segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Épico ou cômico?

Com Beowulf, Robert Zemeckis fez uma piada ruim – e interminável

Isabela Boscov

Está batendo na porta errada quem pensa encontrar em A Lenda de Beowulf (Beowulf, Estados Unidos, 2007) qualquer coisa que explique ou justifique por que esse poema épico, uma das peças fundadoras da língua e da literatura inglesas, resistiu aos últimos 1.500 anos. Em comum com a saga do guerreiro que livra um reino escandinavo de monstros como o medonho Grendel e um dragão, o filme que estréia nesta sexta-feira no país tem os nomes dos personagens e, vá lá, uma ou outra situação. Umas poucas coincidências, enfim, complementadas por quantidades imoderadas de tolice, chatice e humor involuntário. Como já fizera em O Expresso Polar, o diretor Robert Zemeckis se vale aqui da performance capture, técnica que costuma ser usada tão-somente como auxiliar na feitura de um filme, e que só ele entende como sua principal razão de ser.

Em linhas gerais, o que a performance capture faz é pegar atores como Anthony Hopkins, Robin Wright-Penn e John Malkovich, vesti-los em macacões cheios de sensores para que as coordenadas de seus movimentos e expressões sejam transmitidas ao computador, e então transformá-los em desenho animado – processo ao fim do qual todos eles ficam mais esquisitos e canastrões, com cara de algo que sobrou de Shrek. O inglês Ray Winstone, que é um grande ator mas tem uma bela barriga de cerveja, ilustra o máximo de sucesso que Zemeckis conseguiu atingir: no papel de Beowulf, ele aparece malhadésimo (o melhor momento é a cara de ai-jesus que a rainha faz quando ele deixa cair a túnica), mas drenado de qualquer talento – uma espécie de Patrick Swayze viking. Já Angelina Jolie, como a bruxa que seduz os guerreiros, demonstra o que acontece quando se tenta retocar o irretocável.

Como agravante, A Lenda de Beowulf foi feito para ser exibido em 3D nas salas que dispõem do sistema. Toda a energia que poderia ter sido empregada na confecção do roteiro – algum roteiro – foi despendida em bolar situações em que objetos e pessoas são arremessados perpendicularmente à tela. Some-se a isso a apelação que Zemeckis confunde com sexo e violência, mais uma variedade extensa de sotaques bizarros, pretensamente arcaicos, e o que se tem não é mais uma epopéia. É uma piada, ruim e interminável.

Fonte: Revista Veja - www.veja.com.br - Acesso em: 26/11/07

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