sábado, 23 de agosto de 2008
Esclarecimentos
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Como o seriado Sex and the City inventou a mulher moderna
Martha Mendonça e Marianne Piemonte
ÍCONE Carrie (Parker) desvia pescoços femininos em uma cena de Sex and the City. As protagonistas da série viraram referência
Quatro mulheres tagarelas, instáveis, complicadas, consumistas destronaram um dos maiores heróis da história do cinema. Desde que estreou nos Estados Unidos, há pouco mais de uma semana, Sex and the City, o longa-metragem inspirado na série de TV de mesmo nome, multiplica sua bilheteria, ofuscando até Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, a aguardada volta às telas do personagem encarnado por Harrison Ford. A distribuidora Warner previa arrecadar US$ 35 milhões com Sex and the City no primeiro fim de semana nos cinemas americanos. Foram US$ 55 milhões – que geraram o inevitável tititi sobre um novo filme. Na televisão, mesmo quatro anos depois da última temporada da série, as reprises dos episódios continuam a atrair 2,5 milhões de telespectadores a cada exibição. Em Nova York, as lojas e os restaurantes que servem de cenário para os episódios são temas de passeios turísticos de agências. No Brasil, a estréia de Sex and the City estava programada para a sexta-feira 6 de junho e também se espera uma bilheteria recorde. Por que, uma década depois de criada, Sex and the City ainda é um fenômeno? Provavelmente por ter sido a primeira, e ainda a única, série que mostra como as mulheres são – ou pelo menos como elas se vêem e gostariam de ser. Nunca antes a mulher de mais de 30 anos, cosmopolita e de classe média, fora retratada com tamanha fidelidade em suas conquistas e contradições. Todas as vezes que Carrie, Samantha, Miranda e Charlotte, o quarteto fantástico de Manhattan, sentavam-se num bar e pediam um Cosmopolitan – coquetel à base de vodca e suco de cranberry, uma espécie de amora –, milhares de mulheres no mundo reconheciam a si mesmas ou a alguma amiga, prima ou vizinha. Que mulher desta geração não se viu, em alguma fase da vida, questionadora como Carrie, romântica como Charlotte, sarcástica como Miranda ou caçadora como Samantha? Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha viraram ícones num momento em que as mulheres buscavam novas referências, passada a época da dedicação à família e a revolução dos sutiãs queimados. Nem tanto o fogão, nem tanto a selva do mercado. Daí a paixão sem fim por personagens que, ao mesmo tempo, pagam as próprias contas, correm atrás do amor e não sentem culpa por gastar uma fortuna num par de sapatos. “Essa é uma geração de mulheres que querem viver suas próprias fantasias. Solteiras, namorando ou casadas, querem ser donas de suas próprias vidas. Querem amar os homens que escolherem e comprar as roupas que quiserem”, afirma a sexóloga Pepper Schwarz, da Universidade de Washington, em Seattle. “As protagonistas de Sex and the City são ícones de um pós-feminismo que acreditam que os direitos da mulher já estão garantidos e que é hora de ir atrás dos sonhos individuais”, diz Márcia Messa, mestre em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Abaixo a elite negra
Marcelo Marthe
Taís e Gonçalves: garota mimada e deputado corrupto
Para o noveleiro João Emanuel Carneiro, Taís Araújo é mais que uma bela atriz – é o seu pé de coelho. Ela teve papéis de destaque nos dois folhetins de sucesso das 7 que ele escreveu. E, desde a semana passada, isso se repete em A Favorita, que alça Carneiro, de 38 anos, ao grupo seleto de autores aos quais a Globo confia as tramas das 8. É de novo por meio de Taís que ele retoma um expediente que já se tornou sua marca: a escalação de atores negros para papéis que fogem às convenções. Em Da Cor do Pecado (2004), transformou-a na primeira protagonista negra de uma novela da emissora. Depois, em Cobras & Lagartos (2006), na megera que vivia às turras com o malandro interpretado por Lázaro Ramos. A Alícia de A Favorita integra uma família negra politicamente incorreta. O patriarca Romildo Rosa (Milton Gonçalves) é um deputado corrupto em busca do terceiro mandato (qualquer eco de Brasília é coincidência). Com sua franja em estilo lambida de vaca, a filha mimada é a pedra em seu sapato. A artista plástica Alícia chama o pai de ladrão e desdenha de seu populismo (Romildo posa de "cavaleiro do povo" por ter passado fome). Ela chantageia o pai para obter dinheiro público para suas exposições, sob a ameaça de divulgar fitas que o envolveriam em obras superfaturadas. O clã se completa com o irmão Diduzinho (Fabrício Boliveira), um bêbado que o deputado quer transformar em político.
Nas novelas de Carneiro, a cor da pele é um detalhe que não impede ninguém de ser rico ou safado. O núcleo negro não está ali em nome da "afirmação racial", e sim como parte de uma certa comédia da luta de classes que atravessa A Favorita. Ela fica mais explícita no embate entre o milionário Gonçalo (Mauro Mendonça), ex-operário esquerdista que virou patrão, e o patético Copola (Tarcísio Meira), líder sindical que não se desapega do discurso da "revolução do proletariado". Gonçalo ironiza o fato de a neta Lara (Mariana Ximenes) ser de esquerda (a moça recita chavões do tipo: "Não compactuo com a exploração do homem pelo homem"). Já Copola ficou com a pulga atrás da orelha ao saber que o neto Cassiano (Thiago Rodrigues), também operário e namorado de Lara, se esbaldaria no aniversário dela, na mansão do desafeto.
Nos primeiros capítulos de A Favorita, Carneiro empreendeu um retorno às raízes do melodrama. Em vez de investir em seqüências de ação e pirotecnia como as que se viam nas últimas novelas das 8, valeu-se de uma narrativa sóbria e um elenco enxuto. Preferiu inovar nos detalhes, a exemplo do núcleo negro. Com efeito: a cena mais marcante do primeiro capítulo foi o strip-tease da personagem de Taís Araújo num comício do pai. A julgar pelos índices do Ibope, o noveleiro vai precisar de outro pé de coelho. A média de estréia de A Favorita, de 35 pontos, foi a pior de que se tem registro nas novelas das 8.
Tudor diet
Maria Bolena foi amante de Henrique VIII antes de suairmã Ana. Mas A Outra tira o sal dessa história suculenta
Isabela Boscov
Durante os 118 anos da dinastia Tudor, entre 1485 e 1603, a Inglaterra passou de um reino instável, sempre acossado pelos interesses ora da França, ora da Espanha, a uma superpotência: o País de Gales foi incorporado à sua estrutura administrativa, a Irlanda foi pacificada, o inglês se tornou a língua nacional de fato, as artes floresceram, seu poder político se separou em definitivo da Igreja de Roma, o país se abriu às navegações e a riqueza se multiplicou, assim como sua influência esmagadora sobre o cenário global. Sob Henrique VIII e, em especial, sob sua filha, Elizabeth I, a Inglaterra se tornou, em suma, uma nação, e definiu muito do que até hoje constitui sua identidade. No que toca à ficção histórica, porém, esses feitos pouco interessam; para ela, o que distingue os Tudor é a sua capacidade inesgotável para a intriga.– tanto a política quanto a sexual, até porque poucas famílias reais misturaram sexo e poder de forma tão intensa e criativa. Por causa dessa imagem, Henrique VIII e Elizabeth I são disparado os reis preferidos para fins de entretenimento; e por causa dela também os roteiristas se sentem autorizados a perpetrar bobagens como A Outra (The Other Boleyn Girl, Inglaterra/Estados Unidos, 2008), que estréia nesta sexta-feira no país.
A outra, no caso, é Maria Bolena, irmã pouco mais nova da notória Ana Bolena – a cortesã por quem Henrique VIII se divorciou da rainha Catarina de Aragão e rompeu com o papa. Maria passou antes de Ana pela cama do rei e é possível que tenha tido dele um filho, que não ganhou o sobrenome Fitzroy dado aos bastardos reconhecidos pelo rei porque, a essa altura, a campanha para tornar Ana Bolena rainha andava a toda – e até para os padrões de rotatividade de Henrique VIII pegaria mal assumir um filho da irmã de sua noiva. A história mostraria que Maria teve sorte: após alguns anos de casamento, Henrique VIII se cansou de Ana e executou a ela e a seu irmão, George, com uma acusação estapafúrdia de incesto. A caçula só escapou ilesa da perseguição por estar já casada de novo, em obscuridade e sem favor na corte.
Reunindo o pouco que se sabe de Maria ao muito que é conhecido sobre Ana e adicionando à mistura alguma imaginação fundamentada, a escritora Philippa Gregory fez de A Irmã de Ana Bolena um romance repleto de detalhes saborosos sobre os costumes do período e escrito em uma prosa que não ofende. Acima de tudo, o livro (lançado aqui pela Record) contém fartas doses de maquinação – o esporte por excelência das cortes – e de ambição nua. Tudo o que a autora urdiu, o roteirista Peter Morgan, de A Outra, desmancha em sua adaptação. As Bolena juntaram seu destino ao do rei dentro de um quadro épico de disputa pelo poder; no filme, tudo se resume a uma rivalidade entre irmãs. Vá lá, que irmãs: juntas, a loira Scarlett Johansson, como Maria, e a morena Natalie Portman, como Ana, atendem à provável totalidade dos sonhos de consumo do público masculino (Eric Bana, como o ainda atlético e atraente Henrique VIII, faz as honras junto à platéia feminina). Não que Morgan aproveite a contento o potencial desse trio – a série de televisão Os Tudor é muito mais picante –, ou a crueza das intrigas que Philippa desenha em seu livro. Quando escreveu A Rainha, com Helen Mirren no papel de Elizabeth II, Peter Morgan não economizou na ferocidade; para A Outra, ele achou que beleza e suspiros já dariam conta do recado. Os Tudor, porém, foram mais
Um desfile de vaidades
Por Luciana Franca
Cenas: a editora Miranda Priestly (Meryl Streep) num modelito exclusivo(à esq.) e sua assistente Andrea (Anne Hathaway) em suas tarefas. Nocentro, passeando com o cachorro da chefe e, à direita, cuidando dos trajes
Roupas estonteantes de alguns milhares de dólares ganhas. Estilistas internacionalmente famosos falando freneticamente ao celular. Uma assistente, claro que não poderia faltar uma competente e ágil assistente, providenciando para a chefe um jatinho no meio da noite e exigindo as provas de impressão da nova aventura de Harry Potter para que suas filhas leiam no avião antes de o livro chegar às livrarias. Tudo isso que cerca a poderosa editora de moda do filme O diabo veste Prada, em cartaz nacional na sexta-feira 22, parece ficção hollywoodiana. Mas é pura realidade – e quem freqüenta o mundo da moda sabe que aquilo que é mostrado nessa deliciosa comédia dramática de David Frankel (baseada no best-seller homônimo de Lauren Weisberg) acontece de verdade. “Gosto da história porque retrata a indústria da moda com verdade. Rola tudo aquilo mesmo”, diz Erika Palomino, editora de moda do site que leva seu nome e da revista Key. Não é para menos. Ao longo de um ano, Lauren foi assistente de Anna Wintour, a temida e rigorosa editora de moda da revista Vogue americana. A experiência serviu como base para descrever no filme a autoritária Miranda Priestly (interpretada com elegância e ironia pela atriz Meryl Streep), editora da fictícia revista Runaway, e sua assistente Andrea Sachs (vivida por Anne Hathaway). Lauren não assume com todas as letras que buscou inspiração na ex-chefe. Mas a consultora de moda Emanuela Carvalho, que trabalhou como estagiária e assistente de moda da New York Magazine, confirma que vaidade e futilidade são como linha e agulha no chamado mundo fashion – ou seja, companheiras inseparáveis. “Nós, que vivemos nesse meio da moda, conhecemos muitas histórias sobre Anna Wintour. O livro certamente foi inspirado nela.”
Entre algumas demonstrações de arrogância, a diretora da Vogue sempre exibiu, por exemplo, a idiossincrasia de trancar vestidos exclusivos e outras peças de uma estação do ano no departamento de arquivo da revista para que nenhuma concorrente pudesse fotografá-los. “Lembro que no meio de uma sessão de fotos faltava um par de botas de pele pink do estilista Manolo Blahnik. Minha diretora, Jade Hobson, pegou o telefone e teve de implorar para Anna liberar o calçado”, diz Emanuela. Deixar as salas de desfiles da concorrida semana de moda em Paris porque as apresentações estavam alguns minutos atrasadas é um comportamento até que aceitável para alguém na posição de Anna Wintour. Mas ela chegava ao extremo de proibir que as pessoas olhassem em sua direção quando dividia com elas o mesmo elevador. Detalhe: a editora de moda de O diabo veste Prada tem o mesmo comportamento.
Os chiliques e as crises de autoritarismo de Meryl Streep, que não se cansa de repetir que na vida real a sua cabeça é ocupada “com coisas mais interessantes e mais úteis que os trajes que estão no guarda-roupa”, divertem o público masculino. Já o corte impecável dos modelos que veste e a classe com que os desfila causam suspiros (e, vá lá, uma ponta de inveja) na platéia feminina. São os fabulosos figurinos usados tanto por ela quanto pela sua assistente que roubam a cena do filme – e mais uma vez, também nisso, o frufru do filme empata com o da vida real. A garota comum se contamina com o novo universo e começa a usar as grifes caras tiradas do guarda-roupa da Runaway. A consultora Emanuela endossa: “O que me salvava na época em que trabalhava em Nova York eram os bazares que as grifes promoviam para a imprensa. Comprei bolsa Fendi e carteira Dolce & Gabbana por US$ 50. Era uma forma de andar chique, já que o salário era pouco.” E, nesse campo, o chique, seja ele o que for, é tudo. “Moda é glamour. E o glamour é o que move e excita esse mundo”, diz ela.
Sua vida no DVD
Por Celina Côrtes
Imagine ser surpreendido na festa de aniversário com um pequeno documentário que percorra algumas de suas melhores lembranças, ao som de músicas definitivas em sua vida, pontuado por depoimentos das pessoas mais queridas! Esse pacote de fortes emoções está turbinando empresas que colhem os resultados da popularização dos gravadores de DVDs. As produções seguem um padrão televisivo, do tipo “esta é a sua vida”. E viraram o sonho de consumo da garotada aos mais velhos. “De um ano para cá, nossa demanda cresceu muito. Fazíamos dez gravações mensais, hoje fazemos 30”, contabiliza Ricardo Langer, um dos sócios da Vídeo Shack Laboratório, uma ex-locadora de vídeos em Ipanema, na zona sul do Rio.
DEMANDA Langer viu triplicar em um ano o pedido de gravações por mês
O trabalho é até simples. Requer computadores e uma ilha de edição, que pode ser pilotada por uma única pessoa. Solicitações de DVDs desse gênero costumam ser feitas por parentes e amigos. Os mais organizados já chegam com o acervo de imagens escolhido e basta um dia para concluir a produção. Mas há clientes que nem sequer sabem o que querem e ainda dependem do laboratório para produzir depoimentos, o que soma mais dois ou três dias de dedicação. Garimpadas as cenas, os produtores abusam de recursos de animação proporcionados pela tecnologia. Em alguns casos, os DVDs provocam cascatas de lágrimas. “Foi muito emocionante ouvir minha irmã dizer eu te amo, coisa que ela não tem coragem de falar ao vivo”, comenta Fernanda Spyer, que recebeu um belo flash-back de sua trajetória quando fez 18 anos.
Mas nem sempre as empresas têm tanto trabalho. Na carioca Supervídeo Produtora, outra antiga locadora de Ipanema, muita gente traz o serviço quase completo, deixando apenas a edição final sob o cuidado dos especialistas. São pessoas que dominam softwares de vídeos e outros programas de computador para incrementar o DVD. Algumas delas também estão se arriscando no novo segmento. A programadora visual Heloisa Pinheiro, 47 anos, e a arquiteta Márcia Dal Poz, 50, já pensam em profissionalizar a atividade que começou como brincadeira. “É fácil e delicioso fazer”, resume Heloisa. O resultado tem um sabor de eternidade até para o mais comum dos mortais.
Tico-tico no fubá
Por Celina Côrtes
"Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim/ Oh meu bem não faz assim comigo, não/ Você tem, você tem que me dar seu coração." A marchinha de Joubert de Carvalho, um dos maiores sucessos de Carmen Miranda, retrata bem o temperamento generoso da Pequena Notável, que do alto de seu 1,53 m nunca mediu esforços para agradar ao público e aos amigos que a cercavam. Passados 51 anos de sua morte, o uso de sua imagem motiva uma disputa judicial injusta com um dos maiores mitos nacionais. A briga envolve os herdeiros, a ex-mulher de Caetano Veloso, Paula Lavigne, o escritor Ruy Castro e o diretor de cinema Aníbal Massaini Neto.
Em 1998, a produtora Rio Vermelho arrematou por US$ 200 mil (cerca deR$ 400 mil) os direitos sobre a imagem de Carmen Miranda. Era um dos projetos mais ambiciosos das sócias Paula Lavigne e Renata de Almeida Magalhães,que planejavam fazer um filme. Acabaram envolvidas em um projeto da Rede Globo de lançar uma minissérie antes do centenário de Carmen, que se completa em fevereiro de 2009.
Quase ao mesmo tempo, Massaini, diretor do documentário Pelé eterno, ambicionava realizar um sonho de seu pai, Oswaldo, e levar Carmen às telas. Para isso, sondou seu colega Carlos Manga para dirigir uma produção sobre a artista. O veterano Manga, porém, abandonou a família Massaini e embarcou no projeto da minissérie da Globo, convidando, inclusive, a novelista Maria Adelaide Amaral para escrevê-la. “A idéia ficou só no desejo”, lamenta Massaini. O problema é que os dois projetos – o da Globo e o de Massaini – são alvo de processos movidos pela Copyrights Consultoria Ltda., representante dos herdeiros de Carmen, que temem pelo uso da imagem da artista.
Carlos Manga planeja minissérie
Paula Lavigne tem os direitos
Aníbal Massaini quer fazer filme
Ruy Castro se associou à Globo
“Em tese, a produtora (Rio Vermelho) não teria o direito de fazer o filme porque o contrato com eles termina este mês”, alega a advogada da Copyrights, Adriana Vendramini. O que se sabe é que só 10% do valor do contrato foi quitado. Mas a produtora acaba de obter o direito de pagar o restante da dívida em juízo. “Cumpro o que a Justiça determinar”, rebate Paula Lavigne. Outra envolvida é a empresa americana CMG Worldwild, com escritório no Rio. Entre as 300 celebridades cujos direitos de imagem estão sob seus cuidados estão Marilyn Monroe, James Dean e, claro, Carmen Miranda. Verdinhas à vista: “Há interesse dos estúdios americanos em fazer um filme sobre Carmen”, antecipa a diretora Kitty Monte Alto.
O escritor Ruy Castro, autor de biografias como a de Garrincha e a de Nelson Rodrigues, que vendeu no ano passado à Globo os direitos sobre seu livro Carmen: uma biografia – a vida de Carmen Miranda, a brasileira mais famosa do século XX, um calhamaço de 600 páginas, parece perdido diante de tanta polêmica. “Não há impasse, apenas um desencontro momentâneo”, acredita Castro. A Central Globo de Comunicação informa que os direitos do livro foram comprados por R$ 50 mil,“como os de várias outras obras”, mas alega que o projeto ainda está em estudos. Quem conheceu Carmen de perto fica triste diante desse quiproquó. “Ela foi muito especial, isso não tem nada a ver conosco”, suspira Carmen Guimarães, 70 anos, filha de Cecília, única dos seis irmãos ainda viva, com 92 anos.
Mitos da lição de casa
Por Lena Castellón
A cena é comum. Caderno aberto, livro num canto e a cara aborrecida. Não da criança, mas da mãe. Discutir por causa da letra é praxe. Assim como irritar-se devido à lentidão na execução dos exercícios ou desesperar-se porque o herdeiro não entende o que ela cansou de repetir. A lição de casa virou um tormento para muitos pais. Especialmente agora, quando os estudantes correm contra o tempo para evitar a recuperação. A “ameaça” faz aumentar a pressão da família, a cobrança por um bom desempenho e os insistentes pedidos para que o filho se dedique mais ao estudo. Tudo isso sem deixar de lado o capricho nas tarefas.
Mas acrescentar horas ao período dedicado às atividades não ajuda a criança. Nem travar batalhas com o filho por causa da lição. É o que demonstra uma série de pesquisas feitas nos Estados Unidos. Levantamento da Universidade de Michigan com 2.900 jovens americanos revelou que o tempo gasto com as tarefas aumentou 51% entre 1981 e 2004. Outro trabalho, conduzido na Duke University, mostrou que esse acréscimo não trouxe melhora na performance. O estudo apontou ainda que os estudantes do ensino fundamental que dedicaram de 60 a 90 minutos diários para os deveres e os alunos do ensino médio que cumpriram mais de duas horas na execução deles tiraram as notas mais baixas.
Por esses e outros achados, o educador Alfie Kohn, autor do livro The homework myth (O mito da lição de casa, em tradução livre), propõe uma nova forma de trataro assunto. Para ele, as crianças poderiam trocar os exercícios convencionaispor atividades mais envolventes, como entrevistar os parentes para conhecer a história da família.
No Brasil, embora a escola não seja integral como nos Estados Unidos, também há defensores de novos meios de lidar com o dever. Motivos não faltam. A tarefa, quando executada apenas por obrigação, não estimula a aprendizagem. Cumprida sob as broncas dos pais, traz uma percepção negativa: aos olhos do filho, lição vira sinônimo de chatice. Com isso, as oportunidades de treinar e captar conceitos se diluem. “Ver o jogo de empurra diante do conhecimento me entristece. Há professores que passam o dever de ensinar para os pais, que o devolvem para a escola. Os alunos refletem esse descompromisso e também querem delegar para alguém a lição, seja para os irmãos, seja para a internet”, declara Nilce da Silva, professora da Faculdade de Educação da USP.
Para a Ph.D. em educação infantil Fátima Guerra Sousa, da Universidade de Brasília, o ideal seria oferecer horário integral para os jovens. Mas já que isso é raro no País, cabe aos colégios discutir quando e como passar lição de casa. “Eu reduziria a tarefa. Em alguns lugares, ela é o atestado de que a escola não consegue trabalhar a aprendizagem na perspectiva do prazer e do envolvimento do aluno”, afirma. Nas suas palavras, se o interesse é despertado de outra forma, não é necessário passar tantos exercícios para a casa. O próprio estudante vai atrás de informações. Fátima acha importante distinguir os níveis de ensino e é contra pedir tarefas para menores de seis anos. “O aprendizado deles ocorre por meio de brincadeiras”, considera.
Na visão de Clélia Pastorello, educadora de São Paulo, escolas com projeto educacional sempre revêem a lição. Esse esforço deve ser feito. Afinal, em certas escolas, dificilmente a tarefa direciona a criança e o adolescente a aprender por si. Outro problema é que os pais não sabem como participar. “Interferir não é um mal, desde que o adulto se coloque ao lado para estimular, não para dar respostas”, ensina Clélia. Quando os pais começam a palpitar demais nos trabalhos, eles prejudicam o desenvolvimento da autonomia das crianças. “Muitas famílias ficam estressadas com o que julgam estar errado e acabam assumindo a responsabilidade pela tarefa”, comenta a neuropsicóloga infantil Ana Olmos. A dica, portanto, é não interferir demais e controlar a vontade de apagar a lição. Ana tem ainda uma sugestão para aliviar os dilemas cotidianos: criar um horário para que a lição seja feita no colégio. Com isso, a criança aproveitaria melhor o tempo em casa, com direito a brincar e sentir prazer entre os seus. Seria um aprendizado e tanto.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
A nossa surpresa em Cannes
A atriz Sandra Corveloni arrebatou o júri do Festival e ganhou o segundo principal prêmio do cinema mundial logo na sua estréia
Rodrigo Turrer
"O prêmio me tirou da tristeza e da prostração"
Infantil maduro
Isabela Boscov
William Moseley, como um dos irmãos Pevensie: batalhas violentas – mas sem sangue
Que seria dos autores de fábulas sem recursos como o que dá mote a As Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian (The Chronicles of Narnia: Prince Caspian, Estados Unidos/Inglaterra, 2008)? No primeiro filme da série baseada nos livros do irlandês C.S. Lewis, os quatro irmãos Pevensie iam parar na terra encantada do título, da qual descobriam ser os soberanos. Nesta continuação, desde sexta-feira em cartaz no país, os Pevensie, depois de cumprirem um longo reinado, estão de volta a seu tempo e lugar originais – a Inglaterra da II Guerra. Para eles, apenas um ano se passou; mas, em Nárnia, para onde são reconvocados por um chamado mágico, algo como 1.000 anos transcorreram. Seu antigo reino está em ruínas, e seus habitantes foram quase todos dizimados pelo reino vizinho de Telmar. Aí, também, algo vai mal: um nobre usurpou o trono do herdeiro legítimo, o príncipe Caspian, e não vai descansar até tê-lo assassinado. Caspian é quem chama os irmãos de volta: sem o seu amparo e a influência que eles podem exercer sobre os narnianos remanescentes, ele não tem chance sequer de sobreviver, quanto mais de destronar o ganancioso rei Miraz (o italiano Sergio Castellitto, em grande forma). O truque da discrepância temporal – um ano numa dimensão, dez séculos em outra – faz parte do feijão-com-arroz dos autores de fantasia, e não se pode acusá-lo de originalidade. Mas aqui ele se presta a pelo menos uma vantagem: da mesma forma que os protagonistas, obrigados a olhar de frente os escombros de seu passado glorioso, também o enredo e o estilo cresceram.
A exemplo de Harry Potter, o calcanhar-de-aquiles de Nárnia está no seu elenco principal, que vai crescendo sem manifestar grande talento. Ben Barnes, que interpreta Caspian, é uma presença agradável, embora prejudicada pelas falas genéricas e pelo cabelo com jeito de quem acabou de fazer escova. Mas trata-se de pormenores: agora, a intriga pelo poder é sombria, Telmar e Nárnia têm uma questão de vida ou morte a decidir, e as batalhas são consideravelmente mais violentas (embora livres de sangue). Para o público infantil, responsável pela bilheteria estrondosa do primeiro episódio, esta seqüência parecerá um bocado mais assustadora. Mas também bem mais compensadora. Com sorte, Nárnia há de seguir Harry Potter também em outro caminho, o do amadurecimento criativo – e, quem sabe, chegar ao terceiro filme surpreendendo não só pela boa vontade, mas pela originalidade.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Filmes em 3D chegam no fim do ano
Hollywood está preparando o lançamento em larga escala de filmes em terceira dimensão, que chegam aos cinemas no fim do ano, primeiro em animação e, em seguida, com atores de carne e osso. O desenvolvimento de novos sistemas digitais permite a realização de médias-metragens em 3D, em especial a introdução da técnica de gravação estereoscópica, que obrigou os grandes estúdios a apostar em histórias nesse formato.
var keywords = "";
Scorsese diverte-se com os problemas, em Depois de Horas
Se precisou esperar muitos anos até receber seu Oscar de melhor diretor apenas em 2007, por Os Infiltrados, Martin Scorsese já era badalado muito antes pelos grandes festivais europeus de cinema. Em 1986, por exemplo, ganhou um merecido prêmio de direção em Cannes por seu trabalho em Depois de Horas, que o Cinemax Prime exibe às 22h15.
Ciclo leva a debate as leis de renúncia fiscal para o teatro
Beth Néspoli
Nestes tempos em que artistas teatrais reivindicam legislação específica para o setor e discute-se o uso do dinheiro público por meios de leis baseadas em renúncia fiscal não é má idéia ampliar conhecimentos sobre o tema. Esse é o objetivo do ciclo de debates realizado pela direção do Teatro Commune, que teve início da segunda-feira passada e segue até o dia 2.O debate de abertura, acompanhado pelo Estado, reuniu representantes de três empresas patrocinadoras: Petrobrás, Votorantim e Caixa Econômica Federal. Diferentes na amplitude de investimentos, têm em comum o uso de editais públicos para selecionar beneficiados. "O diálogo é sempre esclarecedor", diz Augusto Marin, diretor do Commune.A atriz Michelle Gabriel, que intermediou o debate, ressaltou que convidara outros patrocinadores, "mas foi impossível conciliar agendas". Taís Reis, gerente de patrocínio cultural da Petrobrás, apresentou números de investimentos culturais em todo o País nas áreas de preservação e memória; produção e difusão; formação e reflexão. Ressaltou que a Petrobrás tanto atua de forma direta, por exemplo, na manutenção de grupos como o mineiro Galpão e o Grupo Corpo, quanto por meio de editais. "Com a seleção pública aumentou a distribuição regional nas áreas de artes cênicas e música", afirmou.Ressaltou ainda que a Petrobrás tem como objetivo fomentar a produção cultural existente e, por isso, não possui, e não planeja construir, centros culturais próprios. "Percebemos que o patrocínio continuado propicia aos grupos a manutenção de espaços que acabam se tornando, também, pontos de formação e intercâmbio artístico."O debate mostrou que um dos diferenciais da Caixa Econômica Federal é o investimento direto da quase totalidade de R$ 40 milhões anuais na área cultural. Ou seja, com exceção da manutenção de museus (R$ 6 milhões), os demais projetos beneficiados por edital ganham financiamento direto, sem a utilização do mecanismo da Lei Rouanet. "Eliminamos o que seria mais uma etapa", disse Élcio Mendes de Paiva, gerente de patrocínio da CEF.???Lárcio Benedetti, gerente de desenvolvimento sociocultural da Votorantim, explicou que a partir de 2006 a empresa unificou-se as ações de patrocínio a partir da premissa do "interesse público" e passou a abrir editais numa política voltada para o "acesso aos bens culturais." Mostrou números de uma pesquisa na qual, entre outros dados, revelou que "91% dos municípios brasileiros não têm sequer uma sala de cinema".Por conta disso, a Votorantim optou por apoiar "itinerância, sensibilização e formação de público". A cada ano, abre um novo edital para patrocinar projetos com essas características, mas mantém os já patrocinados. "Em 2006 investimos R$ 13 milhões, no ano seguinte, R$ 18 milhões e, este ano, a previsão é de R$ 25 milhões, sempre através de Lei Rouanet, sendo 80% isenção fiscal e 20% investimento próprio." Entre os beneficiados, para citar dois exemplos, o projeto A Arte do Brincante, de Antonio Nóbrega, e o projeto Arte em Construção, do grupo Pombas Urbanas, sediado em Cidade Tiradentes. "A Votorantim não faz questão de ser patrocinador exclusivo. Por exemplo, na Bienal de São Paulo, investimos na ida de escolas ao evento." Hoje à noite, será a vez de ouvir beneficiados com o Grupo Galpão.
Brasileiro adora dizer que o Brasil não presta
FOLHA - O título do novo disco será "Transamba"?
FOLHA - Por que fazer uma canção chamada "Baía de Guantánamo", uma das inéditas do show? CAETANO - Eu lia sobre aquilo na imprensa, mas nunca imaginei fazer uma canção. Quando eu vi o filme "Caminhos de Guantánamo" [produção inglesa de 2006], parte ficção, parte documentário, comentando com uma pessoa amiga, num e-mail, eu coloquei aquela frase ["O fato de os americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano é por demais forte simbolicamente para eu não me abalar"]. Fiquei com ela na cabeça. É um negócio seco, ficou só aquilo. É uma frase que dá conta do mal-estar que senti diante daquela situação irregular quanto aos direitos humanos, produzida pelos americanos na ilha de Cuba, onde eles têm a base de Guantánamo desde o século 19. Se você falar em questão de como são observados os direitos humanos e as questões de liberdade e respeito aos homens, sou 100% mais EUA do que Cuba. E eles, os americanos, os defensores das sociedades abertas, apresentam muitas vezes o caso de Cuba, como um lugar onde não se respeitam as liberdades. Que aconteça isso na base de Guantánamo, sendo que são os americanos que estão desrespeitando os direitos humanos, me abala, me provoca mal-estar. Justamente porque eu sou neste ponto do lado dos americanos. Se eu fosse o tipo de cara de esquerda, pró-Cuba, anti-EUA, não seria nenhum abalo para mim.
FOLHA - Que reflexos terá nos EUA a disputa Obama ou Hillary contra McCain na sua opinião?
FOLHA - Obama foi aluno de seu amigo Mangabeira Unger, que, depois de dizer que o governo Lula era o mais corrupto da história, assumiu um cargo de ministro de Assuntos Estratégicos.
FOLHA - Mas depois afirmou que era o governo mais corrupto da história.
FOLHA - Por que acha que ele é folclorizado?
FOLHA - Você não está com o governo, mas o governo está com você ao menos em relação a amigos como Mangabeira e Gilberto Gil.
FOLHA - Como vê a possibilidade de a sucessão de Lula caminhar para a disputa entre a ministra Dilma Rousseff e o governador José Serra?
FOLHA - Por que você assinou o manifesto contra as cotas raciais?
FOLHA - Nosso racismo cordial...
Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 26/05/08
Brasileira Sandra Corveloni é a melhor atriz em Cannes
Sandra Corveloni interpreta Cleuza em "Linha de Passe"
O 61º Festival de Cannes terminou ontem com o prêmio de melhor atriz para a brasileira Sandra Corveloni, protagonista do longa "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas. A Palma de Ouro ficou com o filme francês "Entre les Murs" (entre os muros), de Laurent Cantet. "Estou me sentindo como uma atleta que ganhou medalha de ouro na Olimpíada. É um prêmio para todo mundo, porque brasileiro batalha tanto para conseguir as coisas", disse a atriz à Folha por telefone, de sua casa, em São Paulo. Os diretores receberam o prêmio em nome de Sandra, que não viajou a Cannes porque se recupera de um aborto espontâneo. "Estava aqui brincando com o meu filho [Orlando, 6] quando a assessora do filme me ligou dizendo que o Walter e a Daniela estavam recebendo o prêmio por mim. Falei: "Meu Deus, como é que é?". Esperava um prêmio pelo conjunto dos atores; a gente fez um trabalho muito homogêneo. Jamais ia imaginar algo assim [o prêmio de melhor atriz]. Está uma loucura", comentou, sobre o assédio repentino da mídia. Sandra, cujo currículo cinematográfico até então se resumia a dois curtas ("Flores Ímpares" e "Amor"), afirmou que suas atenções se voltam agora para o lançamento de "Linha de Passe", previsto para o segundo semestre deste ano: "Quero cuidar da divulgação do filme, para que tenha uma carreira linda. Vou continuar trabalhando no teatro [é atriz e diretora do grupo Tapa], como sempre trabalhei. Não sei o que vai acontecer. Quero viver este momento", diz ela, 22 anos depois de Fernanda Torres ganhar o prêmio de atriz em Cannes por "Eu Sei que Vou te Amar", de Arnaldo Jabor. "Reflexo de uma nação" Em Cannes, Salles disse se orgulhar "de fazer parte de uma profissão que é, antes de tudo, o reflexo de uma nação que se projeta na tela do cinema. Tenho um pouco mais de orgulho desse prêmio para uma atriz que debuta no cinema e que fez de tudo para tornar inesquecível essa experiência [das filmagens] coletiva". Thomas agradeceu o prêmio em inglês e, em seguida, pediu licença para dirigir algumas palavras à atriz, em português: "Querida, você não esteve aqui conosco em carne e osso, mas a sua personalidade incrível, que nos trouxe para essa viagem de puro prazer que foi fazer este filme, está aqui com a gente". Sandra foi selecionada para o papel da doméstica Cleuza, fã do Corinthians, mãe de quatro filhos e grávida do quinto, por meio de testes. "Depois que a vimos pela primeira vez, foi difícil ver outras pessoas. Ela realmente é extraordinária", afirmou Thomas. Salles, que define a atuação de Sandra como "ao mesmo tempo forte e contida", disse que "você vê, tanto com a Sandra como com esses jovens atores [do filme] que estréiam aqui, o quanto há de talento no Brasil que a gente não conhece". Sandra concorreu em Cannes com atrizes como as norte-americanas Angelina Jolie ("Changeling", de Clint Eastwood), Julianne Moore ("Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, não lembrado pelo júri), e a francesa Catherine Deneuve ("Un Conte de Noël", de Arnaud Desplechin). A Folha apurou que, entre os nove membros do júri, oito votaram na brasileira para o prêmio. O presidente do júri, o ator e diretor norte-americano Sean Penn, declarou que foram decididos por unanimidade a Palma de Ouro e o prêmio de ator, para o norte-americano de origem porto-riquenha Benicio Del Toro, pelo papel de Ernesto Che Guevara em "Che", de Steven Soderbergh. O diretor mexicano Alfonso Cuarón, integrante do júri, disse que "Che" e "Linha de Passe" são "filmes relevantes hoje" e que o júri reconheceu "o poder de interpretação desses personagens [Che e Cleuza], que levam os filmes adiante". Entre a crítica, as apostas para melhor atriz ignoravam Sandra e citavam a argentina Martina Gusmán, de "Leonera", de Pablo Trapero, dentre as prováveis ganhadoras. "Sandra é muito sensitiva. Imagino que, se estivesse aqui, ela dividiria esse prêmio com outras atrizes latino-americanas espetaculares, como Martina Gusmán", observou Salles, em entrevista coletiva após a premiação. Os cineastas dizem que é preciso também "aplaudir e agradecer" o trabalho de Fátima Toledo, preparadora de elenco de "Linha de Passe".
domingo, 25 de maio de 2008
''Ele tem a força da ressaca''
Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - 25/05/08
No centenário da morte do escritor, o Cultura publicará no último domingo de cada mês depoimentos de artistas sobre sua relação com a obra do mestre da literatura nacional
Gilberto Mendes
Comecei a ler livros de gente grande com 14 anos. E comecei pesado, com Eça de Queiroz. Li quase tudo dele. Minha família, sobretudo meu pai, médico, gostava muito do Eça. Cresci no ambiente do culto ao Eça. É magnífica a elegância e charme cosmopolita, parisiense, lisboeta, da sua linguagem. Na minha juventude, aliás, havia dois times de admiradores bem marcados: o do Eça e o do Machado. A turma do Eça era mais aberta, generosa; já a turma do Machado era radical, gritava contra o que considerava a verborragia do Eça. Eles adoravam a linguagem enxuta.Comecei a ler o Machado de verdade mesmo aos 24, 25 anos. E ainda assim achando que não iria gostar muito. Mas gostei. E muito. Dom Casmurro foi o primeiro romance dele que li e permanece para mim como sua obra-prima. De modo inesperado, ele aqui é mais sensual, deixa um pouco de lado a coisa estrutural, o trabalho de linguagem tão característico em sua literatura. Não consigo esquecer a descrição que ele faz da Capitu logo no começo do livro.Capitu estava ao pé do muro fronteiro, voltada para ele, riscando com um prego. O rumor da porta fê-la olhar para trás; ao dar comigo, encostou-se ao muro, como se quisesse esconder alguma coisa. Caminhei para ela; naturalmente, levava o gesto mudado, porque ela veio a mim, e perguntou-me inquieta: - Que é que você tem? - Eu? Nada. - Nada, não; você tem alguma coisa. Quis insistir que nada, mas não achei língua. Todo eu era olhos e coração, um coração que desta vez ia sair, com certeza, pela boca fora. Não podia tirar os olhos daquela criatura de 14 anos, forte e cheia, apertada num vestido de chita desbotado.Capitu é a minha personagem machadiana preferida. A dúvida existencial não me interessa, mas é genial o modo como ele bolou isso pra botar a dúvida na cabeça do leitor. Eu, de minha parte, diria que ela traiu Bentinho com Escobar, as características dela são as de quem trai. Ela é tesuda. Aliás, o interessante de Dom Casmurro é que nele Machado assume um tesão humano, sensual, aparentemente distante de seu universo como escritor em tantos outros livros, que privilegiam a ironia, os meios-tons. Aqui, a sensualidade, o tesão, são às claras. Eu me lembro de outra passagem mais adiante, em que ele descreve o penteado dela.Se isto vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca pusestes as mãos adolescentes numa ninfa... Uma ninfa!Ele é bom mesmo pra descrever tesão. Adorava os braços das senhoras. Mas a Capitu, rodo, rodo e volto a ela, Capitu é sensual demais para não trair. Ah,e a descrição do beijo?Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim, a olhar um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus, e ... (...) Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse, faltava-me língua.Tem um outro aspecto muito interessante do Machado para o qual me chamou a atenção David Jackson, professor de literatura brasileira na Universidade do Texas. Ele também é músico, toca violoncelo. E pesquisa a fundo a Pagu, daqui de Santos. Pois não é que Jackson acha que o Machado é meio Woody Allen, pelo cinismo? No Dom Casmurro, a relação dele com o filho - ele acredita que possa não ser dele, trata-o bem mas gostaria que ele tivesse morrido. E, quando o filho morre, ele fica satisfeito. No filme Crimes e Pecados, o cara tem uma amante que enche a vida dele, e o irmão mafioso o aconselha a matá-la, numa saída machadiana. A princípio, achei a comparação forçada. Mas depois pensei bem e achei válido.Machado fala muito de música nos livros, tinha que gostar bastante. O Décio Pignatari me prometeu, durante anos e anos, escrever um libreto para eu musicar as Memórias Póstumas de Brás Cubas. Outra coisa legal é como ele marcou bem o Rio de Janeiro, aquela vida do segundo império. Ele valorizava também a música mais popularesca. Será que, como em Um Homem Célebre, todo compositor brasileiro se vê necessariamente diante da grande música e da música popular? Não creio que a mestiçagem seja exclusividade nossa. Bela Bartók e Stravinski também destilam esta mesma mestiçagem em suas músicas. Mas não sei se a mestiçagem é o que explica a música brasileira - é, porém, uma coisa que faz a gente pensar, chama a atenção. À primeira vista, acho que sim, porque a música popular das Américas, por força da presença negra, é um tipo de música que não houve na Europa. Só tem nos EUA, no Caribe e no Brasil, onde o negro esteve e está presente. O negro é que deu origem ao jazz, ao calipso e à rumba, e ao choro e ao samba. O negro é que deu origem às músicas populares urbanas nas Américas. Na Europa não tinha nada disso, havia apenas a música folclórica.É interessante ver no Machado sua relação com a música popular urbana. A música, ou melhor, as músicas estão espalhadas por toda a sua obra. Não é a relação do músico europeu com a música popular do seu país, que é apenas o folclore. Lá não rolam nas cidades as misturas de coisas eruditas com as músicas negras, como aqui. Isso gerou a música urbana e é a realidade brasileira, norte-americana e do Caribe.Tudo isso pouco valeria se ele não fosse tão genial. Há pouco tempo peguei o Dom Casmurro para consultar um capítulo, e acabei lendo-o inteiro de novo. O livro tem a força da ressaca, arrasta a gente.
DEPOIMENTO A JOÃO MARCOS COELHO
Curta brasileiro leva troféu em Cannes
O curta brasileiro "Muro", de Bruno Bezerra, ganhou o troféu Regard Neuf (novo olhar) da Quinzena dos Realizadores, do 61º Festival de Cannes.Também foram anunciados os vencedores da mostra "Um Certo Olhar". O longa brasileiro "A Festa da Menina Morta", de Matheus Nachtergaele, saiu sem prêmios. O ganhador foi "Tulpan" (Sergey Dvortsevoy, Cazaquistão).Já o júri da crítica preferiu o australiano "Hunger" (fome), do inglês Steve McQueen. Entre os concorrentes à Palma de Ouro, a crítica escolheu o húngaro "Delta", de Kornél Mundruczó. O júri ecumênico premiou "Adoration" (adoração), do canadense Atom Egoyan.(SA)
"Mash" mostra que o cinema envelheceu
Santoro vai a Cuba e aos EUA, mas quer voltar
sábado, 24 de maio de 2008
A estética de choque da Festa da Menina Morta, de Nachtergaele
Luiz Carlos Merten, Cannes
O melodrama em Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado
Ubiratan Brasil
Há uma tradição no cinema de que filmes de grande sucesso não rendem boas continuações - o original esgota o filão. Mas, como toda regra tem uma exceção, aqui os exemplos são vários. E um deles, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, será exibido hoje pelo Telecine Premium, às 22 horas.O problema do primeiro da série estava na ingrata tarefa de apresentar os personagens, ou seja, mostrar como aquele grupo de quatro pesquisadores passa a desfrutar os superpoderes depois de um acidente que modifica seus cromossomos.Agora, com a chegada de um inimigo à altura (Surfista Prateado), o quarteto passa por uma provação adequada. Ele é o personagem que carrega uma carga melodramática por se sentir um fiel servidor de Galactus, o devorador de mundos que ameaça a Terra. Sua fraqueza, porém, se torna visível ao conhecer Sue Storm, a Mulher Invisível, que não apenas faz lembrar seu grande amor como provoca um conflito interno.É essa angústia que humaniza o filme, recheado de efeitos especiais. O filme também é mais relaxado que o primeiro da série, justamente por trazer mais piadas, especialmente entre os membros do quarteto, que se provocam.
"McCann" Documentário suaviza polêmicas
Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 24/05/08
CLARA FAGUNDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um ano após o desaparecimento de Madeleine McCann, os pais da garotinha inglesa recebem a GNT. Parecem sóbrios, anestesiados, prontos para gravar mais um capítulo da campanha incessante para encontrar a menina, vista pela última vez em Portugal, dias antes de completar 4 anos. Em casa, os médicos Gerry e Kate McCann acumulam caixas de cartas sobre o caso: doidas, cruéis, boas idéias. Nenhuma levou à menina. A busca por Madeleine tornou-se uma luta feroz entre a polícia, a imprensa e os pais, suspeitos oficiais do desaparecimento desde setembro. Tablóides ingleses e portugueses publicaram reportagens sugerindo que os McCann mataram a filha e encobriram o caso. A trégua veio em forma de acordo extrajudicial, com pedido público de desculpas e doação ao fundo para encontrar Madeleine -que também paga despesas da família. Sempre na trincheira dos pais, a GNT suaviza pontos polêmicos. Não ouve testemunhas, a polícia, os jornalistas que reproduziram especulações precipitadas, o luso-britânico Robert Murat -declarado suspeito pela imprensa e só depois pela polícia. O resultado, monocórdico, decepciona.
O DESAPARECIMENTO DE MADELEINE MCCANN
Quando: hoje, às 20h
Kaufman estréia como diretor em trama "teatral"
Primeiro longa de famoso roteirista tem como protagonista Philip Seymour Hoffman, que interpreta diretor teatral
SILVANA ARANTES
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Anime causa revolta entremuçulmanos
A produtora APPP Company do Japão teve de pedir desculpas a todos os muçulmanos do mundo pelo conteúdo do anime Jojo no Kimyo na Boken (As Bizarras Aventuras de Jojo), em que seguidores religiosos são apresentados como terroristas. O mangá que deu origem à série tornou-se ainda mais conhecido depois de ser citado na série de TV Heroes, da rede americana NBC - seu personagem mais popular, Hiro Nakamura, é fã das aventuras de Jojo. A animação, que ainda rendeu um game, causou diversos protestos em fóruns online, além de receber a condenação da maior autoridade religiosa sunita, Al Azhar, no Cairo.
Outras mostras revelam seleção bem atraente
A Quinzena dos Realizadores recebe nomes como Jean-Marie Straub, Jerzy Skolimowski e Albert Serra
Luiz Carlos Merten, Cannes
Alguns dos melhores filmes desta edição do Festival de Cannes estão passando em outras mostras que não a competitiva. A Quinzena dos Realizadores, por exemplo, abriga uma seleção muito atraente. Além de Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, a Quinzena também mostrou Le Genou d?Artemide, de Jean-Marie Straub; El Cant des Ocells, de Albert Serra; e Cztery Noce Z Anna (Quatro Noites Com Ana), de Jerzy Skolimowski. A Quinzena pode não ter selecionado os filmes desse jeito, mas está fazendo um arco desde os anos 60 até os 2000.
Mais informações no blog do Merten
Straub surgiu no novo cinema alemão, ao qual legou um de seus mais belos títulos (o melhor?) - A Crônica de Ana Madalena Bach. Depois, em outros países - na Itália, principalmente -, ele desenvolveu em parceria com Danièle Huillet uma obra cujo rigor nunca será suficientemente exaltado - Sicília! é um exemplo perfeito. Após a morte de Danièle, Straub assina seu primeiro filme sozinho. O Joelho de Artemide retoma a cultura erudita num cinema que radicaliza o experimento sem perder a fascinação da humanidade.
Jean-Marie Straub trabalha os mitos. Skolimowski, o ex-enfant terrible do cinema polonês, que os críticos comparavam a Jean-Luc Godard, fala de sua geração e da própria linguagem - do que e como ela mudou nos últimos anos.
Albert Serra, o mais jovem de todos, é outro que adora revisar os mitos. Há dois ou três anos, ele já veio a Cannes - e concorreu à Palma de Ouro com Honor de Caballeria, uma revisão do mito de Dom Quixote, de uma dureza, mas também de uma beleza, de cortar o fôlego. Serra é de Barcelona. Músico, fotógrafo, cenógrafo, roteirista e romancista, diretor, é um multiartista, mais do que um artista multimídia. El Cant des Ocells, ou O Canto dos Pássaros, recria outra história clássica, a dos Três Reis Magos. Como no filme anterior, no qual não temos todo o Quixote, mas um fragmento magnificamente filmado (e com um impressionante uso do som), O Canto dos Pássaros também retoma a história bíblica para discutir os temas da busca e da descoberta - do conhecimento. Os cinéfilos de carteirinha vão amar.
CDs perdem espaço no Reino Unido
Pela primeira vez na história, os músicos britânicos faturaram mais com a execução de suas músicas em rádios e na TV do que com a venda de CDs, anunciou a MCPS-PRS, entidade de direitos autorais musicais no Reino Unido. Segundo dados da entidade, foram movimentados no ano passado 562 milhões de libras pelo setor, no total. Desses, 155,5 milhões de libras são resultado de vendas a rádios, TVs e internet. A venda de produtos físicos - CDs e DVDs - representa 151,8 milhões de libras do total, 1% menos que no ano anterior. O restante dos rendimentos veio de execuções em lugares públicos e vendas para o exterior.
Edward Mãos de Tesoura revela simpatia de Burton por excluídos
Ubiratan Brasil
Criado por um inventor, que morre sem completar sua obra, Edward é um ser que tem o rosto branco e mãos de lâminas de tesoura. Apesar de habilidoso na escultura, ele não pode tocar nenhum ser vivo sem feri-lo - a não ser para aparar pêlos e cabelos. Ele vive sozinho no castelo gótico de seu inventor até ser descoberto por uma vendedora de produtos Avon, que resolve levá-lo para casa. Lá, Edward tanto se apaixona pela filha da mulher como acaba acusado de crime pela população local.
Os fãs do cinema de Tim Burton já sabem que se trata de Edward Mãos de Tesoura, um de seus mais adoráveis trabalhos que será exibido pelo Telecine Cult, às 22 horas. Cineasta dos excluídos, Burton conseguiu com esta fábula uma de suas melhores produções sobre as dificuldades em se aceitar o que é diferente. Desde a interpretação do elenco (com Johnny Depp à frente vivendo uma espécie de doce Frankenstein) até a música de Danny Elfman, o filme é uma agradável opção.
Sua estética de fábula contrasta com a secura de Sweeney Tod, mais recente filme de Burton, um musical sanguinolento que foi pouco compreendido, mas que revela, novamente, sua preferência pelos excluídos e oprimidos.
Che, resistência sem perder a ternura
Mesmo com quase 4h30 de duração, obra de Steven Soderbergh sobre o guerrilheiro atraiu e seduziu um público enorme
Luiz Carlos Merten, CANNES
Steven Soderbergh trouxe um historiador, Jon Lee Anderson - biógrafo de Ernesto Che Guevara -, para a coletiva de seu filme sobre o mítico guerrilheiro cubano-argentino. Che divide-se em duas partes. Na primeira, é selada a aliança de Che e Fidel Castro, começa a campanha que, a partir de Sierra Maestra, conduz a Havana e ao triunfo da revolução contra Fulgencio Batista, entremeada de cenas em preto-e-branco que simulam um documentário sobre o Che na assembléia-geral das Nações Unidas (e defendendo a revolução junto a intelectuais norte-americanos). A segunda parte concentra-se na campanha boliviana. A primeira é épica, a segunda, centrada no fracasso, acentua as crises de asma que consumiam a figura real. Por detrás do mito, Soderbergh busca o homem.
Anderson disse que existem vários Ches Guevaras. Para os países ricos, do chamado Primeiro Mundo, ele é um item de consumo, uma t-shirt que os jovens, principalmente, consomem como a de qualquer outro ídolo da cultura de massas. Para os países do Terceiro Mundo, e especialmente os da América Latina, Che é um ícone da luta revolucionária e da resistência à opressão imperialista. O Che não sai de moda, assinala Anderson, e ele acha que sua importância não fica diminuída - pelo contrário - pelo fato de os representantes das classes oprimidas estejam chegando ao poder democraticamente, pelas eleições, sem derramamento de sangue. Ele poderia citar Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil e Evo Morales, mas não o fez. Generalizou.
Soderbergh citou Morales. Che foi um precursor, pregando, há 40 anos, uma luta que os camponeses e índios bolivianos não apoiaram porque, de certa forma, ainda não tinham consciência de sua força. É uma frase do filme - quase no fim da segunda parte, o Che, derrotado, faz sua autocrítica, mas também diz que, quem sabe, no futuro, as massas bolivianas não se levantarão em nome de mudanças radicais? O futuro, na coletiva, ele deixa subentendido que chegou, o que relativiza a crônica do fracasso na segunda metade de seu filme. Che termina, aliás, com um plano enigmático que é bom não antecipar, mas com certeza terá de ser objeto de análise na estréia do filme.
Havia gente pelo ladrão para ver Benício del Toro - impressionante - na pele do Che, na quarta-feira à noite. Simultaneamente à sessão de imprensa, realizava-se, no Palais, a de gala, com direito a tapete vermelho. Che tem exatamente 268 minutos, quase 4h30 de duração. Passou em duas partes, e no meio a empresa produtora - a Warner França, que concordou em financiar o filme falado em espanhol - distribuiu sanduíches e água aos jornalistas de todo o mundo. O filme deixa uma impressão estranha. A primeira parte, a épica, é para cima e tem cenas de um western em que os mocinhos ganham. A segunda, a do fracasso - mesmo que relativo -, é para baixo e o herói trágico, demasiadamente humano, morre por seus erros, mas sem transigir com sua dignidade. Soderbergh disse uma coisa interessante - que não é preciso compartilhar as idéias do Che para reconhecê-lo como um dos grandes personagens do século 20 e o seu idealismo, a sua luta pela melhoria do ''outro'', como um marco da consciência humana.
Narrado quase como um documentário reconstituído, sem outras cenas íntimas que não aquelas que se referem ao personagem político - Che faz cinco filhos, mas não existe uma cena ''romântica'' -, o filme desconcerta justamente na segunda parte, que parece burocrática (como narrativa), mas que é a melhor, segundo Soderbergh. Ele não fez um filme respeitoso com o mito (ponto a seu favor). Soderbergh admira o personagem, mas falta alguma coisa - o quê? A paixão? Rodrigo Santoro, rapidamente entrevistado pelo Estado - ele faz o hoje presidente Raúl Castro -, amou a humanidade do Che de Soderbergh e disse que compartilhar da equipe montada pelo diretor, formada por técnicos e artistas de todo o mundo, foi como compartilhar o sonho universalista do Che.