sábado, 20 de outubro de 2007

'Capitão Fábio' abre boteco em Perdizes

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 20/10/07

Ator de ‘Tropa de Elite’, Milhem Cortaz aproveita popularidade

Sérgio Duran

Ninguém sabe direito qual é o destino final do capitão Fábio no filme Tropa de Elite, de José Padilha, depois do “pede pra sair”. Pois bem, ele virou dono de boteco e inaugura hoje uma modesta casa em Perdizes, na zona oeste de São Paulo. Brincadeiras à parte, o ator Milhem Cortaz, de 34 anos, diz nunca ter gozado de tamanha popularidade quanto agora, com o filme em cartaz. “O Tropa foi, para mim, uma espécie de novela das oito da Globo.”

Cortaz discorda das críticas de que o filme seja fascista, de que defenda o Estado policial ou ainda que seja uma narrativa do ponto de vista dos policiais. “É um dos filmes mais sinceros e cidadãos que eu já fiz”, afirma. “Faz a gente ver o nosso ridículo. Quem não encontra um preto na rua à noite e muda de calçada? Bem lá no fundo, todo mundo é reacionário. É bom que as coisas estão ficando mais claras nessa discussão.”

Para o ator, a formação de documentarista de Padilha colaborou para a construção de “um filme vital” para o Brasil neste momento. “De repente tudo conspirou a favor, até o assalto ao Luciano Huck”, considera. “O que escreveram depois, me desculpe, foi nada a ver. Só porque o cidadão ganhou dinheiro na vida passou a merecer ser assaltado?”, questiona.

Cortaz é um ator produtivo no cinema. Antes do capitão Fábio, interpretou o matador Peixeira em Carandiru, de Hector Babenco, papel que rendeu, em suas palavras, o respeito da classe artística. “Mas foi o capitão Fábio que me deu popularidade”, conta. Em sua opinião, o militar que interpretou é um homem “do bem”, apesar de cobrar propina para proteger comércios e de explorar a prostituição em Copacabana (zona sul do Rio), entre outras atividades paralelas. “Esses esquemas são completamente naturais para ele”, explica. “Porém quando os outros dois companheiros pegam o dinheiro do jogo do bicho e deixam o comandante furioso, ele não entrega os amigos. Ele assume a culpa”, analisa.

Tropa é o 31º filme da carreira de Cortaz. Há pelo menos outras três produções para estrear, entre as quais Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins, no qual figura até José Celso Martinez Corrêa.

O Cortás Pastéis - Espetos (Avenida Professor Alfonso Bovero, 584), conta, é um projeto familiar. Ele montou o negócio, na verdade, para o pai, Milhem Cortás Neto, de 65 anos, comerciante aposentado que durante décadas foi proprietário de uma lanchonete, ao lado da Estação Vergueiro do Metrô. Chamava-se Tinho e tinha como quitute mais famoso do cardápio o pão de queijo. No boteco que inauguram hoje, eles investirão em espetinho, pastel de feira e cachaça. “Será um boteco tradicional mesmo. Eu sempre adorei boteco, desses bem toscos, simples mesmo. Também sempre adorei cachaça. Não bebo cerveja”, conta Cortaz, que tem ascendência árabe e italiana, estudou no Teatro Piccolo de Milão na década de 80 e é um velho conhecido dos palcos paulistanos.
A todos os amigos ele pediu que levem um prato de casa para a inauguração do bar. No futuro, quando o cliente se tornar assíduo, terá direito a deixar um prato no boteco e a pedi-lo toda vez em que visitá-lo. Será uma forma de fazer com que todos se sintam em casa quando estiverem no boteco. “Aqui será um espaço da minha família, de amigos e parceiros”, diz. “Essa foi a maior vantagem de abrir esse bar. Nos últimos seis meses, conversei mais com o meu pai do que nos últimos seis anos. Montei isso aqui para ficar mais perto dele.”

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