quinta-feira, 22 de maio de 2008

Jean-Pierre e Luc Dardene, os irmãos belgas que se completam

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 22/05/08

Eles explicam como se inspiraram numa história real para fazer O Silêncio de Lorna

Luiz Carlos Merten, Cannes

Jean-Pierre e Luc - que cinéfilo de carteirinha não identifica os dois irmãos belgas, os Dardenne, duas vezes vencedores da Palma de Ouro? Eles conversam com o repórter do Estado - que foi integrante do júri que presidiram, e que atribuiu a Caméra d''Or de 2005 - no stand da Unifrance no Village International, a parte ''aberta'' do Mercado de Filmes que se desenrola numa paisagem de frente para o mar. Os Dardennes estão felizes de voltar a Cannes, e à competição. ''Submetemos o filme à comissão de seleção e Thierry Frémaux (diretor artístico) poderia tê-lo recusado. Independentemente de prêmios, é sempre bom estar aqui para rever amigos e ver alguns bons filmes.''

É difícil estabelecer divisões quando se fala com Jean-Pierre e Luc. Eles possuem uma cabeça em dois corpos. Não são jograis, mas seus pensamentos se completam e às vezes um começa a frase que o outro termina. Eles estão muito satisfeitos com o novo filme, O Silêncio de Lorna.

Por que Lorna?

Uma amiga albanesa nos havia contado a história que serviu de base para o personagem de Jérome Rénier. Seu irmão era junkie e foi abordado para fazer um casamento branco, para uma estrangeira puder adquirira nacionalidade belga. Ele estava prestes a aceitar, mas felizmente sua irmã lhe fez ver que, em geral, essas histórias terminavam abruptamente por uma overdose. O assunto nos interessou, mas não queríamos fazer mais um filme na perspectiva masculina, como em O Filho e A Criança. Contar a história pelo ângulo feminino nos pareceu mais interessante, e surgiu Lorna.

É interessante ver como homens conseguem expressar de forma tão verdadeira a intimidade de uma mulher.

Era nosso desafio e foi o que nos atraiu. E também porque Lorna nos permite retomar, em outro nível e com outras preocupações, temas que já estavam em O Filho e A Criança. Se você se lembrar de O Filho, o homem ficava preso na amargura do assassinato do filho. A mulher se reconstruía. Casava-se com outro e vinha lhe anunciar que estava grávida. As mulheres, que vivem numa sociedade dominada pelos homens, podem ser muito duras na manipulação do poder, mas e também são mais ternas e fundadoras do que os homens, talvez por causa das mudanças físicas. O homem planta a semente, mas é a mulher que gera o filho.

O filme possui estrutura estranha, vamos dizer assim. Lorna é cooptada para esse casamento branco com um junkie ao qual ela se liga, mas na metade do filme ele morre abruptamente. Por quê?

Não nos peça para explicar, porque não saberíamos dizer, mas sempre estivemos de acordo de que a morte não deveria ser filmada. Isso introduz uma quebra no filme, que foi deliberada, e também a ausência do morto meio que prepara o espectador para a criança que, na verdade, também não está no filme, e até há dúvida se existirá. Lorna engravida, mas há a suspeita de que seja uma falsa gravidez.

Vocês usam menos o plano-seqüência, desta vez. Por quê?

Filmamos muito em planos-seqüências que depois desconstruímos na montagem por uma questão simples, de ritmo. Contamos uma história que tem vários personagens e diferentes pontos de vista. O corte permite juntar mais as diferentes perspectivas.

Como sempre, vocês têm atores maravilhosos. Como encontraram Lorna?

Arta Dobroshi é uma atriz húngara muito talentosa. Nós a selecionamos por audição, após vê-la em dois filmes. No início, ela não falava francês, foi preciso passar por duas preparações. Não podíamos fazer o filme com uma personagem húngara, pois não poderia pertencer à União Européia, o que já lhe daria direito à cidadania belga. Optamos por uma personagem albanesa. Felizmente, ela é talentosa, a alma que precisávamos para Lorna.

Manifesto do Surrealismo é leiloado

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 22/05/08

O único manuscrito completo que foi conservado do Manifesto do Surrealismo, assinado por André Breton, foi vendido ontem em um leilão em Paris, parte de um lote de nove peças do poeta, alcançando o valor de US$ 5,4 milhões. O comprador foi um dos criadores do Museu Privado de Cartas e Manuscritos de Paris, que planeja expor as obras. Breton (1896-1996) é considerado o principal fundador do movimento surrealista, cujas bases definiu no manifesto agora leiloado, escrito em 1924. Entre suas obras, destacam-se Nadja, O Amor Louco, Os Paraísos Perdidos e Os Vasos Comunicantes.

Cinema de verdade tem vez este ano

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 22/05/08

Há documentários belíssimos exibidos na programação deste 61.ª edição

Luiz Carlos Merten, Cannes

É uma sensação bizarra para um espectador - um cinéfilo - brasileiro. Em Todas as Mulheres do Mundo, Domingos de Oliveira colocava um tema de Gabriel Fauré nas cenas em que Leila Diniz - a mulher que sintetizava todas as outras - olhava para a câmera. Raymond Depardon recorre ao mesmo tema de Fauré em A Vida Moderna, seu novo documentário, que integra a seleção de Un Certain Regard. O tema aparece quando o carro da produção percorre uma estrada invernal (toda a paisagem está coberta de neve), a caminho de uma daquelas fazendas no coração da França, cujos proprietários o grande diretor entrevista. É maravilhoso e, ao mesmo tempo inusitado, pois aquela estrada remete a uma atriz mítica - e a um filme também mítico - do cinema brasileiro.

Existem belíssimos documentários em diferentes seções do 61º festival, e o de Depardon é um deles. O diretor foi ouvir os mesmos fazendeiros que já entrevistara num filme anterior. Muita coisa ocorreu na vida deles, e na obra do próprio Depardon, mas, no fundo, o que ele admite que queria fazer era fugir ao clichê de que essas populações interioranas são reacionárias e ponto final. A modernidade já chegou a estes aparentes bastiões do conservadorismo, e é disso que trata La Vie Moderne. As transformações também estão no centro do belíssimo documentário de Jia Zhang Ke 24 City, que integra a mostra competitiva, concorrendo à Palma de Ouro. Zhang Ke é hoje não apenas o maior diretor chinês, mas um dos maiores do mundo. Seu tema são as transformações ocorridas em seu país na passagem do comunismo para o capitalismo. Em Busca da Vida trabalha como ficção o mesmo universo - ao redor da construção da barragem das Três Gargantas - que Dong explora como documentário. Zhang Ke agora une as duas tendências.

Os maiores filmes brasileiros do ano passado - Santiago, de João Moreira Salles, e Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho - se construíam exatamente como 24 City, nas bordas do documentário e da ficção. Jia Zhang Ke volta-se para esta fábrica de armamentos que está sendo destruída para implantação de um moderno conjunto. Ele entrevista pessoas que ali viveram e reconstitui outros depoimentos por meio de atores, entre eles (ou elas) Joan Chen, que co-estrelou O Último Imperador, de Bernardo Bertolucci. O sentimento proporcionado por 24 City produz uma estranha melancolia no espectador, e é isso que faz a (extrema) beleza do filme. Impossível não pensar no poema de Woodsworth que servia de epígrafe para Clamor do Sexo, de Elia Kazan. O esplendor na relva se foi para sempre, mas as pessoas o carregam como um suporte para a necessidade de seguir em frente.

Jia Zhang Ke não é nostálgico da velha China comunista. Ele sabe perfeitamente o que significou aquele Gulag - e sabe, também, exatamente, em que país vive (e no qual seus filmes permanecem inéditos, apesar de sua consagração no exterior). As pessoas, homens e mulheres, perderam muito durante o comunismo, e perderam até muito do que haviam adquirido no comunismo, mas agora elas vivem todas as dificuldades de adaptação a um mundo que se transforma rapidamente demais. Há um sentimento permanente de perda nos sonhos que estas pessoas sonham realizar. A mulher que tinha vergonha dos pais operários (Joan Chen, num verdadeiro jogo de cena) agora quer trabalhar bastante para comprar para eles um apartamento de luxo em 24 City. Há um sentimento de tristeza, mas mesclado à euforia de que a transformação é inexorável. Nada volta atrás, como no poema de Woodsworth e Jia, afinal, pode ser mais crítico - pelo menos para efeito externo - do que a geração anterior do cinema chinês.

Outro filme nas bordas da ficção e do documentário passou ontem na Quinzena dos Realizadores. É o português Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes. Se você perguntar a jornalistas de Portugal, eles dirão que o público do país não tem muito orgulho de seu cinema e que as pessoas, em geral, preferem as megaproduções de Hollywood. O motivo mais fácil para isso é o forte experimentalismo do cinema português, seja por parte de um autor centenário, como Manoel de Oliveira, e de um jovem na casa dos 30 anos, como Gomes. O filme dele começou a surgir como ficção, mas aí faltou dinheiro e o filme parou. O diretor reassumiu-o como documentário, filmando em 16 milímetros, com uma equipe reduzida para diminuir ainda mais os custos. Ele filma numa das regiões mais atrasadas de Portugal, mas também uma daquelas que melhor conserva tradições religiosas e cultiva um tipo de música (country?) portuguesa, como a que no Brasil se define como brega, cheia de males de amor. A música é um fundo e, ao mesmo tempo, a real condutora da história, que trata de um filme dentro do filme.

Lá pelas tantas, não são mais os personagens, que se constroem entre a ficção e o documentário, que estão em debate, mas o próprio filme, ameaçado de não existir por causa do que se aparenta a um defeito técnico na captação do som. O resultado é imenso - um filme sobre o cinema, sobre a vida, o mundo. Simples, totalmente distante de uma dramaturgia tradicional e, ao mesmo tempo, terrivelmente complexo. O cinema português, realmente, não cessa de surpreender. Depois de Oliveira, João Monteiro e Pedro Costa, existe agora Miguel Gomes para ser descoberto pelo público brasileiro - no Festival do Rio, na Mostra de São Paulo e, depois, quem sabe?, no circuito comercial.

A vida dilacerada do poeta pós-punk

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 22/05/08

Em dois filmes, o mitológico Ian Curtis é retratado como o emblema de um hábitat árido e cruel chamado Manchester

Crítica Luiz Zanin Oricchio

É claro que Control e Joy Division deveriam ser lançados juntos. Afinal, ambos têm por personagem o mitológico Ian Curtis, vocalista e compositor de uma das bandas cult dos anos 70. Control é uma recriação ficcional da vida breve do roqueiro; Joy Division é um documentário, baseado principalmente em depoimentos dos integrantes da banda sobre a formação do conjunto, a música que queriam fazer, a cidade onde viviam e, sobretudo, Ian e sua personalidade atormentada e enigmática. Complementam-se. No entanto, Control estréia hoje e Joy Division - o documentário que leva o nome da banda - fica para 6 de junho. Quem vir o primeiro ficará com vontade de assistir ao outro.

Em Control, o estreante holandês Anton Corbijn, fotógrafo de origem, faz sua estréia no cinema. Escolhe uma magnífica fotografia em preto-e-branco para recriar o clima de Manchester City, onde nasce a banda. Há também uma razão prática. Nos anos 70, quando chegou à Inglaterra, Corbijn fizera várias tomadas em P&B do grupo. Esse fato contribui para a escolha monocromática do projeto. Mas não se trata apenas disso. Quem a acompanhar verá que a vida de Ian Curtis parece mesmo pedir o preto-e-branco, com todas as nuances de cinza entre os dois extremos.

É uma vida de artista maldito, que lembra a de um Rimbaud do rock. Ian (interpretado por Sam Riley) tem cara de anjo, mente complexa e personalidade dividida. Para completar o quadro, sofre de epilepsia. Tentando controlar a doença, o médico lhe recomenda distância de agitação, sexo demais, drogas e álcool. Não é coisa que se peça a um roqueiro, na casa dos 20 anos. Há mais: Ian é casado, mas acaba se envolvendo com uma insinuante jornalista belga, e esta passa a acompanhar o grupo em suas turnês. Surpreendentemente, levando-se em conta o estilo de vida que se atribui a um artista pós-punk, Ian mostra-se incapaz de administrar um até que convencional triângulo amoroso.

Esse é o aspecto pessoal. Como artista, Ian sai bem mais do que valorizado dos dois filmes. Mesmo quem pouco o conhece, ou não aprecia sua música, passa a entender parte do seu processo de criação, que envolvia uma visão um tanto desesperada do mundo e a recriação poética dessa sensação, que não raro dialogava com a grande arte. Por exemplo, em certo momento, ele diz ter assistido a Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, e ficado impressionado com Marlon Brando recitando o seu horror, tirado de T.S. Eliot. Essa, a impressão do poeta pós-punk - a de um mundo em decomposição, uma terra devastada, na qual a palavra horror era a única ainda a fazer sentido.

Por isso também seria interessante ver o documentário em conjunto com Control. Nele, Manchester é vista não como um lugar onde tudo acontece, mas como um personagem a mais - acaso o protagonista do filme. Na maneira como é apresentada a cidade industrial, árida, cruel, seca, cinza, um pouco como São Paulo, onde os sobreviventes têm de se enfurnar em garagens, espaços pequenos e esfumaçados, clubes sórdidos depois tornados românticos pelo tempo - tudo em busca de uma respiração e sobrevivência em hábitat claramente não adequado para seres humanos normais. Ian acaba se tornando a figura emblemática desse ambiente.

Esse clima de estranheza percorre os dois únicos LPs do grupo, Unknown Pleasures (Prazeres Desconhecidos) e Closer (Mais Perto). Seus sons e letras estranhas, uma espécie de lamento por uma civilização moribunda, fizeram com que a banda fosse cercada até hoje por uma relação de culto e mitologia. Ian, meio caoticamente, ou de forma intuitiva, tocava em coisas que ele próprio talvez não compreendesse. E muito do que fez talvez não passasse de um humano pedido de socorro, como hoje seus colegas de banda parecem admitir.

Indiana muda para continuar igual

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 22/05/08

Quarta aventura da série, O Reino da Caveira de Cristal passa-se na Amazônia e traz a ação para os tempos da Guerra Fria

Crítica Luiz Zanin Oricchio

Vamos admitir: a historinha não difere muito das dos outros três filmes da série. Indiana Jones se põe a campo atrás de uma relíquia poderosa, que pode mudar os destinos do mundo. Passa por perigos extremos, alia-se a alguém para combater os inimigos, apanha muito e no fim... Você já sabe. Se viu (e quem não viu?) os outros três - Os Caçadores da Arca Perdida (1981), O Templo da Perdição (1984) e A Última Cruzada (1989) - sabe mais ou menos o que esperar. Trama rala no meio, muito perigo e ação, e certo sentimentalismo para dar liga à maionese.

De qualquer forma, entre os fãs é grande a expectativa em torno deste Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. Sentimento criado em quase 20 anos de espera desde a última aventura. Assim, é compreensível, do ponto da indústria, que não se deve mesmo decepcionar a multidão de seguidores. O que significa dar a eles mais do mesmo, mas com alterações que dêem ao produto que chega a aura de novidade. Assim, guardadas as devidas proporções, a indústria cultural segue a recomendação de um dos personagens de O Leopardo, romance do siciliano Tomasi di Lampedusa - é preciso que tudo mude para que tudo continue igual. Essa frase da astúcia política da grande ilha ao sul da Itália poderia também servir como divisa da sabedoria econômica da indústria do entretenimento.

E o que mudou para que tudo permanecesse o mesmo em Indiana Jones? Primeiro, a inevitável passagem do tempo no mundo das coisas reais. Se é impensável fazer um Indiana Jones sem Harrison Ford, então é preciso enfrentar o fato de administrar um herói de ação de 65 anos. Nada que plásticas, botox ou photoshop não resolvam, junto a dublês em cenas de esforço e risco. Para justificar essa passagem do tempo, a ação é trazida para 1957, época da Guerra Fria. Saem de cena os nazistas, entram os soviéticos. A vilã - de opereta - é uma certa Irina Spalko, vivida pela múltipla Cate Blanchett. Como de hábito, não se esperem sutilezas políticas de Indy. A caricatura daí resultante passa pelo humor. E humor é também o que ajuda a constatar sem muita dor a passagem do tempo e o envelhecimento (embora este seja sistematicamente negado quando o comportamento físico do sexagenário se equipara ao de um jovem de 20 anos).

Para equilibrar o protagonista geriátrico, entra em cena um sub-herói jovem, Shia LaBeouf como o motoqueiro Mutt Williams, com ar de James Dean. E, para reequilibrar a balança em sentido contrário, ressurge uma mulher, Marion Ravenwood (Karen Ellen), vinda do passado de Indy. É até simpática a encenação de reunião familiar em plena selva amazônica, lembrando-se que relações familiares são a verdadeira questão de fundo de Spielberg, seu bombom favorito, seu rosebud. Com esse filão, conquistou o público do planeta, já que problema de família todo mundo tem.

No mais, já que ninguém é de ferro, houve a inevitável atualização tecnológica, com farto uso de efeitos digitais, como em qualquer blockbuster. A pergunta que resta: como cinema-pipoca, é divertido? É, mas Caçadores da Arca Perdida era mais.

Serviço
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal , EUA/2008, 155 min.) - 12 anos. Cotação: Regular

A morte sob controle

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 22/05/08

Uma biografia ficcional e um documentário levam às telas visões complementares sobre Ian Curtis, líder da banda Joy Division, que cometeu suicídio aos 23 anos

Lauro Lisboa Garcia

Perder o controle do bem viver é uma ocorrência pontual na trajetória de alguns heróis do rock que partiram jovens e no auge: Kurt Cobain, Jimi Hendrix, Jim Morrisson. As conseqüências da angústia que causou o desaparecimento precoce de Ian Curtis, o misterioso líder do Joy Division, que só conseguiu controlar a morte a seu favor, parecem tão comuns quanto espantosas, como se pode ver em dois filmes complementares sobre ele e sua lendária banda. Control, que estréia hoje em circuito comercial no Brasil, é uma biografia ficcional de Curtis e marca o début do fotógrafo Anton Corbijn na direção cinematográfica. O segundo, Joy Division, que entra em cartaz no dia 6, é um documentário sobre a banda, dirigido por Grant Gee.

O ideal seria que fossem exibidos em programa duplo para facilitar a montagem do quebra-cabeças. De qualquer maneira, ambos são recomendáveis não apenas para os fãs da banda. Até porque, para estes , não há muita novidade além do que já se explorou em livros, biografias, vídeos e outros documentários. Mas, em princípio, cada um com sua linguagem, os novos produtos são bons como cinema. O personagem central é fascinante, em qualquer imagem que se pinte dele. A música e as performances são impactantes, seja da banda original ou dos atores que a representam convincentemente em Control.

Grande parte da qualidade desta biografia ficcional, aliás, está na escolha dos atores. Alguns até se parecem fisicamente com os personagens verdadeiros, principalmente o novato Sam Riley, que impressiona na reprodução detalhista dos trejeitos de Curtis no palco, se contorcendo em movimentos de marionete. Mas, sem um profundo conhecimento visual da banda, isto é uma das coisas sobre as quais o espectador comum só vai se dar conta ao comparar com o documentário. Excertos do livro de memórias Touching from a Distance, da viúva Deborah Curtis, no qual Control é baseado, são projetados entre os depoimentos do documentário. Outra coincidência da ''ficção'' com a realidade é a casa onde Ian e Deborah moraram e que aparece nos dois filmes.

Foi ali que, atormentado pelos efeitos da epilepsia, Curtis se matou no dia 18 de maio de 1980. Tinha apenas 23 anos e o coração dilacerado pelo amor (como diz na célebre canção Love Will Tear Us Apart) dividido entre duas mulheres. Antes de se enforcar na casa onde vivia com Deborah (interpretada por Samantha Morton) e a filha pequena, ele colocou para rodar na velha vitrola um LP de Iggy Pop, intitulado Idiot. A reação imediata que se tem, ao acompanhar essa seqüência em Control, é que ele realmente bancou o estúpido, mas armou o desfecho com senso de humor negro. Tinha pedido para ficar só, bebeu muito, fumou tudo o que pôde. Quis morrer sozinho.

Se em Control o que ressalta é o jovem infiel, o mentiroso, o egoísta, o irresponsável, no documentário o prodigioso artista se recupera. Quem narra sua história em depoimentos e lembranças detalhadas são os que viveram com ele na outra margem: os demais integrantes da banda - Peter Hook, Bernard Sumner e Stephen Morris, que, como se sabe, viriam a formar o também influente New Order -, sua amante belga, Annik Honoré, o guitarrista Pete Shelley, dos Buzzcocks, o fotógrafo Anton Corbijn, o diretor da antológica Factory Records, Tony Wilson, o designer Peter Saville, criador das capas dos álbuns da banda.

Contam os amigos que Curtis nunca se drogava, era a música que o deixava em transe. Em Control nem se nota que eles se divertiam muito o tempo todo, como conta Hook no documentário. O único problema eram os ataques de epilepsia de Curtis, cuja descoberta o deixou irrecuperavelmente arrasado. No início da carreira, quando se dividia entre a música, como compositor e cantor do Joy Division, e o trabalho burocrático de atendimento num hospital, Curtis ficara sensibilizado ao ver uma mulher em situação que ele próprio viveria e escreveu a canção She''s Lost Control sobre isso.

Como Control parte da versão da viúva Deborah, que também é co-produtora do filme, as lentes se voltam mais para o ambiente familiar. Deborah é um pouco o protótipo da dona de casa recatada, às vezes bancando a sofredora, sempre à espera do marido que vive em estúdio, no palco e na estrada, no meio de uma gente estranha (como ele) e de futuro incerto. Piora muito a situação quando ela descobre que o marido estava amarrado em Annik, tratada com superficialidade no filme, por motivos evidentes, mas que dá depoimentos esclarecedores no documentário.

Ela sabia com qual intensidade Curtis se tornava outra pessoa no palco, ao mesmo tempo frágil e forte. Mas como seus outros amigos, ela não se deu conta a tempo de que toda a angústia das letras de Curtis era reflexo de profundos dilemas reais. Não era apenas arte com referências cultas de Kafka, Shakespeare ou Dostoievski. Da mesma maneira como não se decidia a abandonar ou continuar com a banda, o cantor tentou em vão terminar a relação paralela para salvar o casamento, para o qual não estava preparado. Aliança de ouro na mão esquerda não combina mesmo com rock nem poesia punk. Sem conseguir sustentar a farsa por muito tempo, deprimido pelo efeito dos vários remédios que tomava para controlar a epilepsia, fechado em sua caverna sombria e impenetrável, ele perdeu o controle da situação.

O documentário vai mais fundo na influência do cenário apocalíptico da Manchester, em meados do século passado, sobre o moral de seus habitantes. Na industrial, feia, fria e suja cidade britânica, que o Joy Division ajudou a colocar no mapa-múndi musical, uma criança pobre poderia demorar até nove anos para ver uma árvore. Isto é o que diz um dos entrevistados e explica por que não dava mesmo pra fazer música muito feliz ali. Os conterrâneos Morrissey e Johnny Marr, que formaram The Smiths dois anos depois da morte de Curtis, que o digam.

Serviço
Control (EUA-Reino Unido/2007, 121 min.) - Drama. Dir. Anton Corbijn. 16 anos.Joy Division (EUA-Reino Unido/ 2007, 93 min.) - Documentário. Dir. Grant Gee. Estréia no dia 6/6. Cotações: Ótimos

Para reconstruir o mito de Cleópatra

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 22/05/08

Em novo filme, o diretor Julio Bressane recorre aos materiais de construção culturais para evocar o mito da rainha do Egito

Crítica Luiz Zanin Oricchio

O que sabemos de Cleópatra? Muito do que está nos livros, em Shakespeare, etc. Talvez a Cleópatra tenha o rosto (e o corpo) de Elizabeth Taylor, na leitura meio kitsch que fez da rainha do Egito o diretor Joseph Mankiewicz. De certa forma, falar de Cleópatra é escavar um mito. Ou reconstruí-lo, com os materiais disponíveis e acumulados pela cultura. É o que faz o diretor Julio Bressane nesse novo trabalho, vencedor do Festival de Brasília do ano passado.

Valeria a pena dizer que Bressane parece um pouco na contramão do assim chamado cinema de autor brasileiro. Este tem-se definido, grosso modo, pela urgência. Antenado tematicamente na rachadura social brasileira, opta por uma linguagem ágil para se comunicar. São os casos, por exemplo, de O Invasor, Amarelo Manga, Cidade de Deus, entre outros. Não se está querendo dizer que seja possível somar esses filmes na mesma coluna do ponto de vista da linguagem; apenas que existe uma aproximação entre eles nesses quesitos, a temática e a pegada moderna.

Já Bressane planta e colhe em outro território. Parece, como diria Drummond, que não aspira a ser moderno, mas deseja ser eterno. Chega a ser clássico na sua fixação de estilo e no aprofundamento de uma pesquisa pessoal. Cada filme é uma pincelada a mais nessa tela que vai compondo ao longo dos anos. Visita temas universais e personagens quase atemporais, como são os casos de Vieira, em Os Sermões, e São Jerônimo. Em Cleópatra, seu trabalho de arqueólogo o leva a referências variadas, que vão de Plutarco a Camões, tentando trazer até nós uma Cleópatra latina, que coube tão bem na pele de Alessandra Negrini.

Nessa universalidade, sobressai uma brasilidade perceptível. Os elementos pictóricos entram na composição de um Egito recriado no Rio de Janeiro, no qual não faltam músicas como Há Um Deus, de Lupicínio Rodrigues, na voz de Dalva de Oliveira, e Felicidade, de René Bittencourt, cantada por Noel Rosa.

Fotografado por Walter Carvalho, o filme é estruturado como uma série de quadros. Um mosaico que às vezes lembra um pouco outro filme ''arqueológico'', Satyricon, de Fellini. A aproximação entre os dois não é gratuita. Também Fellini, ao ler os fragmentos de Petrônio, despertou para a dificuldade (na verdade na impossibilidade) de pensar como um romano do século 1º da era cristã, quando Satyricon foi escrito por Petrônio Árbitro. Essa impossibilidade, que poderia ser paralisante, foi, ao contrário, utilizada como inspiração e princípio de uma liberdade total de criação. Se não podemos recuar no tempo e ''saber como as coisas de fato aconteceram'', só nos resta recriar, reconstruir, para nos aproximarmos da ''verdade''. Quer dizer, a verdade como construção. Ou melhor, como invenção.

Ao cinéfilo, atento à construção e ao trabalho com a forma e a linguagem cinematográfica, salta à vista o rigor do cineasta e também do fotógrafo. Cada plano é estruturado com sensibilidade visual que raramente se vê, não apenas no cinema brasileiro mas também internacional. Bastante preso à dramaturgia, ao enredo, aos diálogos, o cinema contemporâneo tem abandonado de maneira preocupante o rigor com a linguagem específica dessa arte. Bressane não esquece. E, pelo contrário, revisita a cada novo projeto esse artesanato da imagem - o que, por si só, já justifica o seu cinema.

Mas é claro que não se trata apenas disso, senão estaríamos falando de um formalismo estéril, uma evocação da boa forma que não sai de si mesma. O que entra em jogo nesse projeto de cinema, que é também uma idéia de vida, é um adensamento cultural digno de nota. Há quem veja na Cleópatra de Bressane um comentário sobre a luta pelo poder - e a trajetória da rainha do Egito não deixa dúvida quanto a isso. Tampouco descabida parece a interpretação que fala da tolerância. Afinal, a polis de Cleópatra pode ser lida como tentativa de conciliação de várias culturas até então antagônicas. Tudo isso cabe. Mas é claro que o esplendor estético do filme extravasa generosamente qualquer interpretação reducionista.

Serviço
Cleópatra (Brasil/2007, 117 min.) - Drama. Dir. Julio Bressane. 18 anos. Cotação: Ótimo

Spielberg vai fazer a cinebiografia de Abraham Lincoln

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 22/05/08

Será seu próximo trabalho, para marcar os 200 anos do ex-presidente americano

Elaine Guerini, Cannes

O intrépido arqueólogo vivido por Harrison Ford se aventura pelas Cataratas do Iguaçu, no Brasil, numa das seqüências de ação de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. Mas o ator não pisou no País. Nem mesmo o diretor Steven Spielberg, que enviou uma segunda unidade de filmagem para realizar as tomadas aéreas das quedas de água. As imagens dos atores no barco que despenca das cataratas foram incluídas digitalmente, na fase de pós-produção. ''Infelizmente, nunca estive no Brasil. Adoraria ir, mas estou sempre ocupado com meus sete filhos. E ainda faço um filme de vez em quando'', brincou o cineasta de 61 anos, que falou ao Estado durante coquetel de lançamento do quarto Indiana, no hotel Carlton da Croisette.

A bela exceção na sombria carreira de David Lynch

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 22/05/08

Ubiratan Brasil

O cineasta David Lynch vem a São Paulo em agosto. Será para o lançamento de um livro (Em Águas Profundas: Criatividade e Meditação, pela editora Gryphus), mas também uma rara oportunidade para se conhecer melhor o pensamento responsável por um cinema obscuro e, ao mesmo tempo, fascinante. Curiosamente, a única exceção nessa filmografia será exibida hoje pelo Telecine Cult, A História Real, às 17h30.

Apesar de ser um road movie ao estilo de Estrada Perdida e Coração Selvagem, o tom agora é menos sombrio. Conta a história de um viúvo de 70 anos que vive com a filha em Iowa. Ao descobrir que o irmão sofreu um derrame, ele decide pôr fim ao período de mais de dez anos de afastamento. Assim, montado em um pequeno trator, ele cruza o país até chegar ao parente.

A narrativa é baseada em uma história real, publicada nos jornais, e Lynch procurou, mais que um reencontro com alguém, mostrar uma reconciliação consigo mesmo. É o que acontece com o personagem principal, magnificamente interpretado por Richard Farnsworth, que concorreu ao Oscar. Mas, por sofrer de câncer, ele decidiu abreviar a vida a enfrentar um penoso envelhecimento.

Festival recebe Nachtergaele com aplauso comedido

Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 22/05/08

61º Festival de Cannes

Na estréia ontem, parte do público aplaudiu monólogo de Paulo José; outros deixaram sessão em cena de incesto

"A Festa da Menina Morta" mostra comemoração dos 20 anos do sumiço de uma garota; família vive em torno de seu fantasma

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

Ao apresentar seu primeiro filme como diretor, ontem, na mostra Um Certo Olhar, do 61º Festival de Cannes, falando em francês, Matheus Nachtergaele disse que "A Festa da Menina Morta" pertence a "uma grande parte do cinema brasileiro, porém não muito conhecida, que se arrisca a falar desse país enorme, maravilhoso e terrível que é o nosso".

A produtora Vania Catani (Bananeira Filmes), uma das 15 pessoas da equipe que acompanhava Nachtergaele no palco da sala Debussy, fez uma breve e emocionada declaração: "Há cinco anos, entrei pela primeira vez nesta sala. Desde então, sonhei sozinha que esse seria um bom lugar para começar a mostrar nosso filme".

A pedido do diretor, toda a equipe se deu as mãos e ficou em silêncio durante um minuto, repetindo o gesto que antecedeu cada dia das filmagens.

No fim da projeção, que teve a presença do júri da mostra, os aplausos foram comedidos; alguns críticos franceses trocaram impressões favoráveis ao filme.

Comparado a Glauber Rocha por uma jornalista do festival, Nachtergaele disse: "Admiro muito o Glauber. Ele é um mestre para todos os que, de fato, amam o cinema. Mas será que fui tão louco para fazer um filme como os dele?".

Santidade
Em "A Festa da Menina Morta", a família de uma criança desaparecida no interior do Amazonas passa a viver em torno de seu fantasma. O filme acompanha a preparação da festa dos 20 anos do desaparecimento da menina. Nesse tempo, os moradores da região passam a atribuir poder milagroso aos trapos do vestido que a garota usava e a acreditar na santidade de quem os encontrou -um irmão dela, vivido por Daniel Oliveira.

O comportamento religioso da comunidade e a dinâmica interna da família são observados pelo filme. Na casa de Santinho, é tacitamente proibido falar da mãe, que se matou.

O pai dedica-se à bebida e às mulheres, mas é também amante do próprio filho, que julga santo. O irmão descrê do milagre e do caráter religioso da festa -"Qual o milagre aqui? Isso é só um bando de homem bebendo cerveja"-, mas se sente compelido a participar.

A exploração econômica e política da fé religiosa é outro aspecto do filme, insinuado na festa, ápice do filme e da interpretação de Oliveira.

Incesto

Enquanto o público consome churrasco e música regional do lado de fora, dentro da casa de Santinho há um reencontro com sua mãe (Cássia Kiss) e as razões do ato desesperado.

Durante a sessão do filme, alguns espectadores abandonaram a sala, a partir do momento em que se concretiza a primeira cena de incesto, filmada na discrição de uma penumbra. Outros aplaudiram um monólogo do ator Paulo José, que interpreta um padre.

"Sob o Sol de Satã" nada deve a romance

Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 22/05/08

CRÍTICO DA FOLHA

De vez em quando, fazendo um zapping, é possível dar de cara com um filme no canal italiano capaz de dar conta da grandeza desse cinema. Uma pena: os filmes não têm legendas (e o canal nem se dá ao trabalho de divulgar o que exibe).

Já o canal francês TV5 tem voltado a investir em filmes que nos dão a exata dimensão da pobreza absoluta de nossa experiência cinematográfica, limitada pelo vínculo dos exibidores de filmes e dos canais de TV com Hollywood.

"Sob o Sol de Satã" (TV5, 20h30), de Maurice Pialat, passou por aqui no tempo em que a Gaumont tinha cinemas e distribuição no país. Depois, desapareceu. O romance de que é tirado, de Georges Bernanos, é um dos maiores do século passado, e o filme não passa vergonha diante dele ao falar de um padre que, quanto mais fiel a Deus se mostra, mais é atormentado pelo Diabo.

Nesse conflito sem trégua, a fé nada garante: bem ao contrário, quanto maior ela é, maior o tormento de existir, de ser meramente um homem.
(INÁCIO ARAUJO)

"Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal"

Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 22/05/08

"Indiana" é Armani da aventura contemporânea

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Indiana Jones está de volta, e com certeza não faltaremos ao encontro: um grande evento, com ingressos vendidos antecipadamente, o retorno de um personagem marcante, projeção em Cannes e muito bumbo batendo em todos os cantos.

Convém, no entanto, não contar com muito. O que "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" entrega é, em linhas gerais, mais do mesmo. Porque o cinema que Steven Spielberg ajudou a criar é feito de marcas. Indiana é uma das mais fortes: um tipo de Armani da aventura contemporânea.

Se formos pensar em termos de estrito divertimento de fim de semana, o novo Indiana não decepciona. Depois de 19 anos, mantém a forma (física) admiravelmente. E como nesse meio tempo esquecemos da maior parte de seus feitos antigos, não custa retomá-los.

No entanto, é bom saber de duas ou três coisas para não alimentar expectativas demais. "O Reino da Caveira de Cristal" retorna aos cenários exóticos, e não faltam ao encontro nem as cobras, nem os abismos de sempre. Não faltam crânios (tudo gira em torno de uma caveira, afinal), nem macacos.

Espião comunista

Como se quisesse se prevenir da possibilidade de ser chamado de ultrapassado, Indiana desta vez é menos reflexivo do que no terceiro exemplar, quando o herói ganhou um pai (na pessoa de Sean Connery).

Desta vez ele ficará sabendo, ao contrário, que tem um filho. No mais, há também mudança no quadro político que serve de pano de fundo. Desta vez, estamos nos anos 50 do século 20 e os perigos a enfrentar são o comunismo (na pessoa da agente Cate Blanchett) e o macarthismo, este último no início do filme. Aliás é o que o filme tem de mais original: Indiana suspeito de ser espião comunista aos olhos do FBI. Mas logo a ação desvia-se para a selva da Amazônia, onde Indiana se mete com o jovem Mutt (Shia LaBeouf), em busca dos traços de uma civilização extinta, a mesma que teria abrigado o El Dorado dos espanhóis.

Para resumir, o El Dorado aqui seria uma civilização visitada por seres extraterrestres. E, de passagem, Spielberg nos oferece aqui uma espécie de resumo do cinema de aventura dos anos 50, especialmente o de ficção científica: de vampiros de almas a deuses astronautas, de formigas devoradoras a Tarzã, temos de tudo um pouco. Isso garante um tanto de variação ao filme, que reitera, no entanto, o espírito de seriado que garantiu o sucesso do herói no passado.
Indiana continua, no fundo, a criança que sempre habitou o arqueólogo.
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INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL
Produção: EUA, 2008
Direção: Steven Spielberg
Com: Harrison Ford, Karen Allen e Cate Blanchett
Onde: estréia hoje nos cines Bristol, TAM, UOL Lumière e circuito; classificação: 10 anos
Avaliação: regular

Scorsese está fora de filme sobre Bob Marley

Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 22/05/08

Martin Scorsese não vai mais dirigir o documentário sobre a vida do grande nome do reggae Bob Marley. Alegando conflitos de agenda, o cineasta foi substituído por Jonathan Demme ("O Silêncio dos Inocentes"). Autor de documentários sobre Neil Young e Talking Heads, Demme se disse "emocionado e honrado" por trabalhar no projeto.