segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Ritmo de seriado

Novelas brasileiras ganham soluções mais rápidas para conflitos e muitas cenas de ação
MARIANE MORISAWA

PARAÍSO ACELERADO Novela de Gilberto Braga está quase como o seriado 24 horas: impossível perder um capítulo

Aguinaldo Silva afirmou recentemente que estudou o seriado Deadwood para escrever a novela Duas caras, que substitui Paraíso tropical a partir do dia 1º de outubro, além de sempre rever A família Soprano, que considera uma aula de roteiro. Aguinaldo não é o único. A maior parte dos folhetins que estão no ar na tevê brasileira deve algo aos seriados americanos, que atravessam uma fase de criatividade sem precedentes.

Paraíso tropical, por exemplo. O refinado Gilberto Braga é fã confesso dos clássicos de Hollywood. Sua novela, que entra na reta final, reúne clichês do folhetim, como a gêmea boa e a gêmea má, os ricos decadentes e muita gente mau-caráter. Apesar do talento do autor, que sabe escrever um texto de novela como quase ninguém, Paraíso tropical começou em marcha lentíssima. O resultado: a audiência despencou para desastrosos 37 pontos. A recuperação veio graças à habilidade de Gilberto e do co-autor Ricardo Linhares em rechear a trama de acontecimentos com soluções rápidas, acelerando bastante o ritmo normal de uma novela. A troca das gêmeas, por exemplo, que em outro folhetim seria enrolada até o capítulo final, resolveu-se em poucos dias. É inevitável pensar em seriados como 24 horas e Lost, que provocam nó nos neurônios do espectador que perder um único episódio.

Na Record, a relação é mais evidente. De olho no público masculino, a emissora aposta em muitas cenas de ação. Luz do sol, a novela das oito, promove perseguições de carro pela Barra da Tijuca. Vidas opostas, encerrada no dia 27, tinha picos de audiência com seus tiroteios na favela e em túneis. Caminhos do coração, que acaba de estrear, iniciou com seqüência em que o policial Marcelo (Leonardo Vieira) parecia Jack Bauer, numa operação que envolvia helicópteros e a explosão de um carro. A trama de Tiago Santiago ainda inclui mutantes, astros da série de maior sucesso na tevê por assinatura brasileira, Heroes.

Até a divisão entre bem e mal anda cada vez mais nebulosa. O público não aceita mais as mocinhas sofredoras e passivas. E os vilões ganharam um coração – um dos motivos do sucesso do inescrupuloso Olavo (Wagner Moura), apaixonado pela prostituta Bebel em Paraíso tropical, e do sanguinário Jacson (Heitor Martinez), que amava a mocinha Joana em Vidas opostas. Mais um crédito para os seriados, que colocam um mafioso no divã (A família Soprano) ou, pior ainda, gente que é mocinha numa situação e vilã em outra, como em Lost. Mudanças desse tipo sacodem e renovam a velha estrutura do folhetim.

Fonte: Revista Isto é - 10/09/07

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