segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Hollywood em São Paulo

Fonte: Revista Isto é - 08/10/07

Estrelado por atores americanos, filme de Fernando Meirelles transforma a capital paulista em cenário da mais cara produção do País
IVAN CLAUDIO

‘‘Já sei o nome desse filme: A sujeira do Anhangabaú.” A frase não foi dita por nenhum crítico mal-humorado, mas por um morador de rua que na fria tarde do domingo 30 acompanhava no centro de São Paulo as filmagens de Blindness (Cegueira), de Fernando Meirelles. É o filme mais caro já feito no País (R$ 50 milhões). Essa co-produção entre Brasil, Canadá e Japão fechou por um dia o Vale do Anhangabaú, que passou a lembrar uma praça de guerra. Carros batidos, trincheiras, fumaça e sujeira por toda parte compunham o cenário apocalíptico armado pelo longa-metragem que está fazendo São Paulo lembrar Hollywood – seus atores principais são as estrelas americanas Julianne Moore, Danny Glover e Mark Ruffalo. Figurantes chegam a 300 e até o cachorro tem um regra-três, caso resolva esnobar a objetiva.

As filmagens já passaram pelo Canadá e Uruguai. A ficção é baseada no livro Ensaio sobre a cegueira, do autor português José Saramago, e trata de uma cidade tomada por uma epidemia que torna as pessoas cegas – deve ficar pronta a tempo de estrear no Festival de Cannes, em maio de 2008. “Está tudo dentro do cronograma, a equipe está feliz, é isso o que importa”, disse Meirelles. A questão do prazo é um dos detalhes que tornam Blindness tão diferente de Cidade de Deus, por exemplo, responsável pelo sucesso internacional de Meirelles. Quem explica é a produtora Andrea Barata Ribeiro, sócia de Meirelles na produtora O2: “Os contratos internacionais são mais complexos e incluem um seguro como garantia de que o filme será terminado.” Outras exigências também são novidade para os brasileiros. Julianne Moore não entra em cena sem saber quantas câmaras vão ser direcionadas para ela. “Não posso fazer o making of quando ela está rodando”, diz Andrea.

ACTION Meirelles fechou o centro de São Paulo, que ganhou placas em inglês e a presença de Glover, Ruffalo e Julianne.

Na maioria das filmagens estão sendo usadas quatro câmaras, mas o aparato técnico é bem maior. Para rodar a simples seqüência em que o ator japonês Yusuke Iseya sai de casa e toma um táxi com a mulher foram usados quatro caminhões com equipamentos e um gerador de 100 KVA, que equivale a 900 lâmpadas de 100 Watts. “Fiquem todos atrás da grade porque vai entrar um carro em alta velocidade”, disse um segurança. “Se vier acima de 80 já está multado”, retrucou um dos “marronzinhos” de plantão no local. Essa cena transformou as ruas Piauí e Aracaju, no bairro de Higienópolis, nas ruas Canal St e Royal St, de Nova York. O Viaduto do Chá virou a 3rd St e a rua Líbero Badaró a Grand Avenue. Em toda a extensão dessa última, seis trailers e quatro motorhomes eram alimentados por um gerador de 150 KVA, o suficiente para abastecer um prédio de sete andares. Embora o enredo do filme não se dê explicitamente em Nova York, carros de polícia, táxis e placas de rua levam a crer que se está na Big Apple. Falado em inglês e com elenco de diversas nacionalidades, o filme tem mudado os hábitos até dos técnicos. “I’m sorry. Com licença”, gritava um eletricista. “Aqui todo mundo tem de falar duas línguas”, explicava ele à multidão de curiosos.

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