Lund filmaram "Notícias de uma Guerra Particular", fui designado para acompanhá-los no Bope, como uma espécie de censor: ficar ao lado dos soldados, para que falassem só o que deviam. Comecei a lhes contar meus dissabores e decepções. Assinei a autorização para o filme, e meu comandante falou: "Ficou meio esquisito".

Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 10/09/07

Ritmo de seriado

Novelas brasileiras ganham soluções mais rápidas para conflitos e muitas cenas de ação
MARIANE MORISAWA

PARAÍSO ACELERADO Novela de Gilberto Braga está quase como o seriado 24 horas: impossível perder um capítulo

Aguinaldo Silva afirmou recentemente que estudou o seriado Deadwood para escrever a novela Duas caras, que substitui Paraíso tropical a partir do dia 1º de outubro, além de sempre rever A família Soprano, que considera uma aula de roteiro. Aguinaldo não é o único. A maior parte dos folhetins que estão no ar na tevê brasileira deve algo aos seriados americanos, que atravessam uma fase de criatividade sem precedentes.

Paraíso tropical, por exemplo. O refinado Gilberto Braga é fã confesso dos clássicos de Hollywood. Sua novela, que entra na reta final, reúne clichês do folhetim, como a gêmea boa e a gêmea má, os ricos decadentes e muita gente mau-caráter. Apesar do talento do autor, que sabe escrever um texto de novela como quase ninguém, Paraíso tropical começou em marcha lentíssima. O resultado: a audiência despencou para desastrosos 37 pontos. A recuperação veio graças à habilidade de Gilberto e do co-autor Ricardo Linhares em rechear a trama de acontecimentos com soluções rápidas, acelerando bastante o ritmo normal de uma novela. A troca das gêmeas, por exemplo, que em outro folhetim seria enrolada até o capítulo final, resolveu-se em poucos dias. É inevitável pensar em seriados como 24 horas e Lost, que provocam nó nos neurônios do espectador que perder um único episódio.

Na Record, a relação é mais evidente. De olho no público masculino, a emissora aposta em muitas cenas de ação. Luz do sol, a novela das oito, promove perseguições de carro pela Barra da Tijuca. Vidas opostas, encerrada no dia 27, tinha picos de audiência com seus tiroteios na favela e em túneis. Caminhos do coração, que acaba de estrear, iniciou com seqüência em que o policial Marcelo (Leonardo Vieira) parecia Jack Bauer, numa operação que envolvia helicópteros e a explosão de um carro. A trama de Tiago Santiago ainda inclui mutantes, astros da série de maior sucesso na tevê por assinatura brasileira, Heroes.

Até a divisão entre bem e mal anda cada vez mais nebulosa. O público não aceita mais as mocinhas sofredoras e passivas. E os vilões ganharam um coração – um dos motivos do sucesso do inescrupuloso Olavo (Wagner Moura), apaixonado pela prostituta Bebel em Paraíso tropical, e do sanguinário Jacson (Heitor Martinez), que amava a mocinha Joana em Vidas opostas. Mais um crédito para os seriados, que colocam um mafioso no divã (A família Soprano) ou, pior ainda, gente que é mocinha numa situação e vilã em outra, como em Lost. Mudanças desse tipo sacodem e renovam a velha estrutura do folhetim.

Fonte: Revista Isto é - 10/09/07

Um roteiro de sucesso

A história do Grupo Severiano Ribeiro traduz a evolução do cinema no Brasil do glamour à era digital

ELIANE LOBATO

Não tinha pipoca. Nem refrigerante. Homens e mulheres usavam chapéus – o que devia atrapalhar bastante o espectador da fila de trás. Mas o ambiente refinado permitia, ou melhor, exigia o requinte. Cheiro de tabaco e perfume francês eram aromas comuns entre as centenas de pessoas que formavam a platéia de filmes como Acorrentada, com Clark Gable e Joan Crawford – primeiro filme sonoro exibido no Rio de Janeiro –, na década de 30.

O luxo era tanto que o porteiro e os lanterninhas vestiam uniformes de acordo com o enredo do filme. Cinema era a melhor diversão, como ainda é hoje. Mas havia uma solenidade que, definitivamente, o vento levou. Será lançado em meados deste mês o livro 90 anos de cinema (Record), com texto de Toninho Vaz e pesquisa de Vinícius Chiappeta Braga, que relata a trajetória das nove décadas do Grupo Severiano Ribeiro, do cinema mudo à tecnologia digital, enquanto rememora clássicos cinematográficos internacionais e da chanchada brasileira.

PIONEIRISMO

Acorrentada foi o primeiro filme sonoro exibido no Rio, na sala do Cine Palácio
A obra ganhou uma versão capa dura distribuída para amigos e familiares de Luiz Severiano Ribeiro (1885-1974), o fundador do império. Mas será comercializada apenas em forma de brochura. As fotos, do acervo da Atlântida, mostram o esplendor dos templos de cinema e os ídolos da telona. Entre as imagens raras, há o incêndio do Cine Majestic, na década de 60, em Fortaleza, que ardeu em chamas como se fosse um efeito especial. A foto tem como legenda a frase certa: “Até o incêndio no Cine Majestic foi espetacular.” Através das salas da cadeia Severiano, os filmes é que incendiavam a cabeça dos telespectadores. Quem foi platéia na década de 40 não escapou do frisson gerado pela tensão do mestre Alfred Hitchcock em O sabotador, ou deixou de se encantar com clássicos do neo-realismo italiano como Roma, cidade aberta, dirigido por Roberto Rossellini. Severiano Ribeiro disputava o mercado com um de seus primeiros fortes concorrentes, o Janja, um empresário que entrou e saiu rapidamente do mercado. “Guerra é guerra”, dizia o patriarca. Bons tempos em que a competição refletia a busca de filmes de qualidade.

Foi no Nordeste que Severiano Ribeiro nasceu e deu início à cadeia no ramo do entretenimento. Mas a distribuição de filmes estrangeiros para a região sempre atrasava. Ele, então, criou uma empresa para a locação de filmes internacionais e, ao mesmo tempo, partiu para a expansão dos negócios na capital federal, o Rio de Janeiro. Foi hostilizado. “Luiz Severiano Ribeiro é apenas o ‘Lampeão’ do Norte que vive amarrado a exhibir films (sic) velhos. No Rio, o perigo é do seu bando. ‘Corisco’ e outros”, escreveu a revista Cinearte, na década de 20. Quanto mais o empresário avançava – associando-se a gigantes como a americana Metro e mantendo contato com gente importante como o magnata das comunicações Assis Chateaubriand –, mais irritava os concorrentes. O trust criado no Nordeste com ameaça de monopólio elevava sua imagem à de um competidor selvagem. O biógrafo Toninho Vaz resume diferente: “Severiano Ribeiro foi um batalhador voltado para o progresso, mas acompanhava seus negócios como um típico dono de botequim.”

Atualmente, o grupo Severiano Ribeiro possui 207 salas de cinema em 14 cidades do País, entre os quais o charmoso Roxy, em Copacabana, no Rio. Ou, ainda, as luxuosas salas com a marca Kinoplex, em São Paulo, ou na Praia da Costa, no Espírito Santo. Além da história no livro, está previsto o lançamento de filmes do acervo da Atlântida em DVDs. Está chegando às lojas o documentário Esse é Carlos Manga”, diretor da Atlântida que lembra de apenas uma restrição imposta na época: “Estávamos proibidos de namorar qualquer atriz.” Outros tempos.

Parceria de berço

Os irmãos Caio e Fabiano Gullane estão entre os produtores mais ativos do país

MARIANE MORISAWA

REALIDADE Querô, que estréia dia 14, trata da tragédia dos menores abandonados

Quase dez anos atrás, o diretor Carlos Cortez conseguiu autorização de Plínio Marcos para adaptar seu romance Querô - uma reportagem maldita. Apesar de ter sido escrito na década de 70, o livro não poderia ser mais atual: seu protagonista é um adolescente pobre, órfão e filho de prostituta, que vagueia pelo porto da cidade paulista de Santos da polícia, da Febem e dos traficantes de drogas. No dia 14 deste mês, o vigoroso Querô, primeiro filme de ficção de Cortez, chega aos cinemas com troféus conquistados em Brasília e no Ceará. Em novembro, bate nas telas de todo o Brasil O magnata, pelas mãos do estreante Johnny Araújo. A produção é baseada num argumento de Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr. Por trás de Querô e de O magnata está a mesma dupla: os irmãos Caio, 34 anos, e Fabiano Gullane, 36, sócios da Gullane Filmes.

Hoje, eles estão entre os produtores mais ativos do Brasil. Querô e O magnata são seu segundo e terceiro lançamentos de 2007 - o primeiro foi o documentário O mundo em duas voltas, de David Schürmann, sobre as viagens de sua família num veleiro. A produção foi vista por 60 mil pessoas, boa marca para o gênero. "Uma coisa de que gosto dos 'bros' (como são conhecidos pelos diretores) é a dedicação na produção e montagem. Fabiano e Caio não desistiram até que o filme estivesse bom", afirma David. Esse é um dos princípios da Gullane Filmes: "Estamos interessados em produções que se aprofundem", diz Fabiano. Não quer dizer que longas estejam descartados. "Mas é preciso ter elaboração, conteúdo, proposta", afirma Caio.

TELEVISÃO A Gullane Filmes está gravando a minissérie Alice, para a HBO, canal conhecido por apostar na ousadia

Os Gullane começaram ainda adolescentes. Fabiano tinha 13 anos, e Caio, 11, quando seu pai, professor da Universidade de São Paulo, morreu. "O Caio costuma dizer que a gente é daquela geração que veio sem herança e sem poupança. A gente teve que construir nossa vida", diz Fabiano, que sempre foi apaixonado por cinema. Ele comprou um aparelho de som e de luz para festas até ser convidado para um estágio num estúdio de som. Caio, que se vestia de palhaço ou de caipira para animar eventos, passou a mexer com vídeo. Daí foi um pulo para os videoclipes, vídeos institucionais e curtas. "A gente foi percebendo que tinha o maior jeito para a coisa e que funcionávamos bem juntos", lembra Fabiano. Naqueles tempos incertos após o fim da Embrafilme, o sonho de fazer um longa parecia impossível. Em meados daquela década, no entanto, Caio foi chamado para Os matadores, de Beto Brant, e Fabiano, para Kenoma, de Eliane Caffé. Eles mergulharam de vez na produção de filmes: Castelo rá-tim-bum, de Cao Hamburger, Através da janela, de Tata Amaral, Dois córregos, de Carlos Reichenbach, entre outros.

ROCK'N'ROLL Paulinho Vilhena é o protagonista de O magnata, baseado em argumento de Chorão, do Charlie Brown Jr., que chega aos cinemas em novembro

A primeira grande virada dos irmãos foi Bicho de sete cabeças, sucesso de público e crítica. "Foi ali que a gente passou de bons profissionais do mercado para produtores efetivos", diz Fabiano. A segunda aconteceu quando Hector Babenco chamou-os para coproduzir Carandiru. O longa, exibido no Festival de Cannes e com mais de cinco milhões de espectadores no Brasil, só fez a dupla prestar mais atenção no mercado externo. "Cinema é uma arte globalizada. Fazer filmes que só funcionam no Brasil não é o nosso objetivo", diz Fabiano. Depois, veio a busca pelo crescimento, e O ano em que meus pais saíram de férias (2006), de Cao Hamburger, que competiu em Berlim e foi vendido para 20 países, coroou essa busca, tornando-se o terceiro grande momento dos Gullane.

OS GULLANE Fabiano (à esq.) cuida do levantamento de recursos para as produções e Caio é responsável por fiscalizar o uso do dinheiro

O lançamento de O mundo em duas voltas, Querô e O magnata não encerra o ano da produtora, que está gravando a série Alice para a HBO - só a O2 e a Conspiração trabalharam com o canal americano. Paralelamente, rodam dois filmes internacionais: Birdwatchers, coprodução com a Itália dirigida por Marco Bechis, e Plastic city, co-produção com a China sob o comando de Yu Li Wai. Como sempre, eles continuam dividindo o trabalho. Fabiano fica com a captação dos recursos e Caio fiscaliza como eles são utilizados na produção. No primeiro semestre de 2008, lançam duas co-produções brasileiras: Chega de saudade, de Laís Bodansky, e Encarnação do demônio, de Zé do Caixão. Mas eles dizem não quer crescer demais. "A gente nunca vai deixar que o volume de projetos atrapalhe a qualidade", afirma Fabiano.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 10/09/07

domingo, 2 de setembro de 2007

Como conciliar arte com público

*Fonte: Jornal Estado de São Paulo - http://txt.estado.com.br/editorias/2007/09/02/index.xml

Na relação entre o ofício cinematográfico e a televisão, a busca por um caminho que reúna o melhor dos dois mundos

Paulo Morelli

(...)resultado. Outras diferenças são marcantes. A tela de TV é minúscula comparada à do cinema. Por isso, na TV as cenas são apresentadas em close, enquanto no cinema closes excessivos podem tornar-se sufocantes. Por outro lado, os planos gerais são bem-vindos no cinema e perdem sua força na TV. Outro ponto é o comportamento da câmera. Na TV ela é distante, quase sempre em 3ª pessoa, não se envolve. Já no cinema a câmera participa do foco narrativo, age na cena, comenta, revela. Enquadramento, posição e atitude da câmera são a matéria-prima da linguagem.

Mas creio que a maior diferença entre os dois meios se dá na narrativa e concepção artística de cada um. A TV fica geralmente numa sala iluminada, onde as pessoas circulam e conversam. Para competir com todo esse ruído, os programas têm de usar cenários ultra-iluminados e diálogos que se repetem e repetem e repetem. Tudo o mais explícito possível. Já no cinema, a sala escura nos leva à imersão total. Lá, o cinema revela sua verdadeira natureza: a imagem, o silêncio, o não dito, o subliminar. Em outras palavras, cinematografia. O cinema é a grande arte da modernidade. A TV por sua vez, é o mais poderoso meio de comunicação de massas.

Apesar de suas diferenças de origem, os dois meios têm atuado lado a lado na batalha para conquistar a atenção do público. Com a retomada do cinema no Brasil, a partir dos anos 90, uma nova geração de cineastas chegou às telas. Mais de 120 novos diretores estrearam nesse período e o cinema virou um caldeirão de influências, com autores vindo das mais variadas áreas: teatro, literatura, publicidade, vídeo, televisão, além do cinema. Essa efervescência produziu filmes ousados e que, mesmo assim (ou por isso mesmo), cativaram os espectadores. Uma nova linguagem cinematográfica passou a ser exercida e o público reagiu enchendo as salas.

Dentre esses cineastas, uma parte significativa veio da TV. Os nomes que mais se destacam são Guel Arraes e Daniel Filho, que juntos fizeram mais de 12 milhões de espectadores. São diretores que construíram uma cinematografia própria e fizeram a ponte entre TV e cinema. E mais uma vez o público respondeu, comparecendo.

Mas nem tudo são rosas. Muitos e diversos são os cinemas feitos no Brasil, com linguagens e enfoques às vezes antagônicos. Nos dois extremos desse amplo leque, vejo duas vertentes que levam o cinema a um impasse. De um lado, o cinema intelectualizado, que não se importa com o público, e do outro, o cinema comercial que pretende conquistar o público a qualquer preço.

O cinema intelectual e cerebral desconstrói a narrativa e traz consigo um raciocínio perverso. A crença de que fazer arte e ser criativo é antes de tudo romper regras. Isso se torna para alguns uma regra absoluta: Hay regras? Sou contra! É como se dissessem 'sou um artista, quem me compreendeu muito bem, quem não me seguiu, sinto muito'. Quando um artista se coloca acima dos outros não há meio termo: ou ele é genial, e temos uma obra de arte, ou o filme fica ruim, já que não aceita críticas e sem críticas não há aprendizado. O público desses filmes acaba sendo muito restrito.

Já o cinema puramente comercial destrói o que existe de mais puro e genuíno nessa arte, ao vulgarizar a linguagem cinematográfica, imitando de maneira preguiçosa a estética do seu primo mais novo, a TV. Esses cineastas tratam o público como se fosse incapaz de perceber sutilezas. É como se dissessem 'não adianta fazer melhor que isso, porque o público é limitado e não percebe a diferença'. Quem pensa assim, esconde-se em um tímido: Hay regras? Quero todas! O público desses filmes deixa de conhecer o potencial do verdadeiro cinema.

Esses dois grupos, a meu ver, sofrem do mesmo mal: falta de respeito pelo público. O público é uma entidade curiosa. No dia-a-dia, as pessoas fazem besteiras, se embaralham, não sabem lidar com suas emoções e não conseguem ter uma visão do todo. Mas quando vêem um filme, essas mesmas pessoas percebem claramente as emoções em jogo, reconhecem o subtexto e as intenções ocultas que mobilizam as personagens. O que na vida é difícil de perceber, na arte fica transparente. Por isso, se houvesse um ensinamento, ele seria: respeite o público, ele é muito mais inteligente do que você imagina.

Prefiro acreditar que no meio desse leque de cinematografias exista um caminho que une o melhor dos dois mundos. Ou seja, arte para o público. Basta lembrar os dois gênios que perdemos recentemente, Bergman e Antonioni. Filmes de artistas como eles comovem, perturbam, transformam quem os vê. São a própria essência do cinema e da arte e estão acima das questões de mercado. Serão lembrados e reverenciados para sempre porque revelam nossa humanidade. E ousaria dizer que ao longo das gerações eles serão vistos por mais gente que muitos blockbusters. Alguém duvida que daqui a 200 anos Bergman continuará sendo visto?

Conciliar arte com público é algo que muitos já fizeram com sucesso, de Coppola a Walter Salles, de Almodóvar a Cao Hamburger, de Kubrick a Meirelles. Ou, então, o maior exemplo de todos (tudo bem, não é cinema, mas é arte), Shakespeare. Esses artistas são narradores de histórias que projetam o inconsciente humano na parede da caverna.

Cinema não é ciência exata, aliás, não é ciência e muito menos exata. É lançar-se no vazio sem rede de segurança. Confiar na intuição e nada mais. Fazer escolhas e apostar em incertezas. Andar no fio da navalha, e descalço! Que é possível, é. Mas é uma coisa difícil de se fazer.

Paulo Morelli é cineasta, autor de Cidade dos Homens, em cartaz nos cinemas

Quero ser Quentin Tarantino

*Fonte: Jornal Estado de São Paulo - http://txt.estado.com.br/editorias/2007/09/02/index.xml

Curta-metragem com Selton Mello e Seu Jorge decifra os segredos do diretor de Kill Bill

Gustavo Miller

Para quem não conseguiu ver o filme Tarantino’s Mind, no Festival Internacional de Curtas de São Paulo, na semana passada, uma boa notícia: ele já está na internet há um tempinho...

Dirigido por 300 ML, o curta-metragem de 15 minutos mostra Selton Mello e Seu Jorge em um bar vazio de São Paulo. Entre batatas fritas e copos de chope, os dois conversam sobre uma possível teoria de que todos os personagens dos filmes de Quentin Tarantino têm uma ligação em comum. O roteiro é ótimo, com diálogos cheios de irônia e palavrões. Resumindo: Tarantino puro. Vai lá: http://tinyurl.com/3xpgw2.

Estréia programa filmado por celulares

*Fonte: Jornal Estado de São Paulo - http://txt.estado.com.br/editorias/2007/09/02/index.xml

Estréia às 21h45 desta terça-feira, dia 4, o programa Retrato Celular, no Multishow. Composto por oito episódios e dirigido por Andrucha Waddington, o show mostra o universo de 34 pessoas entre 21 e 30 anos. O barato do programa é que cada um deles filmou a sua vida por meio de um telefone celular.

O fenômeno dos blogs

*Fonte: Jornal Estado de São Paulo - http://txt.estado.com.br/editorias/2007/09/02/index.xml

Surgido há 10 anos, o fenômeno dos blogs transforma todos em autores

A blogosfera é infinita em sua capacidade de absorver novos integrantes. Seria habitada atualmente por 70 milhões de blogs. A cada dia são criados mais 120 mil, pelas projeções do site especializado Technorati. Esse universo, que tem mostrado um crescimento em projeção geométrica, nasceu acidentalmente quando um programador de computador, o americano John Barger, resolveu preencher o seu cotidiano colocando links e comentários em seu site Robot Wisdom. Fez isso há dez anos.

Barger batizou a sua coluna diária de assuntos gerais de 'weblog', algo como 'registro da web'. Ela era dividida em temas como 'diversão', 'rede', 'arte', 'tecnologia', 'história', 'ciência' e 'compras'. O nome, reduzido para blog, pegou e, dez anos depois, a chamada blogosfera é tema de debate e estudos acadêmicos.

Serviços gratuitos especializados em blogs, como o Wordpress e o Blogger, derrubaram as barreiras técnicas e econômicas para que cada internauta passasse a ser um autor na internet.

Existem pesquisas analisando a extensão do fenômeno. Caso, por exemplo, do livro do pesquisador Daniel Drezer, da Universidade de Chicago, que apresenta os blogs como os fóruns políticos da contemporaneidade, em The power and politics of blogs.

A razão do fascínio desse espaço eletrônico gira em torno do poder multiplicador das opiniões ali endereçadas. Uma espécie de revisitação da ágora dos tempos greco-romanos. Um espaço público a que todos têm acesso. Um canal aberto para todo o tipo manifestação. Sem censura ou filtro.

Todo esse potencial de crescimento abre outras questões: Quem são os receptores de toda essa oferta de palpites, opiniões e informações que circulam na rede? E que efeitos esse canal democrático de expressão promove?

Os blogs já têm sido incorporados por grandes grupos empresariais, como um instrumento a mais de aproximação com funcionários e consumidores. Até mesmo executivos e dirigentes investem nesses canais de comunicação.

Na pauta sobre o futuro dos blogs também está o papel do jornalismo tradicional, tido até a entrada deles em cena, como uma espécie de guardião da transmissão de notícias e da hierarquização de sua importância para o leitor.

Hoje, a primeira página dos portais de notícias deixou de ser a única entrada para a informação. Muitos leitores chegam às notícias publicadas por esses portais por outros meios, como blogs, listas de discussão e por buscadores como o Google e o Yahoo.