segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Piaf, uma vida de amor e tragedia

A cantora francesa Édith Piaf ganha uma ótima cinebiografia e tem seu livro de memórias lançado no País

IVAN CLAUDIO

PERFEIÇÃO Marion Cottilard interpreta Piaf no filme cuja trilha tem clássicos como La vie en rose e Hymne à l’amour

Paris, 1929. Um contorcionista faz o que pode para ganhar algumas moedas, jogadas pelos pedestres no chapéu que sua filha carrega. “E a menina, não faz nada?”, pergunta um deles. A garota, vacilante, faz a única coisa que sabe: cantar. E canta a única música que sabe de cor: a Marselhesa, hino nacional da França. Surgia naquela tarde parisiense um dos maiores mitos da música, a cantora Édith Piaf (1915-1963), que imortalizou canções como La vie en rose, Non, je ne regrette rien e Hymne à l’amour. Essa passagem está em Piaf – um hino ao amor, filme francês que estréia na sexta-feira 12, sobre a grande intérprete e sua vida de tragédias e amores. A mesma história da Marselhesa está também no livro Piaf – no baile do acaso (Martins Fontes, 192 págs., R$ 45), escrito pela própria cantora, na época com 43 anos. Ou seja, quatro anos antes de sua morte, de câncer, e precocemente envelhecida pela vida boêmia e pelo vício de morfina – ela chegava a injetar diariamente dez ampolas da substância.

MITO A artista no fim da vida, quando cantava que “não se arrependia de nada”

Na apresentação do livro fica-se sabendo que a própria Piaf ajudou a criar e a perpetuar as lendas em torno de si. A primeira, aliás, diz respeito ao seu nascimento. Ela insiste que veio ao mundo num dia frio de inverno nos degraus do número 72 da rua Belleville, enquanto seu pai, que havia saído atrás de uma ambulância, se aninhara no balcão do primeiro bar, só voltando depois que dois policiais haviam feito o parto.

Mas a maternidade do bairro registra o fato de forma mais natural, indicando inclusive o nome do médico que atendeu sua mãe. O filme dirigido por Olivier Dahan, com a esplêndida Marion Cottilard, faz jus ao mito e oferece uma história digna das letras de suas canções. Filha de uma cantora de rua, Piaf (cujo nome real era Édith Gassion) foi abandonada pela mãe quando o pai servia o Exército francês. Na seqüência, vai morar com a avó, que dirigia um bordel. Lá, contrai uma infecção nos olhos e fica sem ver por alguns meses. Recuperada, passa a trabalhar com o pai no circo, e, mais tarde, nas ruas de Paris.

MEMÓRIAS Piaf evita falar dos amantes no livro

Aos 15 anos, Piaf começa a ganhar a vida cantando pelas esquinas as músicas populares que aprendeu com a mãe e as prostitutas. É quando o dono de cabaré Louis Leplée a descobre. Diante da minguada estatura (ela media 1,42m), escolhe seu pseudônimo: La Môme Piaf (o pequeno pardal). Mas o sonho dura pouco. Seu protetor é assassinado e ela cai de novo na boêmia e no alcoolismo, herdado dos hábitos do pai, que lhe servia conhaque e vinho para afastar o frio. Piaf, claro, teve uma segunda chance e conheceu o estrelato. Viveu também muitos amores e muitas perdas. Casou duas vezes: com o cantor americano Jacques Pills e com o cabeleireiro Théo Sarapó. Os amantes foram muitos, como o cantor Yves Montand, o ator Eddie Constantine e o ciclista André Pousse. O grande amor de sua vida foi, certamente, o campeão de boxe Marcel Cerdan, que morreu num acidente de avião num vôo de Paris a Nova York. E o pior: viajando a pedido da própria Piaf, que se encontrava em turnê pelos EUA. Essa tragédia é um dos momentos sentimentais do filme. No livro, só ganha um parágrafo. “Com a morte de uma pessoa que eu amava, meu universo desabou. Achei que nunca mais conseguiria ser feliz (...) A fé me salvou.” E a música, claro.

Fonte: Revista Veja - 08/10/07

Nenhum comentário: