segunda-feira, 2 de junho de 2008

Infantil maduro

Fonte: Revista Veja - 02/06/08
Com seu segundo episódio, Príncipe Caspian, a série Nárnia ganha em intriga e intensidade

Isabela Boscov

William Moseley, como um dos irmãos Pevensie: batalhas violentas – mas sem sangue

Que seria dos autores de fábulas sem recursos como o que dá mote a As Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian (The Chronicles of Narnia: Prince Caspian, Estados Unidos/Inglaterra, 2008)? No primeiro filme da série baseada nos livros do irlandês C.S. Lewis, os quatro irmãos Pevensie iam parar na terra encantada do título, da qual descobriam ser os soberanos. Nesta continuação, desde sexta-feira em cartaz no país, os Pevensie, depois de cumprirem um longo reinado, estão de volta a seu tempo e lugar originais – a Inglaterra da II Guerra. Para eles, apenas um ano se passou; mas, em Nárnia, para onde são reconvocados por um chamado mágico, algo como 1.000 anos transcorreram. Seu antigo reino está em ruínas, e seus habitantes foram quase todos dizimados pelo reino vizinho de Telmar. Aí, também, algo vai mal: um nobre usurpou o trono do herdeiro legítimo, o príncipe Caspian, e não vai descansar até tê-lo assassinado. Caspian é quem chama os irmãos de volta: sem o seu amparo e a influência que eles podem exercer sobre os narnianos remanescentes, ele não tem chance sequer de sobreviver, quanto mais de destronar o ganancioso rei Miraz (o italiano Sergio Castellitto, em grande forma). O truque da discrepância temporal – um ano numa dimensão, dez séculos em outra – faz parte do feijão-com-arroz dos autores de fantasia, e não se pode acusá-lo de originalidade. Mas aqui ele se presta a pelo menos uma vantagem: da mesma forma que os protagonistas, obrigados a olhar de frente os escombros de seu passado glorioso, também o enredo e o estilo cresceram.

A exemplo de Harry Potter, o calcanhar-de-aquiles de Nárnia está no seu elenco principal, que vai crescendo sem manifestar grande talento. Ben Barnes, que interpreta Caspian, é uma presença agradável, embora prejudicada pelas falas genéricas e pelo cabelo com jeito de quem acabou de fazer escova. Mas trata-se de pormenores: agora, a intriga pelo poder é sombria, Telmar e Nárnia têm uma questão de vida ou morte a decidir, e as batalhas são consideravelmente mais violentas (embora livres de sangue). Para o público infantil, responsável pela bilheteria estrondosa do primeiro episódio, esta seqüência parecerá um bocado mais assustadora. Mas também bem mais compensadora. Com sorte, Nárnia há de seguir Harry Potter também em outro caminho, o do amadurecimento criativo – e, quem sabe, chegar ao terceiro filme surpreendendo não só pela boa vontade, mas pela originalidade.

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