sábado, 24 de maio de 2008

Kaufman estréia como diretor em trama "teatral"

Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 24/05/08
Festival de Cannes termina amanhã com premiação; hoje, são exibidos Cantet e Wenders
Primeiro longa de famoso roteirista tem como protagonista Philip Seymour Hoffman, que interpreta diretor teatral

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
O 61º Festival de Cannes exibe hoje os últimos dois títulos entre os 22 que concorrem à Palma de Ouro, a ser entregue amanhã.O francês "Entre les Murs" (entre muros), de Laurent Cantet, trata da experiência de um professor com alunos de origem imigrante, baixa renda e sujeitos à violência, em Paris.O alemão "Palermo Shooting" (fotografando Palermo), de Wim Wenders, acompanha um requisitado fotógrafo alemão que abandona a fama e tenta reconstruir sua vida em Palermo, na Sicília (Itália).O roteirista norte-americano Charlie Kaufman ("Adaptação", "Quero Ser John Malkovich"), exibiu ontem seu primeiro longa como diretor, "Synecdoche, New York"."Sempre escrevo sobre o que estou pensando. Naquele momento [em que escreveu o roteiro do filme], eu estava pensando sobre como é ficar velho. Essa é a nossa batalha", disse.No longa, o diretor de teatro Caden Cotard (Phillip Seymour Hoffman) trabalha durante duas décadas na montagem do que pretende ser a sua obra-prima. A peça é um simulacro da realidade, com o qual Cotard quer refletir sobre o quanto um indivíduo é sujeito de sua própria história. Paralelamente ao trabalho, Cotard experimenta uma vida privada em deterioração, em que passa por dois casamentos e alguns funerais de parentes próximos.Kaufman enlaça as narrativas cinematográfica e teatral e adiciona elementos de absurdo na produção, que ele descreve como "monumental, com centenas de atores e sets".Padres e DeusTambém estrearam ontem o cingapuriano "My Magic" (minha mágica), de Eric Khoo, e o italiano "Il Divo" (o divo), em que Paolo Sorrentino traça um perfil feérico de Giulio Andreotti, que foi sete vezes premiê da Itália e deixou o poder sob uma enxurrada de processos criminais e a acusação de envolvimento com a máfia. "Os padres votam, Deus, não" é uma das frases com que o democrata cristão Andreotti (vivido por Toni Servillo) resume seu pragmatismo no filme.O canadense Atom Egoyan estreou na última quinta seu "Adoration" (adoração). Com uma história que mistura intolerância racial, o poder multiplicador da internet e o terrorismo pós-11 de Setembro, o filme de Egoyan dialoga com o "Che" de Soderbergh, ao indagar o que significa, nos dias de hoje, a figura de um mártir e por quais causas é legítimo morrer e matar.

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