segunda-feira, 19 de maio de 2008

O fantástico mundo em preto e branco do canadense Guy Maddin

Mudo, Brand Upon the Brain homenageia o expressionismo dos filmes alemães

Ubiratan Brasil

O canadense Guy Maddin é habitualmente chamado de diretor excêntrico - e suas estripulias visuais confirmam o epíteto. Basta lembrar de A Música Mais Triste do Mundo, exibido na Mostra de 2003 e trouxe, entre outras imagens, Isabella Rossellini com pernas postiças cheias de cerveja. Ou mesmo de Brand Upon the Brain, que será exibido hoje.

O filme, que homenageia o expressionismo alemão, conta a história de um garoto que vive, ao lado de outros meninos, preso a uma ilha. Lá, eles são aterrorizados por um cientista, que não sai de seu laboratório, e pela mulher dele, também mãe do menino, que utiliza o farol da ilha para espionar os segredos dos outros.

Não há diálogos, mas o som é tão importante quanto as imagens. É que a história é contada por uma narradora (no original, a mesma Isabella Rossellini), além de ser recheada de efeitos sonoros. Isso permite transformar a exibição em um espetáculo.É o que vai acontecer quando o filme for exibido na terça-feira, no Sesc Pinheiros, a partir das 21 horas. Lá, vai se repetir a mesma performance do Festival de Berlim, ou seja, uma orquestra e cantores líricos vão executar ao vivo a trilha sonora, enquanto a narração ficará sob a responsabilidade de Marília Gabriela.

O próprio Guy Maddin participa da trama, no papel do garoto já crescido que retorna à ilha anos depois. Ele faz isso atendendo a um pedido da mãe já moribunda, que solicita ainda que todo o farol seja pintado de branco. Mas, à medida que executa a tarefa, Maddin volta a conviver com fantasmas das pessoas que ali conviveram com ele, o que o impossibilita de realizar a tarefa.

O diretor brinca com praticamente todos os recursos que tornaram famoso o cinema, no início de sua história, como o uso da sonoridade para construir o suspense, uma edição um tanto abrupta e um roteiro que beira o absurdo, recheado por situações delirantes como o objetivo do cientista em manter presos tantos órfãos: deles, ele extrai uma pequena parcela do cérebro para elaborar um néctar precioso.

Aos 50 anos, Guy Maddin rende uma homenagem pessoal ao cinema mudo. Antes de se tornar diretor, ele estudou economia, mas, ao trabalhar em um banco, percebeu que detestava aquela rotina. Passou então a pintar casas para ganhar algum dinheiro, porém a incidência cada vez maior com que desejava que chovesse o convenceu de que aquilo também não era o que queria fazer da vida. Foi quando amigos cinéfilos o convidaram a assistir a algumas projeções de filmes - quase sempre do período silencioso - em 16 mm. Ficou fascinado, especialmente por Luis Buñuel e Erich Von Stroheim.

Com o tempo, descobriu nova influência, de David Lynch, com destaque para Eraserhead. Em pouco tempo, partiu para a prática e, em 1986, estreou com The Dead Father, iniciando uma carreira que já conta com 33 filmes, a maioria em preto-e-branco e mudos, o que lhe garantiu o rótulo de cineasta experimental.

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