sexta-feira, 23 de maio de 2008

Outras mostras revelam seleção bem atraente

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 23/05/08

A Quinzena dos Realizadores recebe nomes como Jean-Marie Straub, Jerzy Skolimowski e Albert Serra

Luiz Carlos Merten, Cannes

Alguns dos melhores filmes desta edição do Festival de Cannes estão passando em outras mostras que não a competitiva. A Quinzena dos Realizadores, por exemplo, abriga uma seleção muito atraente. Além de Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, a Quinzena também mostrou Le Genou d?Artemide, de Jean-Marie Straub; El Cant des Ocells, de Albert Serra; e Cztery Noce Z Anna (Quatro Noites Com Ana), de Jerzy Skolimowski. A Quinzena pode não ter selecionado os filmes desse jeito, mas está fazendo um arco desde os anos 60 até os 2000.

Mais informações no blog do Merten

Straub surgiu no novo cinema alemão, ao qual legou um de seus mais belos títulos (o melhor?) - A Crônica de Ana Madalena Bach. Depois, em outros países - na Itália, principalmente -, ele desenvolveu em parceria com Danièle Huillet uma obra cujo rigor nunca será suficientemente exaltado - Sicília! é um exemplo perfeito. Após a morte de Danièle, Straub assina seu primeiro filme sozinho. O Joelho de Artemide retoma a cultura erudita num cinema que radicaliza o experimento sem perder a fascinação da humanidade.

Jean-Marie Straub trabalha os mitos. Skolimowski, o ex-enfant terrible do cinema polonês, que os críticos comparavam a Jean-Luc Godard, fala de sua geração e da própria linguagem - do que e como ela mudou nos últimos anos.

Albert Serra, o mais jovem de todos, é outro que adora revisar os mitos. Há dois ou três anos, ele já veio a Cannes - e concorreu à Palma de Ouro com Honor de Caballeria, uma revisão do mito de Dom Quixote, de uma dureza, mas também de uma beleza, de cortar o fôlego. Serra é de Barcelona. Músico, fotógrafo, cenógrafo, roteirista e romancista, diretor, é um multiartista, mais do que um artista multimídia. El Cant des Ocells, ou O Canto dos Pássaros, recria outra história clássica, a dos Três Reis Magos. Como no filme anterior, no qual não temos todo o Quixote, mas um fragmento magnificamente filmado (e com um impressionante uso do som), O Canto dos Pássaros também retoma a história bíblica para discutir os temas da busca e da descoberta - do conhecimento. Os cinéfilos de carteirinha vão amar.

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