sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O mestre e a bela

O Desprezo mostra que a arte de Godard continua plena

INÁCIO ARAUJO

O Desprezo é um filme de encontros. O de Godard com BB: dois ícones da Europa pós-pós-guerra, em trajetos até então opostos: Brigitte Bardot, símbolo do cinema comercial, e Godard, símbolo do cinema-como-arte.Também encontro entre o novo e o eterno: Jack Palance, o produtor de cinema, deus do presente, e a Grécia de Homero, da Odisséia. Encontro entre o clássico e o moderno: Fritz Lang, que faz o diretor que vai filmar A Odisséia, e Godard, que faz seu assistente. Evoca-se a possibilidade de o cinema reconstruir qualquer lugar. A corrida de Piccoli pelas ruas de Cinecittà são um momento antológico, em que Godard filma as "ruas de cinema do estúdio e a verdade dessas ruas, que recebemos como espectadores quando vemos um filme.O cinema de Godard teve, como prioridade, um aspecto documental, o desejo de captar a atualidade. Por uma vez, seu olho parece mirar outros horizontes. Existe, primeiro, a intriga, a crise conjugal entre o roteirista (Michel Piccoli) e a atriz (Bardot).Godard a leva a sério, mas não como o cineasta clássico. É um instante que parece concerni-lo: quando BB deixa de amar o marido e passa a desprezá-lo. Podemos buscar as ressonâncias, não as causas. É o mistério da mulher, de sua decisão, de seu rosto que permanecerão para sempre perturbadores em O Desprezo. O drama conjugal puxa todos os demais. Lá está o produtor de cinema, com sua previsível impaciência com a cultura e suas demonstrações de potência. Lá está Lang, como que ciente de sua grandeza, mas também da insuficiência dessa grandeza. E BB. E Palance.Parece que Godard empenha-se em trabalhar sobre um feixe de contradições amplo. Tão amplo, que o set de filmagem parece uma Babel, cheia de línguas cujas distâncias uma tradutora procura aplainar. Uma língua os une, que é o cinema. E o cinema surge como o elemento de atualidade que nunca falta a Godard. Porque existe uma diferença entre o ambiente descrito e o cinema godardiano.Os extras do DVD incluem documentários e entrevistas. Universal.

Play

A Primeira Página - Direção de Billy Wilder. A terceira versão para cinema da peça de Ben Hecht e Charles MacArthur traz um encontro luminoso entre Walter Matthau, como o chefe de redação cínico, e Jack Lemmon, o repórter que se demite em momento decisivo do jornal. Billy Wilder restabeleceu aqui a dupla masculina original, que Hawks havia transformado em casal duelista em Jejum de Amor. O mundo de Wilder é mais amargo que o de Hawks, e seu olhar, menos olímpico. Mas não menos bem-humorado. O fato de Lemmon e Matthau serem homens faz o filme se diferenciar de Jejum... e propicia um final exemplar. Comédia. Versátil.

Cassino Royale - Direção de Martin Campbell. A convincente estréia do inglês Daniel Craig como o agente 007, na adaptação do único romance de Ian Flemming que permanecia inédito na série oficial com o personagem, ganha tapete vermelho nesta edição especial em DVD, com um disco exclusivo para os extras. O destaque é o documentário Bond Girls São Eternas, com a atriz inglesa Maryam dAbo (007 Marcado para a Morte) entrevistando outras 15 atrizes que também pertencem a esse clube invejável. Os bastidores da substituição de Pierce Brosnan por Craig e das elaboradas cenas de ação aparecem em outros extras. Ação. Sony Pictures.

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