segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Photoshop para leigos: menos caro e mais fácil

Confira teste exclusivo do novo Photoshop Elements 6, cujos recursos (e preço) são destinados ao usuário amador

Bruno Sayeg Garattoni

Ao contrário do que muita gente pensa, o Photoshop não é exclusividade dos fotógrafos profissionais. Ele tem uma versão amadora, que se chama Photoshop Elements e foi especialmente projetada para usuários leigos - além do preço bem menor, traz recursos exclusivos e ferramentas de edição simplificadas, mais fáceis de usar.

O Link testou, com exclusividade, a nova versão do programa: o Photoshop Elements 6, que chega ao mercado brasileiro em novembro. Na verdade, o Elements é um pacote composto por três programas: um organizador, um editor e um “exportador” de fotos (para gravar tudo em CD ou jogar na internet).O uso do programa começa pelo organizador. Que, como seu nome diz, organiza em grupos e categorias as fotos armazenadas no PC (ou descarregadas de uma câmera). Exatamente como faz o programa gratuito Picasa - leia mais na página 4. Ocorre que, ao contrário do Picasa, o organizador do Photoshop não é lá muito organizado.Se você deixar, ele pega as fotos da sua câmera e joga num grande “bolo”, junto com as imagens que já estão no PC. O Picasa é mais esperto: cria automaticamente um álbum, cujo nome o usuário é convidado a digitar.Para piorar as coisas, não tem um campo de busca para procurar fotos! Ou melhor, tem - mas está escondido. É preciso clicar em Find e aí selecionar busca por legenda (caption) ou nome do arquivo (filename).Acontece que, como o programa não solicitou que você nomeasse o lote de fotos durante a importação, elas ficaram sem nenhum tipo de identificação (como “churrasco”, “Natal”, etc.). Têm apenas os nomes estranhos, e sem sentido, do tipo DSC100094.jpg , com que vieram da câmera digital. Ou seja: na prática, não dá para fazer busca nenhuma.É possível evitar esse problema. Basta selecionar, antes de importar as fotos, a opção Custom. Mas o Photoshop deveria ser mais esperto. Mesmo.A interface gráfica do organizador também não ajuda. É poluida e ligeiramente confusa, muito inferior à do Picasa.O Photoshop compensa com um recurso inovador: o Find by visual similarity (encontrar por semelhança visual). Essa função analisa o conteúdo de determinada foto e encontra outras parecidas com ela (um pôr-do-sol, por exemplo). Legal.Mas não é o bastante. O organizador do Photoshop Elements é bem ruinzinho.

SHOW DE EDIÇÃO

Já o editor de fotos, é simplesmente excelente. Ele traz ferramentas exclusivas que realmente ajudam a trabalhar com as fotos. Confira, no quadro da página 5, como no Photoshop os retoques são sempre mais fáceis de fazer.E não só isso: o resultado final também fica melhor. Veja o caso da Varinha mágica (Magic wand). É uma das principais ferramentas, talvez a mais importante, em qualquer software de fotografia, pois ajuda a selecionar as regiões da foto que serão tratadas (como a pele de uma pessoa) sem que você precise demarcá-las, milímetro a milímetro, com o mouse. Nessa tarefa, o Photoshop foi muito mais preciso do que o similar gratuito Gimp. Sua coleção de filtros e ferramentas, com dezenas de opções, também é sem igual. Outra exclusividade do Elements é a edição guiada (Guided Edit). Ela realmente ensina, passo-a-passo, como melhorar as fotos: pois mostra, numa sequência lógica, tudo o que você precisa fazer (cortar a foto, retocar as cores e a iluminação, aumentar a nitidez, etc.).Basta ir seguindo as instruções, apertando os botões que aparecem na tela. Mas é preciso saber inglês (o software não tem versão em português).O Photoshop permite ver as fotos no modo Before & After, que mostra lado a lado o “antes” e o “depois” da foto que está sendo editada. Ou seja: fica muito mais fácil avaliar o efeito de uma ajuste, ou de um filtro, antes mesmo de aplicá-lo. As modificações não são destrutivas, ou seja, não afetam a foto original.

TIPO EXPORTAÇÃO

Na hora de exportar as fotos, seja para a internet ou para um CD, o Photoshop Elements também se destaca. As galerias de fotos online, que ficam hospedadas no site Photoshop Showcase.com, são muito bonitas - podem conter elementos sonoros e gráficos 3D.O gerador de slideshows é um caso à parte. Ele é um verdadeiro editor multimídia, que permite misturar vídeos e MP3 às fotos - e depois gravar tudo num CD que roda em toca-DVDs comuns (ideal para presentear a família).Como um todo, o Photoshop Elements 6 é excelente - só o organizador, infelizmente, deixa a desejar. O preço, em torno de R$ 300, é um pouco alto. É mais negócio comprar o pacote promocional, de R$ 460, que inclui também o sensacional editor de vídeo Premiere Elements (semiprofissional).É um bom dinheiro, claro. Mas, para o amador que gosta muito de editar fotos (e vídeos), não há nada melhor.

Mostra de cinema no tempo do YouTube

O maior evento da área no País começa sexta alinhado à era digital

Marcel R. Goto

A menos de uma semana do início de sua 31ª edição, o quartel-general da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo vive o típico frenesi da véspera dos grandes eventos.A complicada logística por trás das mais de mil sessões de quatrocentos curtas e longa-metragens não abandona seus organizadores, o casal Leon Cakoff e Renata de Almeida, nem durante uma breve entrevista sobre como as tecnologias de informação transformaram a produção do evento ao longo do tempo. Não se deixe enganar pelo aspecto pacífico da foto: enquanto posava, Cakoff tinha o celular ligado em viva-voz sobre a mesa e discutia calorosamente uma das inúmeras questões burocráticas da Mostra.À primeira menção da internet, no início da entrevista, ele responde com satisfação: “Somos pioneiros, nosso site, www.mostra.org, precede até a regularização da internet no Brasil”. Mais do que um informativo do evento, o sítio, como Cakoff faz questão de chamar, transformou-se numa referência sobre cinema na web brasileira. Todos os filmes já exibidos nos 30 anos da Mostra estão catalogados lá, e esses arquivos, mais o jornal do site, que tem 50 mil assinantes, fizeram com que ele fosse eleito pela revista Info como o melhor endereço online sobre cinema do país. Este ano, o site exibirá vídeos dos debates e trailers dos filmes exibidos.Renata conta uma interessante anedota sobre o envolvimento da internet com a Mostra. Enquanto escolhia obras de Claude Lelouch para uma seleção especial, amigos franceses lhe indicaram o curta C'était un Rendez-Vous, de 1976, que foi recentemente remasterizado e estava disponível no YouTube com a bênção do diretor.No filme, o próprio Lelouche dirige veloz e um tanto irresponsavelmente pelas ruas de Paris, passando por diversos marcos e sinais vermelhos, com uma câmera especial acoplada à frente do carro. Foi a primeira avaliação online de um filme para a Mostra, e Rendez-Vous será exibido em cópia de 35mm.Ela indica ainda outros filmes com forte relação com a tecnologia digital, como Tracey Fragments, que usa técnicas de composição praticamente impossíveis de serem reproduzidas em filmes tradicionais, e Braid Upon the Brain, de Guy Maddin, que usa filtros digitais para reconstituir a aparência dos filmes dos anos 20. Quando questionada sobre a possibilidade de uma versão online da Mostra, Renata explica que o evento permanece fiel a certas tradições: “Pra nós o cinema é uma experiência social. Tudo faz parte: sair de casa, o caminho, a fila, sentar ao lado de pessoas que você não conhece e compartilhar a sala escura”.E quanto à possibilidade de exibir filmes que evitam o circuito das salas de cinema e existem apenas na web? “Um dos critérios de seleção é que a obra seja inédita em São Paulo. Se está na internet, consideramos que não é inédito”. Mas os critérios podem ser revistos no futuro, diz.Um jornal emoldurado no escritório da Mostra, como uma instalação de arte, talvez seja o melhor símbolo da relação do evento e seus organizadores com a tecnologia. Trata-se da manchete da derrota do enxadrista russo Kasparov pelo computador Deep Blue, estampada na capa do Libération, jornal francês progressista fundado por Sartre. A internet e a revolução digital, longe de ditarem regras, são vistas sempre pelo olhar da arte e outras tradições das humanidades. E Leon Cakoff, como comenta Renata, ainda não se convenceu a usar seu iPod...

(SERVIÇO)A Mostra Internacional de Cinema de SP vai de 19 de outubro a 1º de novembro.

Uma ópera contra o País da corrupção e da impunidade

Luiz Carlos Merten

Cláudio Torres baseou-se no caso do investidor Sérgio Naya, cujo empreendimento - o condomínio Palace II - ruiu na Barra, no Rio, para realizar Redentor, que estréia hoje no Canal Brasil, às 22 horas. Na ficção do filho de Fernanda Montenegro - ela é atriz no filme -, o prédio não vem abaixo, mas tem sua construção interrompida pelo colapso financeiro do investidor, o empresário interpretado por José Wilker. Ele se mata e seu filho (Miguel Falabella) herda os negócios do pai - e o problema.Embora este seja um eixo importante do filme, a história é contada pelo ângulo de um jornalista - Pedro Cardoso -, cujo corpo, no começo, está num lixão. O jornalista moveu, por vingança, uma guerra pessoal contra o empresário corrupto. E o prédio inacabado é invadido pelos sem-teto de uma favela próxima. O Brasil, da corrupção e da impunidade, irrompe nas imagens de Redentor.Cláudio Torres fez desse filme um projeto rigorosamente operístico e autoral, convencido de que só o absurdo da ficção pode recriar na tela o absurdo do Brasil real. A ópera termina num verdadeiro apocalipse now. Redentor desconcerta. Não é para todos os gostos, mas proporciona um choque do real que vale experimentar.

A eterna busca do tempo presente

Fonte: Jornal O estado de São Paulo

15/10/07

Em Hotel Atlântico, Suzana Amaral valoriza ao máximo o trabalho dos atores para contar uma história nada convencional

Flávia Guerra

“Não quero dar entrevista. Não agora”, dizia o ator Júlio Andrade ao Estado, no rancho que a equipe de Hotel Atlântico usava de base para as filmagens em Paulínia, cidade que tem o arrojado projeto de se tornar um dos maiores pólos de cinema do País e que tem oferecido locações e logística invejável para vários filmes nacionais. “Sobre o que você vai perguntar? Do filme ainda não consigo falar”, avisa Júlio, que fez ótima estréia no cinema em Cão sem Dono, de Beto Brant. A pedido da reportagem, no fim de uma jornada de trabalho, Júlio, os atores Jidu Pinheiro, André Frateschi e a diretora se sentam à beira do lago que banha o rancho que serve de base para a equipe e páram para pensar no filme. A conversa explica o porquê da aversão a entrevistas. “Vou adorar falar quando o filme estiver pronto. Mas estamos literalmente no meio do processo e não tenho opinião formada nem mesmo sobre meu personagem”, continua o ator de olhar cortante e atento. Foi este olhar que cativou definitivamente a diretora. “Estava em dúvida sobre alguns nomes. Quando vi Cão sem Dono, decidi. Tinha de ser o Júlio. Ele tem nos olhos a surpresa de que meu protagonista precisa.” Sorte dele. Suzana é responsável por trazer para as telas o talento de atrizes como Marcélia Cartaxo (descoberta num grupo de teatro e vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim de 1986 por A Hora da Estrela) e Sabrina Greve (também escolhida no palco para Uma Vida em Segredo. que integrou a Semana da Crítica do Festival de Cannes, e eleita a melhor atriz pela APCA em 2001). Na tarde em que o Estado percorreu um trecho da estrada de Hotel Atlântico, dividiam a cena com Júlio os atores Jidu Pinheiro e André Frateschi. “Fiz um curta que ainda não estreou”, conta Jidu. Frateschi fez uma participação em O Cheiro do Ralo, mas a cena foi cortada. “Do meu filme você não sai”, brincou Suzana, que também incluiu em seu elenco nomes como João Miguel, Lázaro Ramos, Mariana Ximenes, Helena Ignês e Paula Braun.O trio se dizia privilegiado por ser dirigido por Suzana. Raro exemplo no cinema nacional, a diretora, que cursou cinema na Escola de Comunicações e Artes da USP e na New York University, aposta no método de Sanford Meizneck, um dos principais professores de interpretação dos EUA. Traduzindo em linhas gerais, o que de fato importa para ela é que “atuar é a realidade de viver o tempo presente”. E esse lema ela não aplica só ao trabalho com os atores. A metamorfose ambulante em que se torna sua equipe não está desconfortável com a falta de respostas. Pelo contrário. É a dúvida que alimenta cada dia de trabalho. “Não falo nada. Meus atores chegam e tomam conta do set antes que o resto da equipe chegue”, acrescenta a diretora, depois de passar o dia dirigindo o trio que viajava de carro por uma estrada. Suzana está disposta a subverter a relação diretor-ator. “É uma das poucas que coloca o ator na frente do processo”, diz Jidu. “Só ´pastoreio o que os atores criam.” Raridade, não? “É. Mas ela realmente nos deixa mais livres”, completa Frateschi. “É mais divertido. Cada um traz suas propostas. Desburocratiza o trabalho”, diz Júlio. Suzana rebate: “Não sou diretora de trânsito. Sou centralizadora, mas na minha equipe todos pensam juntos. Tento manter a coerência.”Quando questionada sobre por que adaptar um terceiro livro, responde: “A razão principal é que não dou roteiro para atores. Dou o livro. Deixo que pensem nos personagens. Com o roteiro, eles decoram as falas e o filme deixa de ser espontâneo.”De roteiro, ela entende. “Já li centenas em tantas comissões de seleção que integrei. É tanta literatura chinfrim. Roteiro tem de ser concreto. Nao pode ter palavra bonita. É ação. O resto é conversa. É a inteligência do ator. É o subtexto que importa.”E por que desta vez contar uma história masculina? “Não é um filme sobre homens nem para homens. Não sei por que cismaram que faço filmes para mulher. Eu falo sobre o ser humano. Todo mundo ama. Todo mundo sofre. Não sou feminista. E não sofro nenhum preconceito no set por ser mulher.” Mas Suzana não nega que esteja adorando fazer filmes com homens. “Passei um mês no meu sítio em Atibaia preparando o filme com eles”, brinca. E para eles? É diferente ser dirigido por uma mulher? “É. Mas com a Suzana a gente não pensa nisso. Falamos de absolutamente tudo ”, conta Júlio. “Passamos o tempo em Atibaia comendo comida da horta. Um diretor jamais ia se preocupar com o que a gente come”, brinca Frateschi. Pode parecer brincadeira, mas a preparação busca a essência da história na convivência com os atores. Nesta busca, não há espaço para artificialismos e truques de roteiro. Na trama, os atores vão e vêm ao sabor do caos que Suzana retrata. “Preciso que eles estejam espontâneos e preparados. Tirando o Alberto (Júlio), os personagens não são sempre os mesmos. Não é trama tradicional.”É a tensão da mudança que dá energia à história. “É um filme episódico. Nada que acontece tem ligação. Nem com o passado. Nem com o futuro. É uma sucessão de acontecimentos não vinculados em uma narrativa do aqui e agora. Foi isso que me atraiu.” Esse caos não traz angústia e dúvida? “Exatamente. Traduz o momento que vivemos. Mas sou adepta da filosofia budista. Vivo o tempo presente”, diz ela, em busca de um ‘cinema do despojamento’. “Quero falar do ser de hoje, da descartabilidade dos acontecimentos atuais. Quem for esperando um filme comercial não vai entender. Todos os meus filmes começam, na cabeça das pessoas, quando a luz acende”, reflete. E brinca: “Até agora, ninguém entendeu o roteiro. Todo mundo achou uma porcaria. Mas vocês vão ver quando ficar pronto e dizer: ‘Nossa, que p... filme!”